
Em entrevista à Agência
Brasil, o médico especialista em reprodução humana e professor
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, João Sabino, explicou que a
técnica surgiu para ajudar casais com dificuldade para engravidar, mas hoje vai
além. Pode ser usada, por exemplo, por casais que têm algum problema genético e
querem ter um filho saudável. “Eles podem usar a fertilização para fazer uma
investigação genética nos embriões antes da transferência para o útero.”
O procedimento também pode ajudar mulheres que querem ter filhos
mais tarde. “Por exemplo em uma mulher que tem câncer e vai fazer
quimioterapia. Ela pode congelar os óvulos e fazer uma fertilização mais
tarde.”
João Sabino conta que desde o primeiro procedimento, em 1978, a
técnica avançou muito. Ele atua na área há 24 anos e constata que o controle de
qualidade e os laboratórios evoluíram, assim como as técnicas de indução da
ovulação. “Na época em que a técnica surgiu, só 5% a 10% das pacientes
engravidavam. Hoje a taxa de sucesso é até 50%”.
O médico aponta as três principais causas da infertilidade,
definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como a ausência de gravidez
após 12 meses de relações sexuais regulares sem proteção. “Em 1/3 dos casos o
problema é masculino, é importante investigar o homem para checar a quantidade
e a qualidade dos espermatozóides. Nas mulheres, os principais problemas são
alterações nas trompas e endometriose, que altera a anatomia da pélvis,”
afirma. Segundo a OMS, a infertilidade atinge de 8% a 15% dos casais em
idade fértil.
Acesso ao tratamento - A Rede Latino
Americana de Reprodução Assistida estima
que entre 1990 e 2012, 56.674 bebês brasileiros vieram ao mundo com o uso da
técnica. Em 2014, segundo o 8º Relatório
do Sistema Nacional de Produção de Embriões (SisEmbrio), da Anvisa, foram feitos
27.781 ciclos de fertilização in vitro no país.
O especialista João Sabino avalia que o número está abaixo do
necessário para atender a demanda nacional. “O tratamento é muito caro para
famílias de baixa renda. Custa entre 5 e 20 mil reais, dependendo do caso.
Hoje, 90% das fertilizações são feitas em clínicas privadas”, lamenta.
Um dos principais centros públicos de reprodução assistida do país
fica no Distrito Federal. Mais de 500 crianças nasceram no local desde 1998,
quando foi criado. “Já fizemos mais de 3 mil ciclos e ainda temos 2 mil casais
na fila”, conta a coordenadora do programa de Reprodução Humana do Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB), Rusaly Rulli
Costa. Segundo ela, apesar de a demanda ser grande, o Brasil oferece o
tratamento totalmente gratuito em poucos locais.
Rusaly avalia que o serviço público, de um modo geral, ainda vê a
fertilização in vitro como coisa para ricos.
“E não é. Não é justo que parte da população seja privada de planejar seus
filhos, pois até na Constituição está previsto o direito de planejar a
família,” avalia, lembrando que o tratamento não consta na tabela de
procedimentos cobertos pelo SUS. “Cabe às secretarias de saúde estaduais
decidir se vão oferecer o serviço, a ser financiado pelos estados.”
O centro do HMIB atende em média 300 casais por ano. “Mas no
primeiro semestre deste ano só chamamos 120 casais, não é fácil conseguir os
recursos”. O médico João Sabino explica que do ponto de vista físico, o
tratamento não dói. “Mas do ponto de vista emocional, machuca muito. Existe uma
dor psicológica forte ao longo do processo, o casal precisa ter o
acompanhamento de uma equipe médica bem preparada.”
Rusaly Rulli Costa concorda que o tratamento gera ansiedade e pode
causar frustração, pois mexe com os sonhos e desejos mais íntimos das pessoas.
“A gente prima pelo acolhimento, com uma equipe multidisciplinar. Somos
considerados classe AA no atendimento, pois o processo é extremamente
desgastante para os casais que nos procuram.” (Ag. Brasil)
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