quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Juramento de Hipócrita


Há poucos dias me deparei com um jovem sobralense que estudava noutro Estado. Estava radiante de alegria porque acabara de se tornar Médico (com maiúscula), como ele assegurava que seria. Indaguei-lhe sobre os planos dali pra frente e, sem pestanejar, ele disse: “Trabalhar em cidade do interior nem pensar. No mínimo, do tamanho de Sobral. Mas minha preferência mesmo são as capitais”. Até concordo com ele quando justifica que a capital é o local onde poderá capacitar-se e atualizar-se com mais facilidade na sua área. Pelo que senti, em vez de o moço ter assimilou as palavras de Hipócrates fez mesmo foi um juramento de hipócrita.

Assim mesmo: de hipócrita. É a conotação que parte dos novos formados em Medicina nos últimos anos tem dado ao belíssimo Juramento de Hipócrates, recitado na conclusão do Curso. Muitos, a exemplo do conterrâneo, chegam também a “jurar” não estar em seus planos exercer a profissão em pequenas localidades. E quando se fala em humanização hospitalar - tratar mais digna e humanamente pacientes e colegas (subalternos, principalmente) de trabalho - muitos já prenunciam ficar totalmente de fora de uma lista que felizmente ainda conta com verdadeiros Apóstolos da Saúde.

A respeito do  assunto, em 2010 foi divulgada uma Pesquisa do Conselho Federal de Medicina (CFM) que garantiu não faltar médicos no Brasil. O estudo revelou a má distribuição desses profissionais, principalmente no interior. Segundo dados do CFM, existem exatos 330.825 trabalhadores em todo o território nacional e a média nacional é de um “doutor” para cada grupo de 578 habitantes, índice próximo ao dos Estados Unidos (411). Os dados foram coletados entre 2000 e 2009 e o estudo também mostra uma tendência de feminilização da profissão. Ou seja: 54% dos graduados inscritos no conselho, nos últimos nove anos, são mulheres.

Saindo de casa - Quanto à solução para essa má distribuição, creio que inicialmente deveria sair de casa, como o futuro doutor também. Quem recebe sólida educação cristã automaticamente se torna consciente de que é dever de toda pessoa fazer o bem em qualquer lugar, seja qual for a profissão que exerça. E, se formado em Medicina, deverá aprender que jamais poderá discriminar o irmão que sofre (doente). Fora de casa, as universidades deveriam se esmerar mais na implantação dessa filosofia. E aos governos federal, estaduais e municipais caberia estimular mais quem se habilite a ir para pequenas localidades. Isso seria possível com a oferta de bons salários e infraestrutura adequada para o profissional trabalhar e morar com sua família.

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