Há poucos dias me deparei com um jovem sobralense que estudava
noutro Estado. Estava radiante de alegria porque acabara de se tornar Médico
(com maiúscula), como ele assegurava que seria. Indaguei-lhe sobre os planos dali
pra frente e, sem pestanejar, ele disse: “Trabalhar em cidade do interior nem
pensar. No mínimo, do tamanho de Sobral. Mas minha preferência mesmo são as
capitais”. Até concordo com ele quando justifica que a capital é o local onde
poderá capacitar-se e atualizar-se com mais facilidade na sua área. Pelo que
senti, em vez de o moço ter assimilou as palavras de Hipócrates fez mesmo foi um juramento
de hipócrita.
Assim mesmo: de hipócrita. É a
conotação que parte dos novos formados em Medicina nos últimos anos tem dado ao
belíssimo Juramento de Hipócrates, recitado na conclusão do Curso. Muitos, a
exemplo do conterrâneo, chegam também a “jurar” não estar em seus planos
exercer a profissão em pequenas localidades. E quando se fala em humanização
hospitalar - tratar mais digna e humanamente pacientes e colegas (subalternos,
principalmente) de trabalho - muitos já prenunciam ficar totalmente de fora de
uma lista que felizmente ainda conta com verdadeiros Apóstolos da Saúde.
A respeito do assunto, em
2010 foi divulgada uma Pesquisa do Conselho Federal de Medicina (CFM)
que garantiu não faltar médicos no Brasil. O estudo revelou a má distribuição
desses profissionais, principalmente no interior. Segundo dados do CFM, existem
exatos 330.825 trabalhadores em todo o território nacional e a média nacional é
de um “doutor” para cada grupo de 578 habitantes, índice próximo ao dos Estados
Unidos (411). Os dados foram coletados entre 2000 e 2009 e o estudo também
mostra uma tendência de feminilização da profissão. Ou seja: 54% dos graduados
inscritos no conselho, nos últimos nove anos, são mulheres.
Saindo de casa - Quanto à solução para essa má
distribuição, creio que inicialmente deveria sair de casa, como o futuro doutor
também. Quem recebe sólida educação cristã automaticamente se torna consciente
de que é dever de toda pessoa fazer o bem em qualquer lugar, seja qual for a
profissão que exerça. E, se formado em Medicina, deverá aprender que jamais
poderá discriminar o irmão que sofre (doente). Fora de casa, as universidades deveriam
se esmerar mais na implantação dessa filosofia. E aos governos federal,
estaduais e municipais caberia estimular mais quem se habilite a ir para
pequenas localidades. Isso seria possível com a oferta de bons salários e
infraestrutura adequada para o profissional trabalhar e morar com sua família.
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