Os carros elétricos licenciados no Brasil em 2016
correspondem a 0,18% do total, segundo a Associação Brasileira do Veículo
Elétrico. Foram 3.818 nesta modalidade, contra 2 milhões de veículos novos no
total, segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores
(Anfavea).
O país ainda não produz carros elétricos e cerca de
80% dos que são importados e comercializados em território nacional utilizam
tenologia híbrida, ou seja, combinam motor a combustão com baterias elétricas.
Dos seis modelos importados, apenas um não é híbrido --- um carro de marca
Alemã com aparência de popular e preço de carro de luxo, a partir de R$ 170
mil.
Segundo a professora do Departamento de Política
Científica e Tecnológica da Universidade de Campinas (Unicamp), Flávia Consoni,
há um consenso de que o segmento só avançará se houver políticas públicas de
estímulo.
“As políticas públicas são essenciais para que
tecnologias que são de ruptura e que encontram resistências iniciais possam ser
fortalecidas e apoiadas. O caso dos veículos elétricos é um exemplo. Eles estão
disputando mercado com os veículos a combustão interna, que são majoritariamente
dominantes”, afirmou.
Ela considera que faltam estímulos, embora o país
tenha algumas iniciativas pontuais, como a Resolução da Câmara de Comércio
Exterior (Camex) 97/2015, que reduziu a alíquota do imposto de importação desse
tipo de veículo.
Em outros países, foram criadas linhas de
financiamento exclusivas para aquisição de carros elétricos com juros
diferenciados, os carros receberam isenção de taxas de estacionamentos e
pedágios, ou ainda permissão para trafegarem em áreas restritas para veículos
coletivos, segundo Flávia.
“No caso brasileiro, não há uma clara sinalização
de política pública que estimule este mercado, com a quase completa ausência de
instrumentos de promoção e de estímulo à P&D [pesquisa e desenvolvimento] e
à produção e comercialização dos veículos elétricos no país”, diz a professora.
Fomento à mobilidade elétrica - O governo federal trabalha com a perspectiva de o
Brasil chegar à convivência de diferentes trajetórias de motorização
automotiva, dentre elas a elétrica. Em janeiro deste ano, teve início o
Programa Brasil Alemanha de Fomento à Mobilidade Elétrica, em que os dois
países pretendem criar, em 4 anos, um plano para incentivar e normatizar a
mobilidade elétrica no país.
“O foco de atuação será o transporte coletivo urbano
e o transporte de cargas ponto-a-ponto, porque nesses grandes centros urbanos
onde circulam esses veículos é onde você tem um alto potencial de redução das
externalidades negativas relacionadas tanto a emissões quanto a poluição
sonora”, explica a diretora do Departamento das Indústrias para a Mobilidade e
Logística do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços, Margarete
Gandini.
O ambiente institucional favorável e com menos
incertezas favorece que a eletrificação dos ônibus ocorra antes dos demais
veículos, no entendimento da professora da Unicamp.
Entre os desafios para a implantação do veículo
elétrico no país, a professora Flávia Consoni destaca, além do custo, a questão
da sua autonomia da sua autonomia, que ficou conhecido como range
anxiety, ou o temor do motorista de, na ausência de eletropostos, ficar
impedido de concluir sua viagem por falta de bateria. Também precisariam ser
analisados os impactos ambientais e financeiros do descarte ou reciclagem da
bateria dos carros elétricos.
Transformação de carros - Para conseguir um
automóvel mais sustentável sem pagar muito mais por isso, o coronel do Exército
aposentado Elifas do Amaral apostou na ideia de transformar um carro popular
com motor a combustão em um carro totalmente elétrico. Engenheiro de formação,
ele fez a escolha que considerou mais rápida e com menor custo e investiu cerca
de R$60 mil, além do veículo, para viabilizar o projeto.
“Eu pesquisei nos sites internacionais e observei
que poderia se fazer uma transformação a partir de uma plataforma existente”,
declarou.
O carro foi transformado em 2008 precisou de poucas
manutenções desde então. Elifas adaptou sua garagem e usa a rede doméstica de
energia elétrica para abastecer o carro, com um acréscimo de R$30 na sua conta
de luz. Entre manutenção e abastecimento, o militar calcula uma economia de
cerca de 70% comparada ao carro com motor a combustão.
O carro transformado tem uma autonomia de cerca de
150 quilômetros (Km) e atinge uma velocidade máxima de 130 Km/h. Sem emissão de
gases de efeito estufa, o veículo também faz menos barulho.
Elifas ainda ressalta outras vantagens do carro
transformado. “Esse carro tem um torque praticamente duas vezes maior ao motor
original. o torque é aquela sensação que nós temos de potência do carro, quando
nós estamos largando, por exemplo, quando um sinal abre, então o veículo tem
uma boa aceleração e um resultado bastante satisfatório.”
Atualmente, a legislação já permite a transformação
de carros como a que foi feita por Elifas, mas na época em que ele fez as
modificações, foi necessário desbravar os caminhos legais para conseguir a
homologação que permitiria o uso do veículo em via pública.
Segundo o militar, muitas das conversas e reuniões
que manteve com os órgãos fiscalizadores acabaram servindo como subsídio para
que a normatização sobre o assunto viesse a existir. “Uma vez modificada essa
legislação eu me enquadrei, de forma tal, que hoje consta no documento 'veículo
movido a bateria' e [o carro] tem uma fonte interna. É um veículo 100%
elétrico”, orgulha-se. (Ag. Brasil)
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