A popularidade de um
presidente e o desempenho econômico do país costumavam andar de mãos dadas no
Brasil. Desde o primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB-SP),
líderes que conseguiram controlar a inflação e o desemprego também registraram
baixos níveis de rejeição. Como consequência, foram reeleitos ou emplacaram
sucessores.
"O voto no Brasil é muito
ligado à percepção econômica", diz Tony Volpon, ex-diretor do Banco
Central e economista-chefe do UBS no Brasil.
"Quem está feliz com a
economia, vota no candidato da situação. Quem não se sente bem, vota na
oposição. Todas as eleições a partir de 1994 têm essa lógica."
O padrão, no entanto, parece
ter naufragado com o governo de Michel Temer, segundo um estudo enviado pelo
banco suíço a investidores estrangeiros, na última quinta-feira.
"A partir de 2016, essa
correlação entre economia e popularidade do presidente se quebra no Brasil.
Houve melhora nas condições econômicas, com queda na inflação e no desemprego.
Mas o governo Temer é hoje mais impopular que o governo Dilma (Rousseff) em seu
pior momento", aponta Volpon.
Em 1998, embalado pelo sucesso
do Plano Real, FHC tinha índices de aprovação 10% maiores que os de reprovação
- e foi reeleito. Mas depois de sucessivas crises econômicas no fim dos anos
1990 e no início dos anos 2000, o apoio popular ao tucano despencou e ele não
conseguiu eleger o colega José Serra, derrotado por Lula em 2002.
Nos oito anos seguintes, mesmo
abalado pelo escândalo do mensalão, o petista conseguiu manter inflação e
desemprego em níveis baixos o suficiente para alcançar a maior aprovação já
obtida por um presidente brasileiro: 80%. Em 2010, Lula conseguiu com relativa
tranquilidade passar a faixa presidencial para Dilma Rousseff - até então uma
figura anônima para a maioria dos brasileiros.
Na semana em que Lula teve sua
pena ampliada de 9 para 12 anos, em decisão unânime de três desembargadores do
Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), de Porto Alegre, o levantamento
histórico do banco internacional sugere que a corrupção roubou a cena no país.
O fenômeno indica que, pela
primeira vez na história recente, o eleitorado brasileiro não deve se pautar
pela situação do bolso na hora de escolher um presidente em 2018.
"Os dados mostram que não
será um mero cálculo econômico que vai decidir a eleição. Corrupção e questões
não estritamente econômicas vão contar mais na cabeça do eleitor neste
ano", prevê o economista.
Denúncias contra Temer
- A tese se justifica por uma série de gráficos enviados a clientes, pelos
quais o banco aponta que o maior distanciamento entre popularidade e resultados
da economia de Temer coincide com os escândalos envolvendo o presidente e seus
principais aliados, revelados em delações premiadas de executivos da JBS.
De lá para cá, quanto mais
sinais de recuperação a economia dava, menor era a aprovação do peemedebista. "Acreditamos que as duas
denúncias de corrupção enfrentadas pelo presidente Temer no ano passado, no
Congresso, danificaram sua popularidade depois de uma curta melhora em meados
de 2016", diz o relatório da UBS.
A percepção se confirma pela
evolução das pesquisas de opinião sobre corrupção no país.
Em 1989, pouco antes da
eleição do ex-presidente Fernando Collor de Melo, 20% do eleitorado apontava a
corrupção como preocupação importante, segundo o Ibope.
No fim de 2017, com o
noticiário dominado pela Lava Jato, a corrupção se tornou a principal
preocupação para 62% dos eleitores, de acordo com o mesmo instituto.
Segundo o UBS, o novo cenário
dá fôlego aos chamados "outsiders" (candidatos de fora do ambiente
político), e seus economistas ainda não descartam uma candidatura do
apresentador Luciano Huck, classificado como eventual candidato de centro - ele
nega intenções eleitorais, apesar de aparecer bem colocado nas pesquisas.
Julgamento de Lula - Depois
de ocupar cargos em bancos em Nova York, Chicago e Londres, Volpon foi diretor
do Banco Central durante o ajuste fiscal do então ministro da Fazenda, Joaquim
Levy, durante o auge da crise do segundo governo Dilma.
Questionado sobre a nova
condenação do ex-presidente Lula, o economista-chefe do banco suíço diz que o
"mercado esperava a confirmação da decisão de Moro", mas sugere que o
ambiente de divisão política no Brasil pode tornar avaliações mais simplistas
ou equivocadas.
"O que tenho dito para
meus investidores é que não podemos ser levados por questões ideológicas",
diz Volpon.
"O Brasil, como muitos
outros países, vive um momento muito polarizado. Eu tendo a ter amigos e
contatos nos dois lados do debate e vejo diferenças muito grandes na forma que
eles narram o que está acontecendo."
Para a maior parte dos
analistas de mercado, uma eventual candidatura de Lula é avaliada como um fator
de risco para as reformas implementadas pelo presidente Michel Temer.
Volpon diz que é cedo para
especulações, e classifica Lula como "um político extremamente pragmático". "Ele sempre demonstrou
isso e sabe a diferença entre ser candidato e presidente, porque já foi os
dois", afirma.
Parte da rejeição do mercado,
para o economista-chefe do UBS, ocorreria porque a eventual candidatura do
petista não apresentou uma plataforma econômica clara, que possa ser debatida e
avaliada pelos mercados - como foi a "Carta ao Povo Brasileiro", em
que Lula buscou tranquilizar investidores, antes de se eleger pela primeira
vez.
"Quando se conversa com o
pessoal que está pensando o que poderia se tornar uma possível plataforma
econômica em um governo Lula, ouve-se, sim, críticas às reformas do governo
Temer, mas ouve-se também propostas de outro tipo de reforma da
Previdência", aponta Volpon.
"Eles não negam a
necessidade de uma reforma da Previdência, de um ajuste fiscal duradouro",
avalia.
"A ideia não parece ser 'botar fogo no
circo'." (BBC)
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