Muitos de nossos escritores,
como Mário de Andrade e Menotti Del Pichia, comungaram com Oswaldo de Andrade
do desejo de garantir fidelidade às raízes, ao mesmo tempo em que se procurava
acompanhar os passos das vanguardas europeias. O mesmo se dava em nossos países
vizinhos: Jorge Luiz Borges, com seu altruísmo e Vicente Huidobro, elaborando o
seu cristianismo, cada um ao seu modo e de maneira distinta do modernismo.
Mas
com os mesmos propósitos: fazer com que a Europa deixasse de ser o ponto de
referência da América Latina. Os sucessos que lhes vieram, facilitaram,
portanto, a pergunta no ar: quem vem de lá do Nordeste? O regionalismo da prosa
nordestina. E veio para ficar.
Com o passar do tempo, esses
escritores vanguardistas, continuaram, ao longo de suas vidas, buscando a
renovação da literatura latino-americana, para torná-la mais fontes de influências
regionais. Influências não só mais nas paisagens ou nos costumes, mas na
maneira antropofágica de escrever, elegendo a palavra como o instrumento de uso
da comunidade regional.
Portanto, os aspectos da
técnica moderna no processo literário tradicional. Não poderiam deixar de
conter esse registro histórico tão fundamental e dispensável, para que se possa
compreender melhor a trajetória do regionalismo literário nordestino. Assim,
com esse dimensionamento artístico, os romancistas nordestinos criaram uma
província para dentro dela, construir universo literário.
Portanto, bem no meio das caatingas
do Nordeste a forma de expressão introduzida pelos modernistas ganhou equilíbrio,
tornando-se cada vez mais um instrumento de pesquisa da realidade nacional,
destaca-se, então a grande prosa regionalista, que procurou, além de mostrar a
realidade brasileira, aproximar a linguagem literária do povo, incorporando os
termos regionalistas, marcados principalmente pelo sofrimento nordestino.
Assim, a prosa regionalista
nordestina, tem grandes nomes, como Jorge Amado, José Américo de Almeida, José Lins,
Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, entre outros, que vieram construírem
romances de caráter universal.
Portanto, a prosa regionalista
instaura uma escrita tão convincente e eloquente que possibilita os novos
escritores, a elegerem traços da realidade nordestina, que se adéquam muito às
situações regionalistas, como, o sol, o mar, o sertão, a miséria, o latifúndio,
a política, a religião e o povo, que estão sempre presentes, na linha
regionalista, neste nordeste achatado, empilhado, onde miramos nossas
possibilidades e projetamos nosso futuro.
Neste sentido, o horizonte se
desloca, e surgem grandes romances nordestinos, que lembram o neorrealismo de 30.
Entre outros autores, estão, Lêdo Ivo e Josué Montello. Nada de experimental na
forma do contar, especificamente na linguagem estética, ou de uma reviravolta
temática, pois o leitor busca mesmo é uma boa história. E elas estão aí.
Sem dúvida alguma, talvez o
que chama atenção para o leitor, é a denúncia dessa gente excluída e abandonada
numa condição que parece crônica, porque sempre protelada, sempre maquiada e
macaqueada. Desde quando? Até quando? É uma história, que está retratada na
literatura regionalista, que permanece em nossa mente e nos inquieta. Com suas quase
voltas no tempo, os novos autores reacendem a questão: é retrógrado falar de
coronelismo? Esse glutão lascivo, chamado de nordeste.
O regionalismo literário
nordestino ainda pergunta o que provoca outras ainda mais pertinentes: teriam
acaso sumido para sempre as práticas simbólicas de comunidades inteiras que
viveram ou vivem no sertão nordestino, só porque uma parte da região entrou no
ritmo da indústria e do capitalismo internacional. Então, é lícito ao escritor
que nasceu e cresceu no nordeste, o direito de recriar o imaginário do povo de
sua terra pela consciência crítica.
Sem citar nomes, já nasceram
outros novos bons escritores regionalistas, que contam histórias do brutalizado
nordestino, com suas famílias, às voltas com uma natureza que só por pouco
tempo mostra-se dadivosa, mas a maior parte do tempo cruel: é a seca
avassaladora. Mas os maiores problemas não vêm daí, vêm do entorno de uma sociedade
dividida, segmentada em quem tem, e quem não tem, permeada de preconceito, de intolerância
religiosa e corrupção política.
E mais: gente que morre desamparada,
alargada ao verme e à desgraça pelo poder público, mas quer continuar lutando
pelo fôlego da firmação vital. Neste sentido aprenderam bem a lição de Graciliano
Ramos: o problema sai do terreno do Fado ou da natureza, para tornar-se um
problema social, um problema político.
Enfim, a população sofrida,
que está lançada à miséria, nem conhece o seu prefeito, conivente com o
populismo canalha, que não sabe, muitas vezes, expressar toda a dimensão de sua
dor. Essas são as razões que fundamentam e validam de se ler os belos livros,
dos nossos escritores regionalistas nordestinos, principalmente os dos autores
cearenses que continuam tendo piedade do povo, fazendo o povo nordestino
pensar;
Jornalista, Historiador e
Crítico Literário
Jornalista, Historiador e
Crítico Literário
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