O Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) acenou hoje (24) com a possibilidade de usar tecnologias biométricas para a confirmação, por parte de seus beneficiários, da concordância em adquirir empréstimos consignados. A ideia é evitar o assédio praticado por instituições financeiras e correspondentes que, fazendo uso de informações vazadas pelo INSS, disponibilizam empréstimos consignados a aposentados e servidores públicos sem que tenham solicitado.
A
possibilidade de uso da biometria foi aventada pelo presidente do INSS,
Leonardo José Rolim Guimarães, durante audiência na Comissão de Fiscalização
Financeira e Controle da Câmara dos Deputados, que discute o vazamento de
informações do instituto.
Durante
a audiência, parlamentares relataram casos em que o telemarketing de alguns
bancos souberam da concessão de aposentadorias antes mesmo de os beneficiários
saberem que tiveram sua aposentadoria contemplada pelo INSS. Guimarães disse
que o tema vem sendo objeto de estudo e de trabalho pelo INSS.
“Sou
servidor da Câmara e também recebo assédio de pedidos de consignados quase que
diariamente. Em geral, isso é feito por correspondentes bancários, e é algo que
ainda ocorre em larga escala”, disse o presidente do INSS.
Diante
desse problema, o INSS, segundo Guimarães, estuda “a possibilidade de utilizar
tecnologia de confirmação biométrica que já é usada para a prova de vida, para
que o aposentado pensionista confirme o empréstimo consignado”. Ele admitiu que
esse tipo de assédio está, de fato, atribuído ao vazamento de informações,
acrescentando que há também casos em que o assédio tem como origem as
informações que já estavam à disposição de instituições depositárias em
decorrência de empréstimos contraídos anteriormente.
Banco
Central
O
chefe adjunto do Departamento de Supervisão de Conduta do Banco Central,
Francisco José Barbosa da Silveira, disse que o número de reclamações relativas
à consignado é crescente. “Infelizmente, no quarto trimestre de 2020,
detectamos um aumento expressivo no número de reclamações relativas ao
consignado, decorrentes do aquecimento desse mercado a partir da liberação da
margem adicional de 5% em 1º de outubro”, disse.
Silveira
explicou que, em caso de não reconhecimento ou desistência do empréstimo, cabe
à instituição financeira a obrigação de cancelar a operação “sem qualquer custo
para o cliente, após o valor recebido”.
“Ocorre
que, das reclamações registradas, parte são legítimas e se devem a contratações
ilegítimas realizadas por correspondentes. Uma outra parte dessas reclamações é
feita de forma ilegítima por correspondentes que desejam cancelar a operação
anterior para que possam substituí-la por outra intermediada por ele, a fim de
receber a comissão”, informou o representante do BC.
“Surge
então outra questão sobre se essa reclamação pode ter sida ou não feitas com o
consentimento dos clientes, o que nos levas a uma necessidade de maior
aprofundamento para separar uma coisa da outra”, acrescentou ao lembrar que é
responsabilidade da instituição contratante a conduta do correspondente que
atua em seu nome, o que inclui a responsabilidade de a instituição financeira
aplicar sanções aos correspondentes no âmbito dos seus contratos.
Entre
as sanções que podem ser aplicadas, Silveira apontou o bloqueio parcial ou
total de atividades, a aplicação de multa ou até mesmo o encerramento do
contrato.
“As
instituições que realizam os empréstimos são obrigadas a identificar, até o
nível do CPF, a pessoa que trabalha para o correspondente responsável pelo
empréstimo. No entanto, é importante observar que as ligações telefônicas de
oferta de empréstimo que não geram contrato ou registro têm uma possibilidade
de rastreamento mais complexa e muitas vezes limitada. De qualquer forma, as
instituições possuem mecanismos importantes. Um deles é o Não Perturbe”,
acrescentou.
De
acordo com Silveira, o BC supervisiona as instituições financeiras no mercado
de consignado, e “as reclamações são importante subsídio para as ações de
supervisão de conduta, que vão desde determinação de correção de procedimentos
até a instauração de processo administrativo contra as instituições e seus
administradores”.
O
representante do BC disse que a implantação do meio digital tem evoluído com
rapidez e reduzido as reclamações de não reconhecimento de empréstimo. O que
tem ajudado o BC “na identificação e punição dos maus correspondentes”.
“Mas
esse é um problema complexo. Não existe uma solução simples que resolva o
problema de forma definitiva sem limitar o acesso sadio de aposentados a uma
linha de crédito viável e segura. Nesse sentido, a evolução na oferta e na
contratação com uso de tecnologia e na qualidade do atendimento transparente e
justo aos consumidores deve continuar a ser o objetivo de todos”, completou. (Ag. Brasil)
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