Essas são algumas dúvidas que aparecem com frequência quando uma nova eleição se aproxima e as pesquisas de intenção de voto se multiplicam. É comum o tema gerar desconfiança e questionamentos, ainda mais de quem aparece mal posicionado na corrida eleitoral.
A menos de três meses da eleição, diferentes pesquisas apontam
para uma larga vantagem do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na
corrida presidencial. A mais recente pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada
na quinta-feira (28/07), mostra o petista com 47% das intenções de voto,
seguido do presidente Jair Bolsonaro (PL), com 29%, e Ciro Gomes (PDT), com 8%.
Todos os demais candidatos não superaram 2%. A margem de erro da pesquisa é de
dois pontos percentuais.
Nessa reportagem, a BBC News Brasil esclarece como funcionam as
pesquisas eleitorais — como o levantamento do Datafolha — e os critérios
rígidos que precisam ser seguidos para que elas consigam de fato captar a
intenção de voto dos eleitores. E explica também porque mesmo assim o resultado
das urnas pode ser diferente do que indicavam as sondagens. Confira a seguir.
1) A importância da amostra
Ao contrário do que o senso comum pode sugerir, pesquisas
eleitorais não servem para prever o resultado da eleição. O objetivo dessas
pesquisas é apenas medir a intenção de voto no momento em que são feitas as
entrevistas. Como o eleitor pode mudar de ideia até a hora de entrar na cabine
de votação, nada garante que uma pesquisa feita meses, semanas, ou mesmo dias
antes, terá o mesmo resultado que o computado pela Justiça Eleitoral.
Mas como pesquisas que entrevistam algumas centenas ou milhares de
pessoas podem ser bons termômetro de como os eleitores estão pensando em votar?
Esse conjunto de pessoas entrevistadas é chamado de amostra. Para
que esse grupo represente bem todo o universo de eleitores é preciso que ele
reproduza a composição e a distribuição do eleitorado.
No caso do Brasil, a população é bastante heterogênea. Há
diferenças, por exemplo, entre o perfil dos brasileiros que moram no Sul, no
Nordeste ou em outras regiões do país. Há também diferenças entre os que são
católicos, evangélicos, ateus ou seguem outras religiões, ou mesmo entre homens
e mulheres, jovens e idosos, e também entre os que têm maior ou menor renda.
Dessa forma, para que uma mostra, por exemplo, de duas mil pessoas
entrevistadas meça bem a intenção de voto dos eleitores é preciso que sua
composição reflita essa heterogeneidade.
Por meio de dados oficiais, sabemos que mulheres são 53% dos
eleitores e homens, 47%. Uma pesquisa precisa, portanto, não pode entrevistar
55% de homens e 45% de mulheres. É necessário seguir a distribuição de gênero
da população brasileira na sua amostra.
No mesmo sentido, esse levantamento vai entrevistar muito mais
pessoas no Sudeste do que nas outras regiões, porque ali se encontra a maior
fatia do eleitorado brasileiro. Mas não basta que o instituto entreviste uma
quantidade maior qualquer nesta região.
A pesquisa do Instituto Datafolha de junho, por exemplo, informa
que 43% das suas entrevistas foram feitas no Sudeste e, segundo o TSE, 42,6%
dos eleitores aptos a votar vivem lá. Ou seja, a composição da amostra segue a
composição do eleitorado.
Essa mesma lógica serve para determinar a proporção de jovens,
adultos e idosos entrevistados, ou quantos brancos, pardos ou pretos serão
ouvidos, etc.
O estatístico Neale Ahmed El-Dash, que estudou métodos de pesquisa
durante seu doutorado na USP e é fundador da empresa Polling Data, usa a
seguinte metáfora para explicar como a amostra funciona.
"Um risoto tem vários ingredientes diferentes: sei lá, você
botou gorgonzola, cebola, tem o próprio arroz, tem sal, algum outro tempero.
Então, se você simplesmente colocou tudo ali na panela, uma coisa em cima da
outra (sem misturar), ao pegar uma colherzinha de qualquer lugar, você não vai
conseguir sentir o sabor real daquele prato. Agora, se você misturou bem
misturadinho, na hora que você pegar uma colher de qualquer lugar, vai estar
com o sabor do risoto gostoso", exemplifica.
"Então, se você consegue misturar direitinho toda a população
e pegar uma colherada, você vai ter uma amostra que representa bem (todos os
eleitores)", compara.
Pesquisas sérias sempre informam o perfil da amostra. É possível
checar essa composição no site do TSE, no qual os institutos precisam registrar
o questionário que será aplicado antes de ir a campo.
Margem de erro
Agora, mesmo que a amostra esteja bem "misturadinha",
como explicou El-Dash, não é possível garantir que o seu resultado é um retrato
exato da intenção de voto dos brasileiros.
Na verdade, se forem retiradas diferentes amostras de um mesmo
universo, ainda que com as mesmas composições sócio-demográficas, seus
resultados podem variar.
É por isso que toda pesquisa possui uma margem de erro e um nível
de confiança (entenda melhor abaixo) que indicam qual o nível de precisão do
resultado da pesquisa.
Segundo El-Dash, quanto maior a amostra, maior sua precisão para
medir a opinião da população pesquisada (no caso das pesquisas eleitorais, o
total de eleitores). Isso significa que levantamentos com amostras maiores têm
margem de erro menor. No entanto, a partir de um determinado número de
entrevistas, esse ganho de precisão, medido por uma fórmula matemática, já fica
menos relevante.
"Uma amostra de mais de dois mil entrevistados, por exemplo,
geralmente já não tem um custo benefício que vale a pena porque é caro fazer
uma amostra maior e o ganho de precisão é pequeno", diz ele.
A pesquisa feita em junho pela Quaest Pesquisa e Consultoria, por
exemplo, informa que fez 2 mil entrevistas presenciais e tem margem de erro de
dois pontos percentuais. O resultado do levantamento indicou que em um eventual
segundo turno entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT), o petista venceria com apoio de 54% dos eleitores,
enquanto seu adversário teria 32%.
Isso significa que a intenção de voto em Lula em um segundo turno
contra Bolsonaro naquele momento estava entre 52% e 56%, enquanto a do atual
presidente ficava entre 30% e 34%.
Já o nível de confiança dessa pesquisa Quaest era 95%. Isso
significa que, se essa mesma pesquisa fosse aplicada 100 vezes naquele momento,
entrevistando outras pessoas com mesmo perfil da amostra inicial, ela daria
resultados dentro da margem de erro em 95 dos casos.
"Então, essa teoria matemática não te diz que a pesquisa vai
acertar toda vez que ela é feita, mas ela te diz, em média, quanto que ela vai
acertar. Isso é a tal famosa combinação da margem de erro com a
confiança", resume El-Dash.
O nível de confiança mais comum usado por institutos de pesquisa é
de 95%.
Para usar um nível maior, de 99% por exemplo, sem aumentar a
margem de erro, seria preciso ampliar o tamanho da amostra.
2) Cuidados na realização das entrevistas
A elaboração adequada da amostra é apenas uma das etapas para
garantir que a pesquisa seja um bom termômetro da intenção de voto da
população. É preciso também seguir uma série de parâmetros na aplicação do
questionário e, depois, no processamento das entrevistas.
Após a definição do perfil da amostra, as pessoas entrevistas são
selecionadas aleatoriamente, justamente para evitar viés para algum candidato.
Por isso, os locais de aplicação dos questionários são definidos por sorteio.
Nas pesquisas presenciais, normalmente se utiliza o método de
"Probabilidade Proporcional ao Tamanho" para sortear as cidades onde
são feitas as entrevistas, explica Márcia Cavallari, diretora do Ipec
(Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica), instituto fundado por
parte da equipe que atuava no antigo IBOPE.
Nesse método, cidades mais populosas têm maior probabilidade de
serem sorteadas. Caso isso não fosse feito, as cidades menores, por serem mais
numerosas, seriam mais frequentemente selecionadas para as entrevistas,
deixando de fora da amostra uma parcela relevante do eleitorado dos grandes
centros urbanos.
"O processo de sorteio é probabilístico e leva em conta o
número de eleitores de cada município. É um processo aleatório de seleção
através de um método estatístico. Antes de fazermos a seleção dos municípios,
asseguramos que os estratos da amostra entrem com o peso de seus eleitores, ou
seja, cada região do país e cada Estado entram com os seus respectivos pesos na
amostra", detalha Cavallari.
O deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente Jair
Bolsonaro, tem usado de forma distorcida as escolhas das cidades para acusar os
institutos de pesquisa de manipularem os levantamentos eleitorais. É o que ele
fez, por exemplo, no vídeo "Saiba como certas pesquisas mentem!",
publicado em seu canal no YouTube no final de junho.
Nessa gravação, ele faz duros ataques à Quaest, que realiza
mensalmente pesquisas de intenção de voto para o pleito presidencial de
outubro, encomendadas pela corretora Genial Investimentos.
O deputado analisa no vídeo as entrevistas feitas na pesquisa de
abril no Maranhão. Segundo a lista informada ao TSE, o levantamento ouviu
eleitores de cinco municípios do Estado: Alcântara, Alto Alegre do Maranhão,
São Francisco do Brejão, São Luís e São Luís Gonzaga do Maranhão.
Eduardo Bolsonaro, então, reclama no vídeo do fato de todas as
cidades selecionadas terem votado majoritariamente em Fernando Haddad (PT) no
segundo turno de 2018, candidato que foi derrotado por Bolsonaro.
"Nenhuma pessoa foi entrevistada em Imperatriz, que é a
segunda maior cidade do Estado e uma das três do Maranhão que o Bolsonaro
ganhou no segundo turno em 2018. E olha que no Maranhão tem 217 municípios. Mas
será por que? Será coincidência?", questiona o filho do presidente.
Procurado pela BBC News Brasil, o diretor da Quaest Pesquisa e
Consultoria, Felipe Nunes, refuta as acusações do deputado. Ele explica que
todas as cidades onde ocorrem as entrevistas são definidas por sorteio, assim
como os locais dentro das cidades onde as pessoas são abordadas pelos
pesquisadores.
Como o Maranhão votou em peso em Haddad, a probabilidade maior é
de as cidades sorteadas terem votado mais no petista do que em Bolsonaro. A BBC
News Brasil checou as cidades de Santa Catarina, Estado que deu larga vitória
em 2018 ao atual presidente, e encontrou o oposto do que ocorreu no Maranhão:
todos os municípios visitados pela Quaest em abril eram cidades em que
Bolsonaro venceu Haddad.
Eduardo Bolsonaro não cita essa informação no seu vídeo.
Para responder às críticas do deputado, a Quaest enviou à
reportagem uma tabela com todas as cidades visitadas na pesquisa de abril,
acompanhadas do percentual de votos válidos que Bolsonaro obteve no segundo
turno de 2018 em cada uma delas. Ao tirar a média desses percentuais, o
resultado é 54,9%, praticamente o mesmo resultado que o presidente obteve na
eleição (55,1%).
"A crítica dele (Eduardo Bolsonaro) é absurda, não faz o
menor sentido. A diferença de uma enquete para uma pesquisa é demonstrada
exatamente pelo ponto dele. O que ele sugere é pegar as pessoas nos lugares que
ele quer e fazer enquete lá para parecer bom (para Bolsonaro). O que a gente
faz na pesquisa é ignorar esse critério, de onde tem mais ou menos gente que
votou (num determinado candidato), sortear a amostra de modo que todo mundo
tenha a mesma chance de ser entrevistado e, a partir desse critério
probabilístico de aleatoriedade, ser capaz de pegar todo tipo de eleitor",
rebate Nunes.
O vídeo traz ainda outras críticas à Quaest. Para reforçar que o
instituto não seria confiável, Eduardo Bolsonaro mostra uma pesquisadora da
Quaest que foi gravada manifestando apoio a Lula. Além disso, ressalta que
Felipe Nunes já foi consultor político da ex-presidente Dilma Rousseff e do ex-governador
de Minas Gerais Fernando Pimentel, ambos petistas.
Questionado pela reportagem, o diretor da Quaest disse que
trabalha com eleições desde 2014 e já prestou consultoria ou realizou pesquisas
para diferentes partidos, como PT, PSDB, MDB, DEM, PSD, PSB, PDT e Novo.
Sobre a entrevistadora que manifestou apoio a Lula, Nunes disse
que o próprio controle de qualidade da Quaest já havia identificado o problema,
pois todas as entrevistas realizadas são depois ouvidas por outra equipe da
empresa.
"Imediatamente aquela senhora foi desvinculada da empresa, as
entrevistas que ela fez foram anuladas e outra pessoa foi colocada para fazer
no lugar", contou.
"Lido com isso com muita naturalidade. Existem erros no campo
e, é justamente porque a gente tem um controle muito rígido de qualidade sobre
o dado que sai, que a gente consegue, inclusive, capturar esse tipo de situação
e não permitir que isso gere qualquer tipo de problema pro dado que está sendo
publicado", acrescentou.
A BBC News Brasil tentou contato com o deputado Eduardo Bolsonaro
por meio do seu gabinete, mas não obteve retorno.
"Datapovo" x Datafolha
No vídeo de 26 de junho em que ataca as pesquisas eleitorais,
Eduardo Bolsonaro também repete um argumento comum aos apoiadores de seu pai: a
ideia de que que para medir a popularidade do presidente, basta ver as
multidões de apoiadores que o acompanham nas ruas. É o que chamam de
"datapovo", num trocadilho com o nome do Instituto Datafolha.
"O Bolsonaro essa semana esteve em Caruaru, Pernambuco,
Nordeste. E também esteve em Santa Catarina. Por onde quer que ele vá, é sempre
assim: arrasta multidões. E daí vem aquela pergunta: se o Bolsonaro parece um
artista de rock por onde passa, por que o Lula, que é o primeiro colocado nas
pesquisas, não consegue sair nas ruas sem ser para esses eventos
pré-organizados pelo PT, e olhe lá?", questiona o deputado, antes de
listar supostas manipulações dos institutos para tentar explicar essa aparente
contradição.
A resposta dos especialistas é que, por mais que o presidente seja
capaz de mobilizar alguns milhares ou até dezenas de milhares de apoiadores em
eventos, esse grupo não é representativo de todo o eleitorado brasileiro.
"A minha maneira de responder essa questão é muito
provocativa. Um dos movimentos mais fortes de rua que o Brasil tem é a Parada
do Orgulho LGBT, que acontece na Avenida Paulista. Se a gente fosse utilizar o
critério que algumas pessoas tentam usar para descredibilizar as pesquisas,
seria pegar as fotos e os vídeos da Parada LGBT e dizer que, então, em São
Paulo, o público LGBT seria o mais representativo na Câmara Municipal, na
Assembleia Estadual", afirma Felipe Nunes.
"E, na verdade, a gente tem uma subrepresentação até desse
público (LGBT) nos locais de poder. Ou seja, isso (citar aglomerações como
medida para intenção de voto) não é critério. Isso é enviesar a visão, isso é
não querer ver o todo", acrescenta.
Cuidados na realização das perguntas
Além dos cuidados na composição da amostra e na escolha dos locais
das pesquisas, os institutos também adotam regras para evitar algum viés na
forma como as entrevistas são realizadas. A pergunta sobre a intenção de voto
deve ser feita de forma neutra, sem direcionar a resposta para um ou outro
concorrente. E os nomes dos candidatos não podem ser apresentados em uma ordem
fixa, pois os primeiros da lista tenderiam a ser favorecidos.
Por exemplo, na pesquisa de junho do Datafolha, quando as
candidaturas presidenciais ainda não estavam formalizadas pelas convenções
partidárias, o instituto fez a pergunta dessa forma aos entrevistados ouvidos
de forma presencial: "Alguns nomes já estão sendo cogitados como candidatos
a presidente esse ano. Se a eleição para presidente fosse hoje e os candidatos
fossem estes, em quem você votaria?".
Em seguida, era apresentado um cartão circular com nomes de 13
pré-candidatos, de modo que não houvesse uma hierarquia entre eles. As opções
incluíam desde os líderes na pesquisa, como Lula, Bolsonaro e Ciro Gomes (PDT),
às opções menos conhecidas, como Vera Lúcia (PSTU) e Felipe d'Avila (Novo).
Já a pesquisa Ipespe de julho, feita por telefone, fez a seguinte
pergunta: "Se a eleição para Presidente fosse hoje e os candidatos fossem
esses que vou ler, em quem o(a) Sr(a) votaria?".
Nesse caso, como não é possível apresentar um disco com os
candidatos, o instituto realiza um "rodízio de nomes", apresentando
os concorrentes cada vez em uma ordem diferente.
3) Por que o resultado das urnas nem sempre bate com as pesquisas?
Ainda que a pesquisa realizada tenha seguido todos os padrões de
excelência, mesmo assim seu resultado pode ser diferente dos votos computados
pelas urnas — e isso não significa que a pesquisa "errou".
Os especialistas explicam que a pesquisa eleitoral é um retrato do
momento.
Ela mostra qual seria o resultado provável caso a eleição
ocorresse no mesmo período do levantamento. No entanto, como muitos eleitores
mudam seu voto ou escolhem seu candidato apenas próximo ao dia da eleição, ou
mesmo no próprio dia de votação, é esperado que os resultados das pesquisas se
modifiquem ao longo da campanha e sejam diferentes do saldo das urnas.
"A pesquisa não tem o papel de antecipar o resultado
eleitoral. A pesquisa eleitoral capta atitudes e as intenções de voto, não
medem o comportamento do eleitor. Apenas as pesquisas de boca de urna (feitas
no dia da votação, logo que as urnas fecham) podem ser comparadas com os
resultados oficiais, pois estas estão medindo comportamento", afirma
Cavallari.
Embora as pesquisas não tenham a função de prever o resultado das
urnas, elas costumam captar bem qual a tendência da evolução do voto. "Via
de regra, observamos que os resultados oficiais são um ponto a mais nas curvas
de tendência apontadas pelas pesquisas", ressalta a diretora do Ipec.
Para ilustrar seu ponto, Cavallari chama atenção para a evolução
das intenções de voto em Bolsonaro e Haddad nas semanas anteriores ao primeiro
turno de 2018, medidas por dez pesquisas do antigo IBOPE.
Elas mostram que, no final de agosto, Bolsonaro liderava a corrida
eleitoral com 32% das intenções de voto. Esse percentual foi subindo
paulatinamente até chegar a 41% na véspera do primeiro turno (dia 6 de
outubro). Já a pesquisa de boca de urna do dia da eleição (7 de outubro)
indicou que 45% dos eleitores haviam votado em Bolsonaro. Esse número ficou
muito próximo do resultado oficial das urnas divulgado pelo TSE: o futuro
presidente recebeu 46% no primeiro turno.
O mesmo ocorreu com Haddad. Ele começou com apenas 6% de intenção
de voto em 20 de agosto, e as pesquisas mostraram seu percentual subindo até
chegar a 25% no dia 6 de outubro. Já a pesquisa de boca de urna indicou o apoio
de 28% dos eleitores, enquanto o resultado oficial do TSE mostrou 29% de votos
para o petista.
"Voto útil"
Outro fator que explica as diferenças entre as pesquisas e o
resultado oficial é o fenômeno do "voto útil", em que as próprias
pesquisas influenciam o rumo dos votos, ressalta Felipe Nunes, da Quest. Isso
ocorre, por exemplo, quando eleitores que votariam no candidato A, mas rejeitam
fortemente o candidato B, entendem pelas pesquisas que é o candidato C que tem
mais chances de derrotar o B. Com isso, acabam migrando seu voto do A para o C.
"Se existe mudança de opinião de alguém que está prestes a se
casar, muita gente abandonou o noivo ou a noiva no altar, por que o eleitor não
poderia fazer a mesma coisa diante da urna? Ele tem intenção de votar em
alguém, mas muda de opinião. Isso é normal", diz Nunes.
"E o mais sério: as pessoas mudam de opinião baseadas nas
pesquisas. Então querer que as pesquisas acertem é um exagero equivocado.
Pesquisa serve para informar o eleitor. É a própria dinâmica da informação que
faz com que as pessoas mudem de opinião", reforça.
Para saber se uma pesquisa é confiável, portanto, não adianta
comparar seu resultado com o saldo final das urnas. O que os especialistas
recomendam é que o eleitor busque comparar pesquisas de diferentes institutos,
pois a tendência é que pesquisas bem feitas por diferentes empresas mostrem
cenários semelhantes nos rumos das intenções de voto.
Por outro lado, quando um instituto de pesquisa traz resultados
muito "fora da curva" dos demais, aí é sinal de que algo pode estar
errado no levantamento.
(Fonte: BBC)
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