"Governo é
placar, oposição é plateia." A máxima é conhecida do Congresso Nacional,
mas demorou para chegar aos ouvidos da base do governo de Jair Bolsonaro (PSL).
O conceito é
simples: a oposição usa todo o tempo a que tem direito de discurso, para tentar
atrasar ao máximo as votações.
O governo, por
outro lado, abre mão de jogar para a plateia -falar na tribuna, pedir para ter
o tempo reposto- para que as deliberações sejam mais céleres.
A frase parece
ter alcançado só nesta terça-feira (16) a CCJ (Comissão de Constituição e
Justiça), onde os deputados tentam avançar com a reforma da Previdência antes
da Páscoa.
O jogo interno
do Congresso, onde o que vale é o voto, é diferente da lógica das redes
sociais, onde ganha quem alcançar mais likes no discurso.
Foi preciso uma
derrota e a intervenção dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e da
CCJ, Felipe Francischini (PSL-PR), para que a novata base bolsonarista, eleita
em grande parte com ajuda da internet, entendesse isso.
Até a
segunda-feira (15), defensores da reforma e membros da base do governo, como
PSL e Novo, usavam todo o tempo a que tinham direito –e até mais.
A PEC (Proposta
de Emenda à Constituição) do Orçamento já era discutida havia mais de cinco
horas quando Coronel Tadeu (PSL-SP) pegou o microfone e começou a reclamar dos
líderes reunidos no canto do plenário, tentando chegar a um acordo para
acelerar os trabalhos.
"É uma
falta de respeito, o tumulto", disse, e ironizou: "Eu posso aguardar
a entrevista, a entrevista é mais importante".
Ganhou um
aliado improvável, Júlio Delgado (PSB-MG). O mineiro começou a bradar: "É
um desrespeito, presidente! Tem de suspender a sessão!". A intenção era,
obviamente, ajudar a atrasar ainda mais os trabalhos.
Na sessão de
apresentação do relatório, na semana passada, a mesma situação curiosa:
deputados da oposição encorajavam parlamentares do PSL que, sem perceber que
ajudavam a estratégia oposicionista, pediam para ter seu tempo reposto.
Ambas as
atuações são legítimas.
Faz parte do
trabalho da oposição tentar protelar ao máximo as votações que não tem número
para vencer. Afinal, é direito da minoria parlamentar fazer o que seus
eleitores esperam deles, que é evitar que projetos aos quais são contrários
sejam aprovados.
Da mesma
maneira, é cabível dentro da lógica do Parlamento que os parlamentares
governistas deixem de defender abertamente suas propostas para que elas sejam
aprovadas.
Nesta segunda,
o governo sofreu uma derrota: a PEC do Orçamento impositivo foi colocada à
frente da PEC da Previdência.
Em vez de ser
votada rapidamente, como desejava o governo, demorou cerca de sete horas para
ser votada. O dia terminou com o líder do governo na Câmara admitindo que a
reforma ficaria só para semana que vem.
A terça-feira
prometia ser tão arrastada quanto o dia anterior.
Além dos 63
deputados contrários à reforma inscritos para falar, 58 defensores da reforma
haviam se registrado para discursar. Destes, 35 eram deputados de primeiro
mandato. São necessários apenas dez discursos para cada lado, regimentalmente.
Maia chamou
líderes para a residência oficial para fazer um apelo para que a reforma seja
votada ainda nesta semana.
Simultaneamente,
Francischini e alguns aliados de Maia membros da comissão, como João Roma
(PRB-BA), faziam corpo a corpo no plenário do colegiado, tentando convencer
deputados a abandonarem seus tempos de fala ou serem sucintos.
A estratégia
acelerou a discussão: até as 17h25 desta terça, todos os deputados favoráveis à
reforma já haviam sido chamados.
Poucos falaram,
como Cacá Leão (PP-BA). Outros, como o próprio Coronel Tadeu (PSL-SP), abriram
mão. A líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), usou menos da
metade de seu tempo.
Para
comparação, no mesmo período apenas 18 da lista da oposição haviam se
pronunciado -os chamados são feitos alternadamente, um contra, outro a favor.
Francischini
agradeceu aos parlamentares: "Economizamos mais de oito horas de
debate".
Assim, a
expectativa do governo e de Maia é de que seja possível encerrar a discussão
nesta terça-feira, levando a votação da reforma para quarta.
Se isso se
concretizará, porém, não é certo. A oposição segue em obstrução, e tentará
avançar o máximo possível para jogar o debate para depois da Páscoa.
O fim da
obstrução governista, porém, demonstra que a geração bolsonarista de novatos
começa a entender e se adequar à dinâmica do Congresso, movimento essencial
para o andamento da reforma.(JB)
"Governo é
placar, oposição é plateia." A máxima é conhecida do Congresso Nacional,
mas demorou para chegar aos ouvidos da base do governo de Jair Bolsonaro (PSL).
O conceito é
simples: a oposição usa todo o tempo a que tem direito de discurso, para tentar
atrasar ao máximo as votações.
O governo, por
outro lado, abre mão de jogar para a plateia -falar na tribuna, pedir para ter
o tempo reposto- para que as deliberações sejam mais céleres.
A frase parece
ter alcançado só nesta terça-feira (16) a CCJ (Comissão de Constituição e
Justiça), onde os deputados tentam avançar com a reforma da Previdência antes
da Páscoa.
O jogo interno
do Congresso, onde o que vale é o voto, é diferente da lógica das redes
sociais, onde ganha quem alcançar mais likes no discurso.
Foi preciso uma
derrota e a intervenção dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e da
CCJ, Felipe Francischini (PSL-PR), para que a novata base bolsonarista, eleita
em grande parte com ajuda da internet, entendesse isso.
Até a
segunda-feira (15), defensores da reforma e membros da base do governo, como
PSL e Novo, usavam todo o tempo a que tinham direito –e até mais.
A PEC (Proposta
de Emenda à Constituição) do Orçamento já era discutida havia mais de cinco
horas quando Coronel Tadeu (PSL-SP) pegou o microfone e começou a reclamar dos
líderes reunidos no canto do plenário, tentando chegar a um acordo para
acelerar os trabalhos.
"É uma
falta de respeito, o tumulto", disse, e ironizou: "Eu posso aguardar
a entrevista, a entrevista é mais importante".
Ganhou um
aliado improvável, Júlio Delgado (PSB-MG). O mineiro começou a bradar: "É
um desrespeito, presidente! Tem de suspender a sessão!". A intenção era,
obviamente, ajudar a atrasar ainda mais os trabalhos.
Na sessão de
apresentação do relatório, na semana passada, a mesma situação curiosa:
deputados da oposição encorajavam parlamentares do PSL que, sem perceber que
ajudavam a estratégia oposicionista, pediam para ter seu tempo reposto.
Ambas as
atuações são legítimas.
Faz parte do
trabalho da oposição tentar protelar ao máximo as votações que não tem número
para vencer. Afinal, é direito da minoria parlamentar fazer o que seus
eleitores esperam deles, que é evitar que projetos aos quais são contrários
sejam aprovados.
Da mesma
maneira, é cabível dentro da lógica do Parlamento que os parlamentares
governistas deixem de defender abertamente suas propostas para que elas sejam
aprovadas.
Nesta segunda,
o governo sofreu uma derrota: a PEC do Orçamento impositivo foi colocada à
frente da PEC da Previdência.
Em vez de ser
votada rapidamente, como desejava o governo, demorou cerca de sete horas para
ser votada. O dia terminou com o líder do governo na Câmara admitindo que a
reforma ficaria só para semana que vem.
A terça-feira
prometia ser tão arrastada quanto o dia anterior.
Além dos 63
deputados contrários à reforma inscritos para falar, 58 defensores da reforma
haviam se registrado para discursar. Destes, 35 eram deputados de primeiro
mandato. São necessários apenas dez discursos para cada lado, regimentalmente.
Maia chamou
líderes para a residência oficial para fazer um apelo para que a reforma seja
votada ainda nesta semana.
Simultaneamente,
Francischini e alguns aliados de Maia membros da comissão, como João Roma
(PRB-BA), faziam corpo a corpo no plenário do colegiado, tentando convencer
deputados a abandonarem seus tempos de fala ou serem sucintos.
A estratégia
acelerou a discussão: até as 17h25 desta terça, todos os deputados favoráveis à
reforma já haviam sido chamados.
Poucos falaram,
como Cacá Leão (PP-BA). Outros, como o próprio Coronel Tadeu (PSL-SP), abriram
mão. A líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), usou menos da
metade de seu tempo.
Para
comparação, no mesmo período apenas 18 da lista da oposição haviam se
pronunciado -os chamados são feitos alternadamente, um contra, outro a favor.
Francischini
agradeceu aos parlamentares: "Economizamos mais de oito horas de
debate".
Assim, a
expectativa do governo e de Maia é de que seja possível encerrar a discussão
nesta terça-feira, levando a votação da reforma para quarta.
Se isso se
concretizará, porém, não é certo. A oposição segue em obstrução, e tentará
avançar o máximo possível para jogar o debate para depois da Páscoa.
O fim da
obstrução governista, porém, demonstra que a geração bolsonarista de novatos
começa a entender e se adequar à dinâmica do Congresso, movimento essencial
para o andamento da reforma.(JB)
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