O presidente Jair
Bolsonaro (sem partido) fez nesta quinta-feira (8) novas ameaças em relação ao
pleito do ano que vem, quando ele deve disputar a reeleição.
"Eleições no
ano que vem serão limpas. Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos
eleições", declarou a apoiadores, em frente ao Palácio da Alvorada. A fala
foi transmitida por um site bolsonarista.
Bolsonaro tem
feito recorrentes afirmações falsas sobre as eleições no Brasil, com acusações
infundadas de que pleitos passados foram fraudados e que ele só será derrotado
em sua tentativa de reeleição caso haja irregularidade semelhante.
A principal
estratégia do presidente é questionar a segurança das urnas eletrônicas,
sistema usado desde 1996 e considerado eficiente e confiável por autoridades e
especialistas no país.
O próprio
Bolsonaro foi eleito para o Legislativo usando o sistema em diferentes
ocasiões, assim como venceu o pleito pelo Palácio do Planalto da mesma forma.
O mandatário
defende a adoção do voto impresso —segundo ele, auditável. Tramita no Congresso
uma proposta nesse sentido, mas a ideia conta com oposição de uma coalizão de
partidos, alguns deles da base de Bolsonaro.
Na quarta (7), ao
defender o voto impresso nas eleições de 2022, ele disse que, sem o artifício,
um dos lados da disputa eleitoral questionaria o resultado e que,
"obviamente", este seria o lado dele.
"Eles vão
arranjar problemas para o ano que vem. Se este método continuar aí, sem,
inclusive, a contagem pública, eles vão ter problemas. Porque algum lado pode
não aceitar o resultado. Este algum lado, obviamente, é o nosso lado, pode não
aceitar o resultado", disse Bolsonaro em entrevista à Rádio Guaíba, do Rio
Grande do Sul.
A declaração de
Bolsonaro de quarta provocou uma reação do presidente do STF (Supremo Tribunal
Federal), Luiz Fux, que soltou nota para rebater o chefe do Executivo.
Na mesma
entrevista, Bolsonaro fez nova defesa do voto impresso, reafirmou que
apresentaria provas de que houve fraudes nas eleições de 2014 e 2018 e afirmou
falsamente que, na disputa entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), foi
o tucano quem venceu o pleito.
"O nosso
levantamento aqui, né, o nosso levantamento, feito por gente que entende do
assunto, que esteve presente lá dentro, acompanhou toda a votação, ele garante
que sim [Aécio foi eleito]."
"E o que eu
vi, eu não sou técnico em informática, mas o que eu vi, está comprovado, no meu
entender, a fraude em 2014. O Aécio foi eleito em 2014", disse o
presidente, sem apresentar nenhuma evidência —naquele disputa Dilma Rousseff
(PT) foi reeleita com 52% dos votos, ante 48% do tucano Aécio, com vantagem de
cerca de 3,5 milhões de votos.
Após a invasão do
Capitólio por apoiadores extremistas de Donald Trump que contestavam o
resultado das eleições nos EUA, Bolsonaro disse que, se não houver voto
impresso em 2022, ou uma maneira de auditar o voto, haverá no Brasil “problema
pior do que nos Estados Unidos”.
A declaração se
soma a um discurso contra o sistema eleitoral e a um contexto que inclui
militarização do governo, flexibilização do acesso a armamento e naturalização
da corrupção no país.
Para especialistas
ouvidos pela Folha, toda essa atmosfera alimenta a desconfiança sobre um risco
de golpe, que não deve ser ignorada, ainda que vários considerem improvável que
tal cenário se concretize.
A estratégia de
manter um discurso que coloca em xeque o sistema eleitoral brasileiro e, ao
mesmo tempo, questiona um eventual resultado negativo nas urnas aproxima o
presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de outros líderes populistas, a exemplo
do que fez Trump antes de deixar a presidência dos EUA.
No Planalto,
Bolsonaro faz do mandato uma campanha eleitoral constante, alimentando sua base
de apoiadores mais fiel com a retórica própria do autoritarismo.
Apesar de eleito
por vias democráticas, especialistas afirmam que, em vários episódios,
Bolsonaro já expressou de forma clara seu desprezo pelo sistema.
Ataques ao sistema
eleitoral e à urna eletrônica fazem parte da retórica do presidente Jair
Bolsonaro desde a campanha. Na véspera do pleito, em outubro de 2018, ele
afirmou que só perderia se houvesse fraude.
“Isso só pode
acontecer por fraude, não por voto, estou convencido”, disse em live em outubro
de 2018.As acusações infundadas se mantiveram mesmo depois de eleito. Em março
de 2020, Bolsonaro disse que teria vencido a eleição ainda no primeiro turno,
porém nunca apresentou nenhuma prova disso.
Até hoje, não há
evidências de que tenham ocorrido fraudes em eleições com uso da urna
eletrônica. A urna possui diferentes medidas de segurança e de auditoria.
Independentemente
disso, há especialistas que defendem que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral)
deveria aumentar a transparência do sistema eleitoral e melhorar as
possibilidades de auditoria das eleições. O problema, dizem eles, é que o
debate técnico e sério acaba ofuscado pela desinformação e por mentiras.
(JB/Folhapress)
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