Empresas suecas testam jornada de seis horas
Erika
Hellstron termina o trabalho no escritório às 15h30 e vai fazer uma caminhada
em uma floresta que cerca a cidade onde ela mora. A diretora de arte de 34 anos costumava ter turnos de trabalho longos e
irregulares quando trabalhava como freelancer. Agora ela trabalha para uma das
primeiras start-ups estabelecidas na Suécia a oferecerem um turno de trabalho
de seis horas por dia.
A empresa, em Fallun, região central do país, é apenas uma de várias no
país que estão testando esse novo conceito - ligado à obsessão nacional com o
equilíbrio entre trabalho e vida pessoal. "Para mim é fantástico. Tenho mais tempo livre para treinar ou para estar
ao ar livre enquanto ainda há luz ou trabalhar no meu jardim", disse
Erika.
O chefe de Erika, Jimmy Nilsson, é um dos proprietários da companhia, a
Background AB. Eles lançaram os novos turnos de trabalho em setembro como parte
dos esforços para criar uma força de trabalho mais produtiva. "É difícil se concentrar no trabalho durante oito horas, mas com
seis horas você pode se concentrar mais e fazer as coisas mais
rapidamente", disse.
Os funcionários da Background AB chegam entre 8h30 e 11h30, têm uma hora
de almoço e, depois de mais três horas no batente, já estão a caminho de casa. Foi pedido que eles evitassem as redes sociais no escritório e deixassem
telefonemas ou e-mails com assuntos pessoais para o fim do dia. E, desde o
início da mudança em setembro, os salários não mudaram.
"Vamos tentar (o turno de trabalho de seis horas) por nove meses e,
primeiramente, ver se é econômico, depois vamos ver se funciona para nossos
clientes e funcionários", afirmou Nilsson.
Outros testes
- O conceito do turno de trabalho de seis horas não é totalmente novo na
Suécia, mas em 2015 a ideia vem sendo retomada. Em um centro de atendimento da Toyota na costa oeste da Suécia os turnos
de trabalho para mecânicos já tinham sido reduzidos há mais de uma década. A
companhia registrou aumento nos lucros e manteve os turnos mais curtos.
Também ocorreram outros testes no setor público nas décadas de 1990 e
2000, mas não foi para a frente por causa de problemas políticos e falta de
dados para analisar se a iniciativa deu certo ou não.
Nos últimos meses, várias start-ups de Estocolmo seguiram o exemplo da
Background AB e estão testando os turnos mais curtos. No norte da Suécia, em
Umea, dois departamentos de um hospital também estão testando os turnos curtos
e uma unidade de cirurgia também participa da iniciativa no Hospital da
Universidade de Sahlgrenska, em Gotemburgo.
O local que ficou mais famoso pelo turno de seis horas foi um asilo no
oeste da Suécia, onde 80 enfermeiras começaram a trabalhar seis horas por dia
em fevereiro como parte de um teste de dois anos. Outros 80 funcionários de um
asilo parecido continuam trabalhando as tradicionais oito horas por dia.
"Ainda é muito cedo para tirar qualquer conclusão, mas as
enfermeiras trabalhando menos horas estão tirando menos licenças de saúde e
relatam menos estresse", disse Bengt Lorensson, consultor contratado pela
cidade de Gotemburgo para analisar os dados.
Ele afirma que o cuidado com os pacientes parece ter melhorado e os
funcionários estão organizando mais atividades como aulas de dança, sessões de
leitura em grupo ou caminhadas ao ar livre. "Agora estamos analisando os indicadores iniciais, mas podemos ver
que a qualidade do trabalho está mais alta."
Autoridades suecas e de outros países estão acompanhando o projeto e
Loresson afirma que está sobrecarregado com o interesse da imprensa global na
pesquisa que ele está fazendo. O consultor afirma que, apesar dos resultados,
ainda deve levar muito tempo até o turno de seis horas de trabalho se
transformar em regra na Suécia.
Bem mais do que seis horas
- Do outro lado do país, em Estocolmo, está Pia Webb, de 40 anos, coach de
carreiras. "Não conheço ninguém na minha área que trabalhe apenas seis horas
por dia", disse a consultora, rindo.
"Muitos dos meus clientes são diretores que acham que o trabalho é a
coisa mais importante e (depois) percebem que não passaram tempo com os
filhos."
Ela não se surpreende com o fato de os testes dos turnos de trabalho mais
curtos terem chamado tanta atenção, devido à reputação da Suécia de tentar
equilibrar trabalho e vida pessoal.
"As empresas suecas enxergam a ligação entre saúde e rentabilidade.
Grandes organizações dão direito a visitas à academia (de ginástica). Há mais
turnos flexíveis - você pode organizar sua vida em torno (dos horários) de
pegar e deixar as crianças (na escola)."
'Respeito mútuo' - Na Suécia, apenas cerca de 1% dos funcionários
trabalham mais de 50 horas por semana, uma das taxas mais baixas na OCDE (Organização
para Cooperação Econômica e Desenvolvimento), onde 13% é a média registrada.
Por lei, os suecos têm 25 dias de férias - mas muitas companhias grandes
oferecem mais. Pais têm 480 dias de licença quando têm filhos, para dividir
entre eles (entre o pai e a mãe). A maioria dos escritórios está vazia depois
das 17h. "É uma experiência muito diferente de quando trabalhei na
Grã-Bretanha e clientes queriam entrar em contato nos fins de semana e durante
a noite", disse Ameek Grewal, de 29 anos, que nasceu no Canadá e foi
transferido pelo Citibank de Londres para Estocolmo há um ano.
Ele admite que pode ser "frustrante" para as pessoas
acostumadas a turnos de trabalho mais longos ou a ter respostas rápidas de
clientes. Mas Grewal acredita que o modelo sueco traz mais benefícios. "Aqui há respeito mútuo. Eu vou esperar até começar o horário
comercial para ligar ou mandar um e-mail para meus clientes e, ao mesmo tempo,
sei que não vão me ligar quando eu estiver de férias."
No entanto, este turno mais curto não significa necessariamente menos
estresse, segundo Pia Webb. "Já vejo muitos clientes que acabam o trabalho às 16h ou 17h mas
eles acabam tentando levar os filhos para todas estas atividades, para fazer
exercício, fazer comida caseira..."
"Eles têm a casa de verão, têm o barco. Em teoria, eles têm todas
estas coisas para ajudar a relaxar - mas isso acaba se transformando em mais
trabalho para eles. É um problema muito sueco... Na teoria temos este
equilíbrio entre trabalho e vida pessoal mas, na verdade, não somos muito bons
em nos sentar e ficar sem fazer nada", afirmou. (BBC)
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