Daí por que era por demais iterativo, sempre perguntando ao seminarista que ia ajudá-lo na celebração da missa:
- Menino é como que matuto,
- Como cabra, Senhor Bispo.
- Só dá leite – redarguia o
Antístite.
- Quando se bate, D. José.
Arguto
psicólogo, D. José percebia o grau de malandragem do jovem, sua natural
tendência para a brincadeira, para a algazarra, para a folia, para a
irresponsabilidade. Creio mesmo que, à parte o desempenho de seus padres nas
paróquias, o que mais o enervava era seu Seminário. Tanto assim que o
frequentava amiúde para alegrar-nos com um feriado de sineta ou para
presentear-nos uma lata de bombons, ou ainda para aperfeiçoar nossa formação
com uma conferência, o que sempre ocorria às caladas da noite, na capela. Dali saíamos para o dormitório, bastante
arrepiados, a meditar os casos escabrosos que nos transmitira, óbvio, como
medida preventiva própria de seu desvelo.
Entre
D. José e seus seminaristas havia uma espécie de simbiose. Destes não arredava
o pé. Nas visitas pastorais era acompanhado, inclusive, por dois alunos do
Seminário. E, diariamente, um pernoitava em Palácio para ajudá-lo na celebração
da missa.
Nas saídas a
Sobral, sábado à tardinha, para visitar uma igreja de Nossa Senhora, a
seminarista da sempre demorava no Palácio Episcopal. Ali já nos esperava o
Senhor Bispo, naquela ampla sala que dava para o nascente. Sentado numa rede
avarandada que balançava com auxílio de uma vara para afugentar o calor,
recebia-nos tal um carinhoso avô a caducar com os netinhos. Após as costumeiras
perguntas em que, didaticamente, assemelhava menino a cabra, procurava conhecer
os novatos, deles indagando a terra natal, a família e tratando-os carinhosamente.
Então mandava trazer uma lata de guloseimas para alegrar-nos mais.
Dirigindo-se
aos veteranos, a todos advertia naquele afã de desdobramento estudantil: “Não quero ver notas abaixo de sete”. E dava continuidade ao interrogatório:
- Matuto, da tri-secular Viçosa, o que trouxe
você para o Museu?
- E
você – gracejava com outro – é
casado, solteiro ou tem vida irregular?
- Você é maçom? - O que diz o
povo a seu respeito?
Como
que referendando a bela iniciativa e o alto descortino de seus superiores – seu
genitor e o Arcebispo da Bahia D. Jerônimo Tomé da Silva – que o mandaram a
Roma, com apenas 16 anos, para concluir seus estudos preparatórios ao
sacerdócio, D. José procurava selecionar seminaristas talentosos para
encaminhá-los ao Colégio Pio Latino-Americano e à Pontifícia Universidade
Gregoriana. Assim ocorreu com o mártir D. Expedito Lopes e com os padres José
Lourenço e Albany – os três já na Casa do Pai – e também com os Monsenhores
Sadoc, Manfredo e João Batista Frota.
Francisco Silveira Sousa, de Viçosa do Ceará – Texto extraído do livro SEMINÁRIO DA BETÂNIA – AD VITAM – 65 DECLARAÇÕES DE AMOR, de Leunam Gomes e Aguiar Moura – Edições UVA- 2015.
Nenhum comentário:
Postar um comentário