A
revista francesa Charlie Hebdo publicou uma nova charge do profeta
Maomé em sua primeira edição após o trágico ataque a sua redação em Paris,
realizado por extremistas islâmicos que disseram estar "se vingando pelo
profeta" depois que charges parecidas apareceram na publicação.
A nova capa mostra Maomé
derramando uma lágrima e segurando um cartaz em que se lê "Eu sou
Charlie", uma mensagem de solidariedade às vítimas. A imagem vem
acompanhada da frase "Tudo é perdoado".
A edição
especial - com tiragem recorde aumentada para 5 milhões - gerou críticas de
líderes islâmicos e novas ameaças de morte contra seus funcionários, como
ocorreu com um jornal dinamarquês em 2005 depois de serem publicadas charges
satirizando Maomé.
Mas por que
charges desse tipo podem ser consideradas tão ofensivas?
O QUE DIZ O
CORÃO
Não há no texto sagrado dos
muçulmanos uma proibição de que sejam retratados o profeta Maomé ou Alá, o deus
islâmico.
No entanto, o verso 11 do
capítulo 42 do Corão diz: "(Alá é) o criador dos céus e da terra...(não
há) nada semelhante a Ele".
Isso é
interpretado por muçulmanos como uma mensagem de que Alá não pode ser retratado
em uma imagem feita por mãos humanas, dada sua beleza e grandeza.
Tentar fazer
isso é considerado um insulto a Alá. O mesmo é aplicado a Maomé.
Os versos 52,
53 e 54 do capítulo 21 ainda afirmam: "Abraão disse a seu pai e a seu
povo: 'O que são estas imagens a cuja adoração você se apega?' Eles disseram:
'Encontramos nossos pais as adorando'. Ele disse: 'Certamente, você e seus pais
vêm comentendo um erro'".
Daí vem a
crença islâmica de que imagens levam à idolatria - no sentido de que uma
imagem, e não o ser divino que ela representa, passa a ser o objeto de adoração
e veneração.
O QUE DIZ A
TRADIÇÃO ISLÂMICA
O Hadith - histórias das palavras
e ações de Maomé e seus Companheiros - explicitamente proíbe imagens de Alá,
Maomé e todos os principais profetas do cristianismo e o judaísmo.
De forma mais ampla, a tradição
islâmica desencoraja a retratação figurativa de criaturas vivas, especialmente
seres humanos.
Por isso, a
arte islâmica tende a ser abstrata ou decorativa.
A tradição
islâmica sunita é bem menos severa quanto a isso. É possível encontrar
reproduções de imagens do profeta, produzidas principalmente em persa no século
7.
COMO SE DEU A
POLÊMICA EM TORNO DAS CHARGES
Houve grandes
protestos no mundo islâmico em 2005 depois que o jornal dinamarquês Jyllands-Posten publicou
12 charges de Maomé junto com um editorial que criticava a autocensura.
Algumas delas
pareciam ser deliberadamente provocativas. Uma mostrava Maomé carregando na
cabeça, em vez de um turbante, uma bomba com o pavio aceso e uma inscrição da
declaração de fé muçulmana.
Muitos
muçulmanos viram as charges como uma mostra de uma crescente hostilidade e medo
na Europa contra adeptos do islamismo.
A retratação
de Maomé e de muçulmanos em geral como terroristas foi considerada
particularmente ultrajante.
Em 2011, a sede da Charlie Hebdo foi
alvo de um ataque a bomba depois de ter mudado seu nome para "Charia
Hebdo" - um trocadilho com "Sharia", ou lei islâmica - em uma
edição em que convidava Maomé para ser seu editor-chefe.
No ano
seguinte, a revista publicou uma edição com diversas charges que mostravam
Maomé nu, enquanto ocorria no mundo uma revolta generalizada com o lançamento
de um filme antiislã.
Um trailer do filme, Inocência dos Muçulmanos, colocado no YouTube, provocou
uma série de protestos e episódios de violência em vários cantos do mundo, que,
por sua vez, deixaram dezenas de mortos. (BBC)
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