Estamos iniciando o Mês de Fevereiro no qual iremos celebrar - precisamente, no sábado, 27 - o Centenário de nascimento do Dr. José de Souza Dantas Filho, na cidade de Carnaíba, interior de Pernambuco. Apesar de ter sido um bom e competente Médico, sua notoriedade e popularidade maior se deve ao fato de ter sido também, um grande compositor musical de xotes, baiões, toadas e de tantos outros ritmos nordestinos, que o notabilizaram apenas com o nome de Zé Dantas, sobretudo na magistral interpretação de Luiz Gonzaga, o famoso Rei do Baião.
Nas comemorações do Centenário de Seu Luiz,
uma neta de Zé Dantas – a musicista, cantora fenomenal e dançarina, sobretudo
de dança oriental – Marina Elali, promoveu um grandiosíssimo Show no
Chevrolet Hall, em Recife, deixando-nos um DVD, artisticamente belo, para
recordar sempre a grande homenagem a Luiz Gonzaga. Foram interpretadas músicas
do vovô, Zé Dantas com a participação de inúmeros artistas convidados: Ivete
Sangalo, Tânia Mara e Elba Ramalho que cantaram em dueto com Marina e
outros artistas como: Zezé de Camargo e Luciano, Aviões do Forró, Geraldo
Azevedo, Valdonis, Daniel Gonzaga, Charlie Brown Júnior, tornando aquela
noitada inesquecível.
Da história de Zé Dantas, nós nos lembramos.
Nascido em Carnaíba e iniciado nos estudos. Com 17 anos transferiu-se para o
Recife para estudar no Colégio Americano Batista, onde já compunha letras e
músicas com temas e ritmos bem sertanejos, de tal maneira que deixava
professores e colegas impressionados com as mensagens que saiam da sua inspiração.
Apesar desta vocação para a música, sobretudo de inspiração mais regional e
nordestina, ele continuava seus estudos, ingressando na Faculdade de Medicina
até se tornar Médico pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1949. Era a
grande motivação da Família: ter um filho médico. Servia até de orgulho.
Dois anos antes de se formar - em 1947 - ele
se encontrou com o já famoso Rei do Baião, Luiz Gonzaga, no Grande Hotel, em
Recife e cantou para ele, algumas de suas composições: “acauã”, “vem morena”,
“a volta da asa branca” e outras que o deixaram impressionado. Tanto que
foi logo lhe pedindo algumas dessas músicas para gravar. Zé Dantas ficou
felicíssimo com o aval do Sanfoneiro, mas lhe disse que estava a dois anos da
conclusão do curso de medicina e a família se honrava muito com a vocação do
filho. Aceitava ser gravado pelo Rei do Baião, mas lhe pedia para não colocar o
seu nome como autor. Deixasse para depois/ para não assustar, por enquanto, à
família. Nem é preciso dizer que Luiz Gonzaga não aceitou a exigência. Nada de
anonimato e, muito menos, colocar só seu nome, omitindo o do parceiro. Pouco
tempo após este encontro, estouraram pelo Brasil afora, especialmente, no
Nordeste, os sucessos de Zé Dantas-Luiz Gonzaga, sobretudo suas composições proféticas.
Se isto dava orgulho a Zé Dantas, era o que
ele mais queria/, à família, é claro que não. Terminado o Curso de Medicina no
Recife, vamos conseguir uma “Residência” no Rio de Janeiro. Vamos
especializá-lo; e assim se fez. Foi bom também em Medicina, mas por pouco
tempo. Tanto que, quando um amigo, um conterrâneo o visitava, ele o convidava a
aparecer no Hospital, onde trabalhava, dizendo: “vamos lá pra você ver o que é ser bom numa cesárea”!...
Depois de 13 anos no Rio, com apenas 41 de
idade, morreu. Suas músicas continuaram a fazer sucesso. Até hoje, 59 anos
depois, ainda servem de reflexão e de programa de governo para todo o Nordeste.
Do Dr. José de Souza Dantas Filho, poucas lembranças. Do compositor Zé
Dantas, muitas.
Depois do sucesso da Missa do Vaqueiro em
Serrita, homenageando Raimundo Jacó, iniciada em 1971; depois de outro,
iniciado em Serra Talhada em 1987 e continuado em Tabira, em 1991, chamado
Missa do Poeta, em homenagem a Zé Marcolino, ambas já tradicionais e
integrantes do Calendário Pernambucano de Eventos, em Carnaíba, o Pe. Luizinho,
ordenado à época e assumindo a Paróquia de Santo Antônio e São João Vianey,
instituiu em 1993, a Missa de Zé Dantas, que eu dizia na minha “Crônica
ao Pé do Ouvido”, aqui pela Rádio Pajeú, “estar
fadada a ser uma grande tradição cultural da região sertaneja e que se fixaria,
como as outras duas, aqui no nosso sertão”.
Como o sucesso do Médico, foi passageiro, e o
do Compositor – diziam: de música matuta - foi bastante duradouro,
a família foi-se acostumando com a ideia e já sente prazer em homenageá-lo como
a maioria da população vem fazendo. Certamente, o fato de ter uma artista como Marina
Elali, neta de Zé Dantas, com prestígio e fama nacional e internacional,
que dá tanta visibilidade a toda essa história, que leva os mais variados
sucessos do avô, em ritmos, danças e figurinos tão notáveis, modernos, com
cores e luzes, tão variadas, por certo, o médico e o artista se equivalem e
trazem a alegria a todos.
Revejam o Show do Centenário de Luiz Gonzaga,
vejam apresentações de Marina Elali no Brasil e no Mundo, quem sabe, agora pela
passagem do Centenário do Avô, e sintam como a família de Zé Dantas se está
sentindo: muito honrada e homenageada pelas recordações que dele estamos tendo.
Seu passado não ficou perdido. Se os homens do poder o tivessem levado a sério,
ouvido os seus apelos, gravado seus sentimentos e conhecimentos, certamente
teriam valorizado sua mensagem em Vozes da Seca ao pedir aos
governantes: vergonha, trabalho, açudagem, democracia, comida a preço bom e
liberdade. Por certo, a mensagem de sua composição musical, “Paulo
Afonso” nos teria aliviado tanto sofrimento: “vejo o nordeste, erguendo a bandeira de Ordem e Progresso à nação
brasileira. Vejo a indústria, gerando riqueza, findando a seca, salvando a
pobreza”... Ah! Poeta Zé Dantas! Você não morreu. Você nos disse, há mais
de 65 anos, que o Nordeste é viável. Os homens é que não acreditaram em seu
recado. Tornaram o Nordeste um grande deserto. Não acreditaram em nossas
potencialidades.
Quando seu colega compositor, Humberto Teixeira, também formado, como você, em 1947 compôs “ASA BRANCA”, parecia não haver mais nada a dizer sobre a nossa dura realidade. Um colega de vocês dois, Ivanildo Vila Nova, a classificou como “O Hino Nacional do Nordeste”. Você nos apareceu 03 anos depois, em 1950, com a “Volta da Asa Branca” e completou o nosso Hino Nacional, enchendo-nos de esperança ao mostrar o reverso da medalha.
O advogado cearense, Humberto Teixeira, mostrou
a dureza do Sertão seco. O médico pernambucano, Zé Dantas, encaminhou a
solução: o chão molhado, o verde da plantação e o sertão habitável,
hospitaleiro e cheio de felicidade. Foi este seu otimismo, Zé Dantas, esta sua
mensagem de esperança que levou o Rei do Baião, Luiz Gonzaga, a bradar em Vozes
da Seca, aludida acima: “mas doutor,
uma esmola/ para um homem que é são/ ou lhe mata de vergonha/ ou vicia o
cidadão”. Se você curou tão bem o corpo, de inúmeros Cariocas, em tão pouco
tempo/, você curou por muito mais tempo, até em nossos dias, muitas almas/ pela
mensagem de esperança e de união para todo o Nordeste através de suas
composições musicais. Faz quase 30 anos, o Pe. Luizinho também entendeu isto. Instituiu
a Missa de Zé Dantas. Continua sucesso até hoje, ao lado das Missas do
Vaqueiro e do Poeta. Parabéns pela ousadia e criatividade. Muitos desses temas
deveriam estar em debates nas Escolas.
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