terça-feira, 26 de janeiro de 2021

No dia 10 de janeiro de 2021, o Japão notificou o Brasil de que quatro viajantes com sintomas de covid-19 que desembarcaram em Tóquio vindos do Amazonas estavam infectados com uma nova variante do Sars-CoV-2.

Segundo as autoridades sanitárias japonesas, a nova cepa continha 12 mutações, entre elas uma alteração na proteína que permite a entrada do vírus nas células humanas — e que foi observada em novas linhagens identificadas no Reino Unido e na África do Sul possivelmente mais contagiosas.

O Brasil sequenciou em tempo recorde o primeiro genoma do coronavírus que circulava no país — cerca de 48 horas após a confirmação do primeiro caso, em 26 de fevereiro.

Quase um ano depois, o país tem estrutura e pessoal qualificado, dizem os cientistas, mas não possui recursos para fazer uma vigilância genômica que acompanhe em tempo real as mutações do vírus.

O virologista Felipe Naveca, pesquisador do Instituto Leônidas & Maria Deane (ILMD/Fiocruz Amazônia), referência na análise genômica no Amazonas, onde foi identificada a variante que tem preocupado especialistas, afirma que não existe uma rotina diária de sequenciamento genético na região.

"Para fazer isso teríamos que ter uma equipe dedicada só ao sequenciamento, com automação e investimentos muito maiores do que há hoje", diz ele.

"Caso contrário, todo o recurso acabaria em 3 meses, quando a nossa proposta é sequenciar durante o maior tempo possível e mostrar as mudanças ao longo desse tempo."

Em paralelo ao processamento de diagnósticos de testes de PCR, também feito no instituto, a equipe sequencia 96 genomas de alta qualidade a cada duas ou três semanas.

A África do Sul, que tem cerca de um quarto da população brasileira e tem sido considerado um exemplo bem sucedido de vigilância, sequencia entre 50 e 100 genomas de coronavírus por semana.

O Reino Unido faz cerca de 10 mil sequenciamentos por semana e se prepara para dobrar esse número nos próximos meses. O país tem de longe a maior capacidade de processamento, respondendo por cerca de 200 mil entre os 400 mil genomas compartilhados por cientistas de todo o mundo na plataforma Gisaid.

Concorrência entre sequenciamento e exames de PCR

Não existem dados consolidados sobre o volume sequenciado por semana no país ou a capacidade de processamento.

Existem algumas iniciativas que caminham em paralelo — uma delas é a rede genômica da Fiocruz, que conta com instituições em 11 Estados e analisa amostras de todo o país.

A chefe do Laboratório de Vírus Respiratórios e Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), Marilda Siqueira, que atua como Centro de Referência Nacional em vírus respiratórios junto ao Ministério da Saúde, afirma que os laboratórios da rede têm realizado sequenciamentos desde o início da pandemia — uma expertise que vem em parte da vigilância genômica do vírus influenza feita há anos pelo grupo.

Dada a gravidade da pandemia no país, entretanto, o trabalho tem muitas vezes de ser dividido com o processamento de exames diagnósticos de PCR - por isso o volume de análises genômicas é inferior ao que as equipes desejariam.

Ainda assim, ressalta Marilda, o Brasil responde por cerca de 2,4 mil dos 5 mil genomas do Sars-CoV-2 cadastrados pela América do Sul na plataforma Gisaid.

"A gente não está tão ruim assim quando se pensa em região. Temos, claro, que melhorar, e estamos buscando essa melhora."

O esforço agora, diz ela, é para que a vigilância genômica do coronavírus seja em tempo real, para que o país conheça as variantes que circulam no território de forma mais rápida e os gestores de saúde possam "se antecipar" para tentar controlar, por exemplo, a disseminação de linhagens que sejam mais transmissíveis.

Para isso, é preciso aumentar o número de amostras sequenciadas e estruturar uma logística que garanta a análise sistemática de dados de toda as regiões do país.

A linhagem descoberta em Manaus, que tem preocupado cientistas em todo o mundo, tornou esse avanço ainda mais premente, mas o esforço para tentar ampliar a análise genômica das amostras do país é anterior, diz a pesquisadora.

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https://www.bbc.com/portuguese/brasil-55760161

 


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