A Padaria
Espiritual
Florêncio
Macedo (foto), Francisca Ângela Sousa e Iris Dayanne (*)
Antecipando
em, exatamente, trinta anos os traços modernistas de valorização da identidade
nacional e insubmissão a cultura europeia, a Padaria Espiritual, com sede no
Café Java, Praça do Ferreira, Fortaleza, Ceará, surge de forma irônica, bem
humorada e revolucionária no contexto das letras brasileiras. Mas não é só no
campo das letras que este clube irá vigorar. A exemplo de Henrique Jorge, a
Padaria Espiritual divergia das demais academias por ser academia de artes, o
que vai assemelhá-la bastante da exposição de 22, e das mais diversas artes. Ao
contemplar um estudo sobre esta agremiação devemos, sem dúvidas, dá o merecido
respaldo ao seu programa de instalação. Foi constituído com base nas características
que já mencionamos e no “calor da idade”, visto que os padeiros eram em sua
maioria jovens.
O principal
meio de divulgação foi o jornal "O Pão", que prometia, e levou, aos cearenses e
brasileiros alimento para alma, para o espírito. Como afirma o artigo 38 do
programa de instalação: “ a Padaria terá correspondentes em todas as capitais
dos países civilizados”. São tantas as características deste movimento que
poderíamos escrever páginas e mais páginas, para evitar isto,
elencaremos algumas características do programa de instalação, das leis e
normas que regiam a Padaria Espiritual
Características
Busca e
valorização da identidade nacional, seja pelo discurso, seja pelos textos
impressos (em sua maioria em versos); Crítica social, principalmente a
polícia, as freiras, as professoras ignorantes, entre outras; Desejo de formar
uma corrente de pensamento, com a busca de apoio dos principais intelectuais
das letras e artes do país e do mundo e Busca do cancioneiro popular como forma
de resgate ao folclore (saber do povo) cearense.
O contexto
histórico
Padaria
espiritual (1892 - 1898) culminou bem no centro da Belle époque,
que durou de 1871 até a eclosão da Primeira Guerra
Mundial em 1914. O que pode ser percebido em vários aspectos tanto da
agremiação em si, quanto de seus membros e peculiaridades.
A Belle
Époque foi um período de cultura cosmopolita na história da Europa.
A Belle époque foi marcada por profundas transformações culturais que se
traduziram em novos modos de pensar e viver o quotidiano.
A Belle
Époque foi considerada uma era de ouro da beleza, inovação e paz entre os
países europeus. Novas invenções tornavam a vida mais fácil em todos os
níveis sociais, e a cena cultural estava em efervescência: cabarés,
o cancan, e o cinema haviam nascido, e a arte tomava
novas formas com o Impressionismo e a Art Nouveau. A arte e
a arquitetura inspiradas no estilo dessa era, em outras nações, são
chamadas algumas vezes de estilo "Belle Époque". Além disso
"Belle Epóque" foi representada por uma cultura urbana de divertimento
incentivada pelo desenvolvimento dos meios de comunicação e transporte gerados
pelos lucros e necessidades da política imperialista, que aproximou ainda mais
as principais cidades do planeta.
Inovações
tecnológicas como o telefone, o telégrafo sem fio, o cinema,
a bicicleta, o automóvel, o avião, inspiravam novas percepções
da realidade. Com seus cafés-concertos, balés, operetas, livrarias,
teatros, boulevards e alta costura, Paris, a Cidade Luz,
era considerada o centro produtor e exportador da cultura mundial. Ir a Paris
ao menos uma vez por ano era quase uma obrigação entre as elites, pois garantia
o vínculo com a atualidade do mundo.
A cultura
boêmia imortalizada nas páginas do romance de Henri Murger, Scènes de
la vie de bohème (1848), era um referencial de vida para os intelectuais brasileiros,
leitores ávidos
de Baudelaire, Rimbaud, Verlaine, Zola, Anatole
France e Balzac. O caráter boêmio dos membros da Padaria Espiritual é
notório até mesmo em sua denominação como uma “Agremiação de Rapazes e Letras”.
A Belle
Époque, foi uma época onde ocorreram várias mudanças no mundo da arte na
Europa, fazendo com que teatros, exposições de telas, cinemas, entrassem no
cotidiano das pessoas burguesas. E somente elas tinham acesso a esse mundo da
arte.
Os Padeiros
Os membros da
Padaria Espiritual eram jovens prosadores, poetas, pintores, desenhistas,
músicos, os quais segundo o artigo 6° do estatuto da Padaria receberiam nomes
de guerra. Na primeira fase do movimento que aconteceu em 1982 ingressaram 20
padeiros sendo eles: Jovino Guedes (Venceslau Tupiniquim), Antonio Sales (Moacir
Jurema), Tibúrcio de Freitas (Lúcio Jaguar), Ulisses Bezerra (Frivolino
Catavento), Carlos Vitor (Alcino Bandolim), José de Moura Cavalcante (Silvino
Batalha), Raimundo Teófilo de Moura (José Marbri), Álvaro Martins (Policarpo
Estouro), Lopes Filho (Anatólio Gerval), Temístocles Machado (Túlio Guanabara),
Sabino Batista (Sátiro Alegrete), José Maria Brígido (Mogar Jandira), Henrique
Jorge (Sarasate Mirim), Lívio Barreto (Lucas Bizarro), Luís Sá (Corrégio Del Sarto), Joaquim Vitoriano (Paulo Kandalaskaia), Gastão de Castro (Inácio Mongubeira),
Adolfo Caminha (Félix Guanabarino), José dos Santos (Miguel lince).
No ano de
1894, a padaria foi reorganizada ingressando agora mais 14 padeiros: Antonio de
Castro(Aurélio Sanhaçu), José Carlos Júnior (Bruno Jaci), Rodolfo Teófilo (Marcos
Serrano), Almeida Braga (Paulo Giordano), Valdemiro Cavalcante (Ivan d’ Azof),
Antonio Bezerra (André Carnaúba), José Carvalho (Cariri Braúna), X.de
Castro (Bento Pesqueiro), José Nava (Gil Navarna), Roberto de Alencar (Benjamim
Cajuí), Francisco Ferreira do Vale (Flávio Bacininga), Artur Teófilo (Lopo
Mendonza), Cabral de Alencar (Abdul Assur), Eduardo Sabóia (Brás Tubiba).
Boêmios, os
padeiros não se limitavam em suas reuniões e as redações de suas
atas, divulgavam também por meio de performances em áreas públicas, como
piqueniques ou conferências. Além disso, nos textos publicados no jornal ‘'O
Pão’’, os "padeiros" tratam de assuntos diversos da vida
literária do Ceará e do Brasil, além de publicarem seus próprios textos. A
orientação geral do que é impresso no periódico é de um posicionamento
contrário à burguesia, sendo assim mais voltados para a valorização do
nacional. Os membros do grupo são, em sua maioria, jovens que não participam da
elite cearense, daí sua ênfase no combate à burguesia e na valorização do
trabalho. Juntamente com o periódico “O Pão”, foram publicado diversas obras e
livros bastante significativos para a literatura cearense e brasileira entre
elas destacaram: Phatos (1893) de Lopes Filho, Marinhas (1897) de Antônio de
Castro, Flocos (1894) de Sabino Batista, Contos do Ceará (1894) de Eduardo
Sabóia, Cromos (1895) de X. de Castro, Trovas do Norte (1895) de Antônio Sales,
Os Brilhantes (1895) de Rodolfo Teófilo, Dolentes (1897) de Lívia Barreto,
Maria Rita (1897) de Rodolfo Teófilo, Perfis Sertanejos (1897) de José
Carvalho.
(*) Trabalho apresentado pelos alunos da
disciplina Literatura Cearense, no curso de Letras da UVA, que
tinha como docente o professor Leunam Gomes.
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