sexta-feira, 14 de junho de 2019

LITERATURA CEARENSE: Dom José e seus seminaristas (Francisco Silveira Souza - Na Betânia de 1948 a 1954)

D. José tinha em grande conta o Seminário São José que fundara a 25/fev/1925. Tratava-o com o cuidado que dispensava à menina de seus olhos. Queria vê-lo funcionando sobre carretéis, ou seja, em absoluta conformidade com a boa disciplina e os mais alcandorados princípios da fé católica, da moral e da educação. 

Daí por que era por demais iterativo, sempre perguntando ao seminarista que ia ajudá-lo na celebração da missa:
            - Menino é como que matuto,
            - Como cabra, Senhor Bispo.
            - Só dá leite – redarguia o Antístite.
            - Quando se bate, D. José.

Arguto psicólogo, D. José percebia o grau de malandragem do jovem, sua natural tendência para a brincadeira, para a algazarra, para a folia, para a irresponsabilidade. Creio mesmo que, à parte o desempenho de seus padres nas paróquias, o que mais o enervava era seu Seminário. Tanto assim que o frequentava amiúde para alegrar-nos com um feriado de sineta ou para presentear-nos uma lata de bombons, ou ainda para aperfeiçoar nossa formação com uma conferência, o que sempre ocorria às caladas da noite, na capela.  Dali saíamos para o dormitório, bastante arrepiados, a meditar os casos escabrosos que nos transmitira, óbvio, como medida preventiva própria de seu desvelo.

Entre D. José e seus seminaristas havia uma espécie de simbiose. Destes não arredava o pé. Nas visitas pastorais era acompanhado, inclusive, por dois alunos do Seminário. E, diariamente, um pernoitava em Palácio para ajudá-lo na celebração da missa.

Nas saídas a Sobral, sábado à tardinha, para visitar uma igreja de Nossa Senhora, a seminarista da sempre demorava no Palácio Episcopal. Ali já nos esperava o Senhor Bispo, naquela ampla sala que dava para o nascente. Sentado numa rede avarandada que balançava com auxílio de uma vara para afugentar o calor, recebia-nos tal um carinhoso avô a caducar com os netinhos. Após as costumeiras perguntas em que, didaticamente, assemelhava menino a cabra, procurava conhecer os novatos, deles indagando a terra natal, a família e tratando-os carinhosamente. Então mandava trazer uma lata de guloseimas para alegrar-nos mais.

Dirigindo-se aos veteranos, a todos advertia naquele afã de desdobramento estudantil: “Não quero ver notas abaixo de sete”.  E dava continuidade ao interrogatório:
            - Matuto, da tri-secular Viçosa, o que trouxe você para o Museu?
            - E você – gracejava com outro – é casado, solteiro ou tem vida irregular?  - Você é maçom?  - O que diz o povo a seu respeito?

Como que referendando a bela iniciativa e o alto descortino de seus superiores – seu genitor e o Arcebispo da Bahia D. Jerônimo Tomé da Silva – que o mandaram a Roma, com apenas 16 anos, para concluir seus estudos preparatórios ao sacerdócio, D. José procurava selecionar seminaristas talentosos para encaminhá-los ao Colégio Pio Latino-Americano e à Pontifícia Universidade Gregoriana. Assim ocorreu com o mártir D. Expedito Lopes e com os padres José Lourenço e Albany – os três já na Casa do Pai – e também com os Monsenhores Sadoc, Manfredo e João Batista Frota.   








Francisco Silveira Sousa, de Viçosa do Ceará – Texto extraído do livro SEMINÁRIO DA BETÂNIA – AD VITAM – 65 DECLARAÇÕES DE AMOR, de Leunam Gomes e Aguiar Moura – Edições UVA- 2015.


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