sexta-feira, 8 de julho de 2016

ARTIGOS: Pelada no campinho (Por Francisco Bruno de Brito *)

PELADA NO CAMPINHO
Por Francisco Bruno de Brito (*)
Quase todos os dias, após terminar a aula por volta das dezessete horas, eu e meus colegas saímos apressadamente logo que toca o sinal, pois esse toque já soa para nós como um aviso que tá na hora de mais umas das nossas peladas no campinho.

Gasto mais ou menos uns quinze minutos no caminho da escola para casa e, ao chegar, logo pego a bola que está guardada no quartinho que mamãe usa como depósito para guardar objetos que já não usamos mais, então pego-a e saio a jogá-la contra a parede, que soando o barulho, escuto a voz de mamãe:

- Para com essa bola menino!

Assim coloco a bola embaixo do braço e saio correndo em direção ao campinho que fica ao lado da casa de dona Raimunda, uma senhora não muito simpática, que não aprova as nossas peladas, pois algumas vezes a bola pula para seu jardim quebrando e danificando suas belas plantinhas.

Hoje, quando cheguei juntamente com os colegas ao nosso ponto de encontro diário, percebi algo diferente: Dona Raimunda estava feito estátua na nossa frente com um olhar meio sinistro, diabólico e esse olhar se desfez quando viu a bola cair novamente no quintal e que nesse dia, para nossa sorte, ou melhor dizendo, má sorte, em vez de acertar as plantas, caiu diretamente na janela, quebrando-lhe um pedacinho.

Nesse momento, parece que o tempo parou, e, olhando para a janela, a velha não acreditava no que tinha acontecido. Foi quando então ela pegou a bola, entrou em casa com um semblante não muito amigável e desapareceu das nossas vistas quando fechou a porta com força.

Foi aí que nos reunimos para planejarmos como iríamos busca-la de volta, pois sabíamos que se contássemos para nosso pais, eles não nos dariam outra bola e ainda levaríamos uma bela de uma bronca, pois iriam dá razão para Dona Raimunda.

Ficamos alguns minutos pensando numa boa maneira de como poderíamos entrar na casa sem que ela percebesse nada. Lembrei-me então que todos os dias ela rega seu jardim que fica na frente de casa e que enquanto ela estivesse ocupada, daria para eu entrar pela porta dos fundos e tentar procurar a bola, e enquanto eu estivesse lá dentro, os meus colegas ficariam em alerta, caso ela entrasse em casa eles me avisariam por mensagem no celular.

Assim, ficamos esperando a hora certa, até que ela apareceu no jardim. Criei coragem e pulei o muro do quintal, abri lentamente a porta da cozinha e logo de cara vi a nossa bola em cima de um armário antigo. Peguei então uma cadeira e consegui alcançar o objeto tão desejado. Foi quando, de repente, ouvi um ruído, fiquei paralisado que nem cena de filme de terror, esperando a qualquer momento me deparar com Dona Raimunda, mas ainda bem que tinha sido apenas a porta que havia batido com o vento.

Saí apressadamente e cheguei onde estavam meus amigos, que juntamente pulamos de alegria, como se eu estivesse segurando um troféu, mas sabíamos que toda aquela felicidade tinha um motivo: estarmos amanhã novamente no campinho.

No dia seguinte, como de costume, após a aula estávamos todos lá, e quando já havíamos começado a trocar passes, Dona Raimunda apareceu, só que dessa vez não mais com aquele olhar diabólico de antes, mas agora com um olhar de desconfiança. E o que passou pela minha cabeça é que ela deveria tá pensando se aquela bola não seria a mesma.

Fiquei imaginando que ela deveria ter passado a noite, e até aquele momento, querendo saber ao certo o que houve com a bola, e foi então que mais um pensamento me veio à cabeça, já que ela não sabe o que houve com o sumiço da bola, nem eu me atrevo a perguntar sobre a mesma e que esse mistério fique entre ela e a bola.

E assim me pergunto quem nunca teve uma dessas aventuras para contar, ou algum garoto da minha idade que nunca tenha vivenciado um acontecimento tal parecido com o meu, de uns moleques que se reúnem para jogar aquela pelada no campinho.








(*) Francisco Bruno de Brito é aluno da E. E. I. F. Zacarias Cordeiro de Paulo. De Reriutaba (CE). PROFESSORA: Antonia Denice Gonçalves de Andrade.


Nenhum comentário:

Postar um comentário