sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

LITERATURA CEARENSE: Lembranças do Seminário de Sobral (Por Manoel Valdeci Vasconcelos, na Betânia 1950/1952)


Junto-me, com satisfação, ao grupo de(ex-) seminaristas que se propuseram a preservar a memória do histórico e sempre louvado Seminário São José, criado por Dom José Tupinambá da Frota.

Externei minha preocupação acerca de possível repetição de fatos. Assim, tentarei enfocar, de forma breve, à guisa de recordação, alguns desses acontecimentos, que são do conhecimento comum a todos, ou pelo menos, dos seminaristas do meu tempo; por exemplo: levantar-se rezando o TE DEUM e, à noite, ao deitar-se, o MISERERE; sair da classe em disparada, sem qualquer freio ou impedimento, como um estouro da boiada, ao som de dois toques na sineta; manter o silêncio, nas caminhadas, em fila indiana, do dormitório à capela, ou desta, para o refeitório, ou, ainda, nas visitas à Sé, ou ao Sr. Bispo, em palácio; participar dos jogos de futebol nos suetos, às quartas-feiras, com os dribles “garrinchianos” do “Frecheirinha”; a Semana da Pátria em Meruoca, quando se comemorava o aniversário (10.09) de Dom José.

Vou terminar essas pontuações, para não me tornar enfadonho, como anunciei antes, todavia, não se podem omitir os atos da Semana Santa e o julgamento simulado de Judas. Ai, sim, e o mingau ou a papa de milho servida pelo seu Pedro?

A minha chegada ao Seminário, se deu no dia 08 de fevereiro de 1950. Lembro-me bem, encontrava-se na sala de entrada do amplo Seminário, dom José, em pessoa, recebendo os seus estimados “matutos”.

“Menino véi”, acanhado, tremia medroso, quando fui arguido, por ele, com 3 ou 4 perguntas, no que julgo a haver-me saído a contento. Foi, desta maneira, que se iniciou a minha história de vida, neste Seminário – durante um período curto – nesta primeira fase, porém, por muitos anos, lá adiante, como professor da UVA.

Apesar do pouco tempo, foi nele que encontrei a sólida base sustentacular, junto com os ensinamentos hauridos, no convento dos frades franciscanos alemães, (1947-1948), em Tianguá, somados às lições primaciais absorvidas no recato abençoado e aconchegante da minha casa. Nesses recintos acolhedores e virtuosos, procurei impregnar-me dos fundamentos essenciais e indispensáveis àqueles que desejam manter uma vida digna: respeitar e seguir, na medida do possível, os preceitos cristãos, agir com firmeza e retidão de caráter, praticar a honestidade em todas as suas atitudes, guardar a consideração ao seu próximo, valorizar a disciplina e apegar-se o sentimento de justiça.

Foram desses oásis exuberantes que se abriram para mim, as perspectivas de alcançar êxito nas áreas dos estudos, no exercício profissional e nas interações sociais.

Por julgar oportuno e achar que existem afinidade e correlação entre si, me permito “data venia” transcrever alguns trechos do discurso pronunciado em 09 de janeiro de 2014, quando recebi o diploma de Bacharel em Direito e representei todos os formandos dos diversos cursos da UVA.

Existe, por dever de justiça, em ocasiões como esta, referir-se à “lembrança do prédio onde estudamos; no nosso caso, o vetusto e imponente casarão da Betânia, que em épocas passadas, abrigou o bem glorificado Seminário São José, sementeira de vocações sacerdotais, gerando quase uma centena de sacerdotes, sob o olhar vigilante e diligente de Dom José Tupinambá da Frota. A outra parte que não se ordenou padre, e que era bem mais numerosa, robustecida pela qualidade do ensino ministrado, pela aplicação contínua e séria da moral e dos princípios cristãos, ao lado de uma disciplina voltada para os bons costumes e retidão do caráter, a dignidade pessoal, o amor ao próximo e o respeito à criatura humana, se constituíram em pessoas bem sucedidas no campo das atividades que abraçaram.

Este majestoso conjunto de edifícios já nasceu predestinado por propósitos divinos para cumprir pioneiros e consagradores compromissos com dois preceitos de insuperável alcance e sublime destinação: o primeiro, foi de ordem mais específica, no labor de preparar os ministros cristãos e religiosos para o munus de pregar a palavra de Deus e apascentar as ovelhas de Cristo e o segundo, o de ser o berço da UVA, que há 46 anos ensina a trilha misteriosa que conduz os obstinados ao tesouro mágico de onde promanam os clarões resplandecentes e esplendorosos que incidem verticalmente e impõem à vista as inestimáveis e mais cobiçadas joias intituladas de: CONHECIMENTO, CULTURA E SABER”.

No discurso citado, exaltei a importância do professor e, aqui desejo homenagear com as mesmas palavras, meus inesquecíveis mestres do Seminário: Pe. Arnóbio Andrade, Monsenhor Tibúrcio Gonçalves de Paula, Pe. Joviniano Loiola, Pe. Edson Frota, Pe. Edmilson Cruz, Pe. Cardoso, Pe. Aristides Sales, Pe. Moésia Nogueira Borges, Pe. Sabino Guimarães Loyola, Pe. José Gerardo Ferreira Gomes, Pe. Francisco Sadoc de Araújo e Prof. Mariano Rocha.

Destaco “o apreço justíssimo e merecido, à pessoa do professor, do mestre obstinado, que se consome como uma vela acesa, no árduo, cotidiano e diuturno mister, de distribuir conhecimento, transferir saber, aprendizados, ideias construtivas que servirão para as atividades do cotidiano e de toda vida.  O professor é o símbolo perfeito e acabado do espírito de doação, de eterna paciência, é o anjo tutelar, estrela-guia, é a fonte cristalina, a jorrar com exuberância, a límpida água que sacia a sede do corpo, como também irriga e nutre as mais legítimas aspirações da mente e do intelecto.

Gostaria muito, de declinar os nomes daqueles colegas de quem mais me aproximara, porém, o texto já vai longo e falta espaço.

Deixo um abraço fraternal a todos aqueles que me reconhecerem através da leitura desse simples artigo.

Para agradecer a quantos contribuíram para a minha jornada, há longos anos, no saudoso e inesquecível Seminário de Sobral, valho-me da imaginação do famoso escritor e orador, Pe. Antonio Vieira, ao afirmar ser fato tão natural e simples o agradecer, que até as montanhas se enchem de voz, para praticar esta virtude.

Sabem por que as montanhas repetem, de quebrada em quebrada o eco da sua fala? É para agradecer as pródigas dádivas da natureza.

Ultimo este trabalho com um hino de louvor ao bendito Seminário nos seus 90 anos de fundação e com um gesto especial de agradecimento a todos que contribuíram para este livro em sua homenagem.





Manoel Valdeci Vasconcelos, de Morrinhos, betanista, Professor, Bacharel em Direito, Servidor Público Federal, tendo ocupado o mais alto posto da Previdência Social na região norte do Ceará. Este artigo está no livro SEMINÁRIO DA BETÂNIA AD VITAM – 65 DECLARAÇÕES DE AMOR, de Leunam Gomes e Aguiar Moura


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