
Pois bem, passando pela crítica social, seca e
terra, no começo do Estado Novo. Ou seja, no regime ditatorial de Getúlio
Vargas. O que figura no regionalismo literário é o material à vista, no passado
e na atualidade. Como fez Graciliano Ramos em Vidas Secas.
Vidas Secas, de Graciliano Ramos, é um
romance da segunda fase da prosa modernista, de caráter regional, onde se
evidencia, o tema doloroso: o ambiente ora é a seca nordestina, ora é a
situação social, ora é a exploração do homem pelo homem, pois o seu único objetivo
é a luta pela sobrevivência.
Dessa forma, a exploração do trabalho de Fabiano,
o seu personagem central, narra: “Na hora do ajuste de contas, é contestável,
pois, mesmo sabendo-se logrado, nada pode fazer”.
Assim, o Fabiano traça uma luta pela sua
própria sobrevivência, contra o clima e contra o poder arbitrário, do Governo e
do patrão. Como se sabe, hoje, o Fabiano continua sendo uma presença forte em um
país denominado pelo latifúndio, onde os trabalhadores rurais são submetidos a
condições subumanas.
Por exemplo, em 1995, o Brasil se tornou o
primeiro país do mundo a assumir perante a Organização das nações Unidas a ocorrências
de formas contemporâneas de trabalhos escravo em seu território. Mas diversas
variáveis contribuem para conceituação mais ampla dessa realidade.
Em outro exemplo, no episódio narrado, em que “Fabiano
se considera plantado em terra alheia. Comparando-se com as catingueiras”. Isso
evidencia que Fabiano não tinha sua terra para plantar. Um absurdo! Os
especialistas explicam que a grilagem está umbilicalmente ligada à corrupção. A
grilagem é um processo típico de roubo. Significa que você tem acesso a uma
terra que não é sua, mas é ocupada por grandes latifundiários e leis que
colocam em perigo as terras de pequenos trabalhadores rurais, indígenas, quilombolas
e demais territórios tidos como reservas legais, parques e outros.
Uma das questões em Graciliano é que isso pode
justificar seu estilo pessimista de escrever e de ver a situação social no
Brasil, mas justifica sua preocupação com o elemento humano, pois o homem é
formado, arrastado e moldado pelo meio
natural e social, que constitui o ponto da temática da obra em questão.
Diante dessas circunstancias narradas pelo
Graciliano Ramos, em um texto preciso: “Fabiano vai ganhando do seu meio social,
a crença na desvalorização da pessoa humana, elemento que é o resultado das
atividades negativas com que aprendeu a conviver: trabalho duro no Sertão, sem
terra para plantar, gente que só sobrevive desorientada para seu próprio valor”.
Portanto, o latifundiário é um homem insensível
e alheio aos problemas sociais, trata os empregados como coisas, assim como as
pessoas, que também são objetos de dominação. Os valores humanos para eles não
tem importância, e o valor de cada pessoa é por ele determinado: ao chagar a partilha,
estava declarado, e na hora, davam-lhe uma ninharia.
Aqui
interessa-nos retomar alguns aspectos das leis com o latifúndio. Afinal, são
leis em abismo, a primeira legislação que versa sob o direito à terra no Brasil
é de 1850, período do segundo reinado do Império. A lei de terras, ou em poder
do império, só seria ocupada, mediante compra e venda, ou mesmo doação do Estado.
A ideia era impedir que negro, na iminência de serem libertos por uma pressão
internacional, passem a ter direito sob a terra onde viviam.
Já em 1964, sob a ditadura militar, surge o
estatuto da terra, que visava estabelecer uma ocupação burguesa da terra, com
médias proprietárias. Segundo o economista Guilherme Delgado define, o estatuto
foi feito para inglês ver, ele nunca foi levado em conta pelo regime militar.
Com a constituição de 1988, é instituída a
função social da propriedade. Ela aponta que mesmo as terras privadas só estão
resguardas caso apresente padrões de produtividade, ambientais e trabalhistas e
atenda as demandas da sociedade como um todo.
Mas o que se ver é o privilegio e exclusão, o
capital internacional, do capital financeiro e o latifúndio da política: o avô
é senador, o pai é deputado federal e o filho deputado estadual.
É com base nisso que se deve nortear o
regionalismo de Graciano Ramos, que contempla os estragos deixados pelo passado
e os destroços do presente progresso. Aí está em causa, a tradição literária
brasileira, quer dizer, produz as mais espontâneas reações humanas diante da
realidade, que o governo atual, se projeta nas contradições políticas. Nelas, o
pitoresco cresce na medida, que cresce a tensão do discurso do presidente e de
seus ministros.
No Brasil, sempre existiu uma aberração
política, gerada pela história do capital. Mas felizmente, a questão da
literatura brasileira continua sendo hoje aquela que o velho escritor
nordestino, formulou ainda nos anos 30: pode um carregador de enxada filosofar
na literatura? Considerada um instrumento do processo civilizatório nas
situações sociais brasileiras.
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