A faixa que mais perdeu consumidores foi a de
carros com 4 a 7 anos, que caiu de 30,7% das vendas totais de usados para
19,8%. A que mais ganhou foi a de 11 a 15 anos, que saltou de 17,8%, em 2019,
para 25,5% no ano passado, segundo dados da Federação Nacional da Distribuição
de Veículos Automotores (Fenabrave).
Nos primeiros três meses deste ano,
automóveis acima de 13 anos corresponderam a 21,8% das transferências de
propriedade, que somaram 3,36 milhões de unidades, conforme dados da Federação
Nacional das Associações dos Revendedores de Veículos Automotores (Fenauto).
"O que está ocorrendo prova que o poder
aquisitivo dos consumidores caiu e que muitos não conseguem mais chegar ao
carro novo, e há também o deslocamento nas faixas dos usados", diz o
presidente da Fenabrave, José Andreta Junior. Ele ressalta que automóveis mais
velhos são menos seguros, poluem mais e muitas vezes são responsáveis por
congestionamentos, ao quebrarem no meio das vias públicas.
‘BOM
NEGÓCIO’
Adepto ao uso da motocicleta, o cinegrafista
Thiago Francez, de 36 anos, decidiu comprar um automóvel há cerca de dois anos
após se casar. Sem condições de partir para um modelo mais novo, adquiriu um
Fiat Uno Mille 1996 por R$ 6,5 mil. "Foi um bom negócio, o carro não dá
muito problema", diz ele, que mora em Campo Limpo Paulista, na Grande São
Paulo.
Francez conta que conseguiu pagar o carro à
vista, sem precisar parcelar ou recorrer a financiamento. Atualmente, ele
procura um modelo mais novo, de preferência com 10 anos de uso, na faixa de
preço de R$ 22 mil. "Queremos um carro com um pouco mais de conforto, como
ar-condicionado e vidros elétricos."
Responsável pela intermediação de quase 20%
de todos os negócios de carros usados feitos no País, a plataforma de vendas
OLX confirma o movimento. "A busca por veículos com mais de nove anos vem
crescendo bastante e, hoje, representa cerca de 60% das consultas na
plataforma; antes era bem menos", afirma Flávio Passos, vice-presidente de
Autos e Comercial da OLX.
A migração, diz ele, primeiro ocorre do zero
para o seminovo - movimento visto principalmente em 2021, quando houve falta
generalizada de chips, e as montadoras tiveram de paralisar a produção, o que
resultou na falta de modelos novos nas lojas.
Em paralelo, houve a perda do poder
aquisitivo da população, e a busca também se movimentou para modelos mais
velhos, "muito mais acessíveis", na opinião de Passos.
Estudo do Data OLX Autos divulgado em
fevereiro mostra que o preço médio dos veículos na faixa dos 14 anos é de R$
17,8 mil. Os dois carros zero-quilômetro mais baratos atualmente no mercado, o
Renault Kwid e o Fiat Mobi, custam, respectivamente, R$ 68,2 mil e R$ 69 mil.
BASE MAIOR
O superintendente de varejo do Banco BV,
Jamil Ganan, diz que a instituição é uma das poucas, se não a única, que
financia carros com até 25 anos de uso. "O grosso do financiamento,
contudo, é na faixa dos 8 aos 14 anos", informa. O BV tem cerca de 5
milhões de clientes pessoas físicas e jurídicas e, segundo Ganan, registra
índices de inadimplência abaixo da média do mercado, que costumava ficar na
casa dos 2% e atualmente está em 5,4%.
Enilson Sales, presidente da Fenauto, pondera
que a classificação da entidade para os usados vai dos modelos com até 3 anos
(seminovos), de 4 a 7 anos (usados jovens), de 8 a 12 anos (usados maduros) e
acima de 13 anos (velhinhos), ou seja, as três primeiras têm intervalos de três
anos, enquanto a última parte de 13 anos "até o infinito". "Ou
seja, os velhinhos estão vendendo muito em volume, mas a base é maior do que a
dos demais."
CARRO
POPULAR
O presidente da Associação Nacional dos
Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Márcio de Lima Leite, credita
boa parte da queda das vendas de modelos novos aos juros altos e avalia que, em
razão disso e da restrição dos bancos na concessão de crédito, o consumidor
está buscando o mercado de usados e modelos e com 10 anos de uso ou mais.
Esse é um dos temas que um grupo formado por
Anfavea, Fenabrave e outras entidades do setor começou a discutir com o
Ministério da Indústria, com a intenção de convencer o governo a criar um
programa para a volta do carro popular - hoje chamado de carro de entrada.
O mercado de veículos novos está estacionado
na casa de 2 milhões de unidades há 8 anos. O setor vê na possibilidade de
ressuscitar a produção de um modelo de baixo custo chances de recuperar vendas
e de reduzir a ociosidade das fábricas, hoje de 40%.
(JB)

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