PELADA NO CAMPINHO
Por Francisco Bruno de Brito (*)
Quase todos os dias, após terminar a aula por volta
das dezessete horas, eu e meus colegas saímos apressadamente logo que toca o
sinal, pois esse toque já soa para nós como um aviso que tá na hora de mais
umas das nossas peladas no campinho.
Gasto mais ou menos uns quinze minutos no caminho
da escola para casa e, ao chegar, logo pego a bola que está guardada no
quartinho que mamãe usa como depósito para guardar objetos que já não usamos
mais, então pego-a e saio a jogá-la contra a parede, que soando o barulho,
escuto a voz de mamãe:
Assim coloco a bola embaixo do braço e saio correndo em direção ao campinho que fica ao lado da casa de dona Raimunda, uma senhora não muito simpática, que não aprova as nossas peladas, pois algumas vezes a bola pula para seu jardim quebrando e danificando suas belas plantinhas.
Hoje, quando cheguei juntamente com os colegas ao
nosso ponto de encontro diário, percebi algo diferente: Dona Raimunda estava
feito estátua na nossa frente com um olhar meio sinistro, diabólico e esse
olhar se desfez quando viu a bola cair novamente no quintal e que nesse dia,
para nossa sorte, ou melhor dizendo, má sorte, em vez de acertar as plantas,
caiu diretamente na janela, quebrando-lhe um pedacinho.
Nesse momento, parece que o tempo parou, e, olhando
para a janela, a velha não acreditava no que tinha acontecido. Foi quando então
ela pegou a bola, entrou em casa com um semblante não muito amigável e
desapareceu das nossas vistas quando fechou a porta com força.
Foi aí que nos reunimos para planejarmos como
iríamos busca-la de volta, pois sabíamos que se contássemos para nosso pais,
eles não nos dariam outra bola e ainda levaríamos uma bela de uma bronca, pois
iriam dá razão para Dona Raimunda.
Ficamos alguns minutos pensando numa boa maneira de
como poderíamos entrar na casa sem que ela percebesse nada. Lembrei-me então
que todos os dias ela rega seu jardim que fica na frente de casa e que enquanto
ela estivesse ocupada, daria para eu entrar pela porta dos fundos e tentar
procurar a bola, e enquanto eu estivesse lá dentro, os meus colegas ficariam em
alerta, caso ela entrasse em casa eles me avisariam por mensagem no celular.
Assim, ficamos esperando a hora certa, até que ela
apareceu no jardim. Criei coragem e pulei o muro do quintal, abri lentamente a
porta da cozinha e logo de cara vi a nossa bola em cima de um armário antigo.
Peguei então uma cadeira e consegui alcançar o objeto tão desejado. Foi quando,
de repente, ouvi um ruído, fiquei paralisado que nem cena de filme de terror,
esperando a qualquer momento me deparar com Dona Raimunda, mas ainda bem que
tinha sido apenas a porta que havia batido com o vento.
Saí apressadamente e cheguei onde estavam meus
amigos, que juntamente pulamos de alegria, como se eu estivesse segurando um
troféu, mas sabíamos que toda aquela felicidade tinha um motivo: estarmos
amanhã novamente no campinho.
No dia seguinte, como de costume, após a aula
estávamos todos lá, e quando já havíamos começado a trocar passes, Dona
Raimunda apareceu, só que dessa vez não mais com aquele olhar diabólico de
antes, mas agora com um olhar de desconfiança. E o que passou pela minha cabeça
é que ela deveria tá pensando se aquela bola não seria a mesma.
Fiquei imaginando que ela deveria ter passado a
noite, e até aquele momento, querendo saber ao certo o que houve com a bola, e
foi então que mais um pensamento me veio à cabeça, já que ela não sabe o que
houve com o sumiço da bola, nem eu me atrevo a perguntar sobre a mesma e que
esse mistério fique entre ela e a bola.
E assim me pergunto quem nunca teve uma dessas
aventuras para contar, ou algum garoto da minha idade que nunca tenha
vivenciado um acontecimento tal parecido com o meu, de uns moleques que se
reúnem para jogar aquela pelada no campinho.

(*) Francisco Bruno de Brito é aluno da E. E. I. F. Zacarias Cordeiro de Paulo. De Reriutaba (CE). PROFESSORA: Antonia Denice Gonçalves de Andrade.
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