No
Nordeste, sai de viagem pelo interior, em tempo de eleição, um político de
carreira, rico, denunciado muitas vezes por corrupção, crimes prestes a
prescrever, porém ainda com mandato, que lhe assegura o imoral Foro
Privilegiado.
Chega ele com seus cabos eleitorais, a uma casa humilde, rindo e feliz, abraça e beija fortemente a dona da casa, para depois brincar e gracejar com os seus muitos filhos.
-
Alô, dona Zefinha, que maravilha a ver! Como a senhora está jovem, saudável e
bonita.
-
O senhor acha?
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Eu não acho, mas estou apenas lhe falando a verdade.
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E seu esposo Miguel, por onde anda? Está, porventura, de férias em Paris?
-
Eu nunca tive nenhum Miguel como marido. O senhor quer dizer o Pedro?
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Ah! Ele mesmo! Desculpe-me, pois confundi. É que são muitos os meus eleitores.
-
O Pedro morreu de ódio do senhor depois na última eleição. O senhor não se
lembra que quando passou por aqui e prometeu a ele mandar cavar um cacimbão em
nosso quintal? Mas parece até que se esqueceu.
-
Esqueci-me! Porém, me perdoe. O Pedro pode ter morrido para a senhora, para mim
ele ainda está vivo e viverá eternamente em meu coração.
-
Dona Zefinha, a saudade bateu. Vamos tirar um selfie? Uma foto com a senhora
bombará no Face. Eu vim aqui especialmente para lhe visitar e lhe pedir
humildemente o seu sufrágio. Hoje mesmo lhe mandarei uma cesta básica, e lhe
inscreverei no Bolsa Família. Dê-me seu sufrágio que, se eu for eleito, a
senhora não precisará mais trabalhar. E ainda irá esquecer o tempo em que foi
pobre.
-
O senhor quer o meu sufrágio sem se casar comigo? Cruz-credo!
(*) Wilson Belchior é engenheiro civil, articulista, poeta e memorialista.
(*) Wilson Belchior é engenheiro civil, articulista, poeta e memorialista.
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