Bem-vindo à
era do envelhecimento. Habitado por mais de 800 milhões de pessoas com mais de
60 anos e por mais centenários do que a população total da Irlanda (cerca de
329 mil), o mundo está tendo que se preparar para as consequências econômicas e
sociais dessa situação.
De um dilúvio de doenças à pele flácida e à perda gradual dos sentidos, a
velhice é assombrada pela perspectiva de menos oportunidades e mais
intervenções médicas. Mas será que há um lado bom em se juntar ao grupo dos
grisalhos com mais de 60 anos?
Hoje as pesquisas científicas mais recentes sugerem que ficar mais velho
não é um processo simples de decadência, e que o auge da vida pode acontecer
mais tarde do que imaginamos. Vejamos aqui alguns benefícios do envelhecimento.
Mais inteligentes
- Não faltam gírias para descrever os efeitos destrutivos do envelhecimento no
cérebro. Mas em várias habilidades vitais, as mentes mais velhas acabam sendo
mais inteligentes.
Segundo o linguista Michael Ramscar, da Universidade de Tubingen, na
Alemanha, a ciência compreende mal a maneira como o cérebro envelhece. “O
número de neurônios no cérebro humano atinge seu auge cerca de 28 semanas
depois do nascimento, mas metade desses neurônios morre até o fim da
adolescência. Como normalmente não observamos esse período como sendo de
declínio, medir a capacidade do cérebro em termos de número de neurônios não é
um bom indicador”.
Uma das pesquisas mais abrangentes já realizadas, chamada Estudo
Longitudinal de Seattle, acompanhou as habilidades mentais de 6 mil pessoas
desde 1956, avaliando-as a cada sete anos.
Enquanto os mais velhos não se mostraram tão bons em matemática e
demoravam mais tempo para responder a comandos, eles eram melhores em aspectos
como vocabulário, orientação espacial, memória verbal e capacidade de resolver
problemas entre os 40 e 50 anos do que quando estavam na faixa dos 20.
Gary Small, que estuda psiquiatria geriátrica no Instituto de Pesquisas
Cerebrais da Universidade da Califórnia, acredita que isso se deve ao
conhecimento adquirido nesses anos a mais. “As pessoas desenvolvem uma
perspectiva maior do que é importante, e a capacidade de resolver problemas é
refinada depois de anos de prática. E há o acúmulo de certos tipos de
conhecimentos – o que chamamos de inteligência cristalizada”.
É um padrão sustentado pela biologia. Os sinais nervosos são isolados
pela mielina, um material gorduroso que envolve as terminações dos neurônios. A
substância aumenta a velocidade com que os sinais elétricos são transmitidos, e
até agora acreditava-se que era algo que se deteriorava com a idade. Não é bem
assim.
“Conforme envelhecemos, o isolamento dessas terminações aumenta, na
realidade. Os axônios disparam mais rapidamente em pessoas de meia-idade do que
em jovens. Há um pico de desempenho dessas células cerebrais nessa época”,
afirma Small.
Menos resfriados
- Não é só o cérebro que se torna mais sábio com a idade. O sistema imunológico
humano encontra milhões de perigos em potencial todos os dias, e precisa
aprender a identificá-los.
Para isso, produzimos os glóbulos brancos do sangue, que adotam a aparência molecular de milhões de invasores diferentes. Quando reconhecem um inimigo, elas permanecem nas redondezas, formando uma “memória imunológica”. Assim, da próxima vez que o vilão aparecer, o corpo poderá reagir mais rapidamente.
Segundo John Upham, pneumologista da Universidade de Queensland, na
Austrália, essa memória pode durar por muito tempo. “As pessoas que sofreram
várias epidemias têm um sistema imunológico que pode se lembrar de um vírus por
40 ou 50 anos”, explica. “É verdade que essa capacidade decai a partir dos 70
ou 80 anos, mas há uma fase, entre os 40 e 70, em que o sistema imunológico se
lembra dos vírus que apareceram ao longo dos anos.”
Essa proteção cumulativa significa menos resfriados: enquanto jovens na
casa dos 20 anos apanham um resfriado duas ou três vezes por ano, os maiores de
50 adoecem apenas uma ou duas vezes ao ano.
Mas outras defesas tendem a se enfraquecer com a idade. O corpo produz
cada vez menos novos glóbulos brancos, e elas se tornam mais lentas.
Sistemas imunológicos mais velhos
também produzem menos anticorpos – proteínas que se grudam a patógenos para
ajudar a identificá-los e eliminá-los. Mas será que isso não é algo que
pode salvar vidas?
Sobrevivendo
a surtos - A epidemia da Gripe Espanhola,
de 1918, foi a mais letal na história da Humanidade, tendo matado 50 milhões de
pessoas. Mas ela vitimou mais as pessoas entre 20 e 40 anos, tidas como as mais
fortes e saudáveis.
A gripe suína de 2009 seguiu o
mesmo misterioso padrão, com a maioria das fatalidades entre aqueles com menos
de 65 anos. Acredita-se que os vírus fizessem
o sistema imunológico de suas vítimas reagir exageradamente. Aqueles com um
sistema mais vigoroso lançaram as reações mais dramáticas e prejudiciais, o que
é conhecido como “tempestade de citocinas”.
Uma resposta imunológica saudável
depende de um feedback positivo – quando um patógeno é encontrado, os tecidos
do entorno liberam mensagens químicas, chamadas citocinas, pedindo ajuda.
Ao chegarem ao local, as células
são incentivadas a liberar substâncias também, o que faz com que novas células
sejam “chamadas”. Às vezes, essa volta foge do controle, matando células
saudáveis e levando a uma inflamação potencialmente fatal.
Ainda não se sabe o que detona as
tempestades, mas as pesquisas levaram a um novo tratamento para a gripe que age
na tempestade, e não no vírus.
Alergias
em declínio - Boas notícias para quem sofre
de alergias: enquanto as verdadeiras causas do problema ainda estão sendo
discutidas por cientistas, sabemos que todas as alergias são mediadas por
anticorpos. O principal culpado é a imunoglobulina E. Como outros anticorpos,
sua produção diminui com a idade.
Mitchell Grayson, do Hospital
Infantil de Wisconsin, afirma que quanto mais velho ficamos, menos severos
serão os sintomas. “A doença alérgica atinge seu pico na infância e tende a
diminuir na adolescência ou após os 20 anos. Aos 30, pode haver uma recaída,
mas aos 50 ou 60, os sintomas tendem a ser menos frequentes”.
Sexo
mais prazeroso - Muitos estudos também
mostraram que as pessoas mais velhas têm mais relações sexuais do que pensamos
– e elas costumam ser mais satisfatórias também.
Uma pesquisa da Faculdade de
Medicina de San Diego sobre a atividade sexual e a satisfação de mulheres com
mais de 80 anos descobriu que metade delas ainda tinha orgasmos “todas as
vezes” ou “na maioria das vezes” durante o sexo.
Outros estudos chegaram a
conclusões tão surpreendentes quanto essa – uma pesquisa com pessoas acima dos
60 revelou que 74% dos homens e 70% das mulheres reportavam uma satisfação
sexual maior do que quando tinham seus 40 anos.
Tara Saglio, psicanalista
terapeuta de casais em Londres, acredita que isso se deve ao fato de as
mulheres mais velhas terem menos inseguranças. “As mulheres mais velhas têm
mais confiança em expressar sua sexualidade. É isso o que torna o sexo melhor”,
explica.
Menos
enxaquecas - A enxaqueca também se torna um
problema menos frequente conforme envelhecemos. Um estudo da Universidade de
Gotemburgo, na Suécia, com pacientes com mais de 18 anos, descobriu que as
crises ficam mais curtas, menos intensas e menos recorrente com a idade.
Menos
suor - As glândulas sudoríparas
encolhem e se tornam menos numerosas conforme ficamos mais velhos. Uma pesquisa
da Universidade Estadual da Pensilvânia mostra que pessoas na faixa dos 20 anos
pode transpirar mais do que quem tem mais de 50 ou 60 anos.
Enganando
a morte - Ainda não se convenceu? Até
mesmo na idade avançada, a morte pode não estar tão perto quanto se espera. As
pessoas mais velhas estão mais saudáveis do que nunca e ainda têm boas chances
de continuar assoprando velinhas, segundo um estudo realizado na Dinamarca.
No período entre 2011 e 2014, a
expectativa de vida para um jovem de 25 anos foi de 84 anos para mulheres e 80
para homens, enquanto uma pessoa de 95 anos poderia esperar chegar a seu 98º
(mulheres) ou 97º aniversários (homens). Mesmo com 80 anos, as mulheres têm 95%
de chance de viver um ano a mais. (BBC)
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