sexta-feira, 8 de julho de 2016

ARTIGOS: Memórias de minha vida: meu amor, meu lugar, meu aconchego (Por Francisco Renan Andrade de Abreu*)

MEMÓRIAS DE MINHA VIDA: MEU AMOR, MEU LUGAR, MEU ACONCHEGO
(Por Francisco Renan Andrade de Abreu)
Lembranças... Recordações de uma época cheia de alegria, que até hoje não consigo esquecer. Momentos bons, únicos, que ainda sinto o friozinho na barriga e o coração a palpitar quando me pego a lembrar.

Naquele anoitecer com o brilho das estrelas que começavam a surgir no céu e o sol que acabara de desaparecer, chegou a minha singela casa, meu primeiro e único amor. Casinha simples, pequenina, com várias árvores ao seu redor e um riacho que corria manso por entre as pedras, formando pequenas cascatas de água límpida, clara, tranquila... Um lugar muito aconchegante.

Ah! Não, não consigo esquecer como era belo aquele rapaz que acabava de chegar à minha casa. Então ele desmontou-se de seu cavalo e cumprimentou meu pai que estava sentado no alpendre. Ao vê-lo tão belo e bem vestido em uma calça boca de sino e camisa justinha ao corpo senti algo inexplicável.

Os dias foram passando e eu pensava cada vez mais naquele jovem, sonhava quase todas as noites com ele e ficava a imaginar quando o veria novamente e se seria correspondida com seu amor. Papai, como todos os outros daquela época não permitia que a gente namorasse sem que ele desse a permissão.

Passaram-se uns quinze dias e novamente aquele “broto” lindo veio a minha casa e para minha surpresa logo ao chegar pediu permissão para namorar comigo. Fiquei muito emocionada e feliz. Papai conhecia muito bem a família do moço, pois nossos pais eram compadres. Diante desse fato consentiu nosso namoro. Mesmo assim, naquela época os pais não permitiam muitas intimidades entre os namorados. Ficava eu dentro de casa e ele no alpendre, conversávamos através de uma janela, onde mamãe colocava a lamparina para nos iluminar e impedir uma possível e acanhada aproximação nossa.

Assim, passaram alguns meses, e cada dia mais eu queria bem aquele rapaz, contava os dias, não, as horas para chegar os domingos, dia em que os namorados visitavam as casas das namoradas, mas tinha que chegar às 18 horas e ir embora às 21 horas.

Chegou a época em que nosso lugar ficava mais animado, com a festa do santo padroeiro, “Santo Antonio”. Aproximava-se e mamãe, como sempre muito cuidadosa e habilidosa, já preparava meus vestidos de chita com bicos bordados e fitinhas, fazendo de mim a moça mais bem arrumada e prendada da região.

Hoje, quando vejo aquela igrejinha branca construída em cima do alto do morro revivo tudo novamente. O sobe e desce dos casais de namorados, amigos, famílias nos dias de novenários, aquela algazarra. Eu no lindo vestido, florido e rodado, desfilava entre as jovens da época ao lado de meu amor que sempre querendo agradar oferecia-me prendas de leilão, principalmente as caixas enfeitadas, conhecidas como “caixas de segredo”, e depois íamos até a banca de seu Manoel tomar arico-rico, suco em pó de morango ou uva diluído em água com açúcar acompanhado de bolacha “fogosa”pão arredondado e macio. Ah! Como era deliciosa todas aquelas emoções.

Mas emocionante mesmo foi quando, Antonio, meu amor, pediu a minha mão em casamento ao meu pai. Foi em um domingo, à tardinha, chegou ele, cumprimentou papai, que, como de costume, estava sentado em sua cadeira no alpendre contemplando o entardecer. Antonio sentou-se ao lado de papai e disse que queria lhe falar algo importante. Papai, um homem sério e introvertido e ao mesmo tempo educado, pediu que começasse a conversa. Eu, muito nervosa, meu coração já quase saindo pela boca, fiquei escondida atrás da porta para ouvir a conversa. Antonio fez o pedido. Nesse momento papai chamou-me para perguntar se eu aceitaria como esposo. Não sei como cheguei ao alpendre, minhas pernas trêmulas e meu coração em êxtase de tanta felicidade, respondi que “sim”. Ficamos muito felizes e fazendo planos para o nosso futuro.

Chegou o “grande” e esperado dia, meu casamento. Minha madrinha fez o vestido, lindo, branco como a neve, com rendas, babados e mangas longas. Fiquei belíssima naquele vestido acompanhado com a grinalda de florzinha e o véu que ia até os pés.

Eu e todos os meus convidados fomos montados em cavalos para a igrejinha, que até hoje está lá no alto do morro e branquinha como o meu vestido. Uma animação só! Chegando lá, estava à minha espera meu amado noivo, acompanhado de sua família.

O padre começou a missa ao mesmo tempo em que celebrava o nosso matrimônio.

Terminado tudo, saímos de mãos dadas acompanhados dos convidados. Estávamos muito felizes e queríamos compartilhar nossa imensa alegria com os nossos amigos. Todos juntos fomos para o banquete, como se chamava as festas de casamento daquela época. No caminho para a festa, nossos amigos iam a galopear em seus cavalos e gritando bem alto para que todos ouvissem “Viva os noivos, viva os noivos.” e nós dois não nos contínhamos de tanta felicidade e ríamos da algazarra das pessoas.

Em minha casa estava aquele alvoroço. Eram mesas e cadeiras colocadas embaixo de latadas: compartimento feito de paus e cobertos com folhas para que todos se protegessem do sol do meio-dia. A comilança começou a ser servida: carne de porco, galinhas, carneiros acompanhados de arroz, macarrão, saladas e bebidas quentes - quinado, conhaque, zinebra, etc. tudo ao natural, pois não havia geladeiras ou freezer nessa época e muito menos energia elétrica. Todos numa animação só, comiam, conversavam, riam e os mais ousados já estavam ficando tontos de tanto comer e beber. A festança durou a tarde toda...

Hoje já estamos completando 40 anos de casados. Durante todo esse tempo vivemos momentos bons, momentos difíceis, mas a cada dia superamos todas as adversidades da vida. Vieram os filhos para completar a nossa felicidade, e hoje os netos nos encantam a cada dia com suas peraltices, enchendo nosso lar de muita alegria. São recordações que guardarei comigo e que serão relembradas a cada momento como se fosse um bálsamo para minha mente cansada e ao mesmo tempo feliz.

(texto baseado na entrevista feita com a Sra. Cândida Rosália de Paiva, 7 anos.)







(*) Francisco Renan Andrade de Abreu é aluno da E.E.I.F. Zacarias Cordeiro de Paulo de Reriutaba (CE). PROFESSORA: Maria Jucieda de Paiva.



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