Na opinião da especialista Katia Dantas,
consultora para implementação de práticas em proteção infantil e ambientes
escolares, a violência que tem ocorrido em unidades de ensino é multifacetada e
complexa.
“A gente precisa entender que segurança é
diferente de proteção. Colocar um segurança na porta não vai resolver o
problema. Hoje, observamos que muitos dos atentados são de crianças cometendo
violência contra outras crianças e professores. São raros os que vêm de fora
pra cometer um atentado dentro da escola”.
O presidente da Confederação Nacional dos
Trabalhadores da Educação (CNTE), Heleno Araújo, também entende que
desigualdades marcantes nos ambientes escolares contextualizam o problema. “Há
muito a ser feito em busca de um ambiente minimamente em condições de garantir
segurança e paz, tranquilidade e solidariedade dentro do espaço da escola e
fora dela”. Escolas em boas condições e outras sem energia elétrica, por
exemplo, Profissionais que recebem em dia e com adequadas condições, outros
não.
Para se ter uma ideia da complexidade humana,
o Brasil tem 2,2 milhões de professores e mais de 1,9 milhão de outros
profissionais que trabalham na educação - população acima de 4 milhões de
pessoas.
As escolas são muito diferentes umas das outras
em um país do tamanho de um continente. Ele conta que recebeu foto de uma turma
em município goiano, em que as crianças apareciam em uma espécie de exercício
de tiro, como tarefa de uma escola cívico-militar. “Isso desconfigura
completamente a perspectiva de formação humana que nós queremos. Então, é
importante que a família dê bom exemplo às crianças”.
Parceria
no currículo
Katia Dantas defende uma série de medidas,
considerando que grande parte desses atentados tem foco em violência
sistemática na vida da pessoa que agride, como histórico de bullying,
intimidações e abusos familiares. É difícil que alguém com essa característica
não tenha demonstrado sinais na escola.
“É urgente que as escolas aprendam a
identificar um abuso. A gente precisa começar a modificar essa percepção. Hoje,
por exemplo, nós sabemos que as habilidades socioemocionais partem da base
curricular nacional. Mas pouquíssimos pais sabem exigir das escolas”, diz Katia
Dantas. A parceria entre família e escola não deve ficar na teoria, uma vez que
as redes sociais e os jogos eletrônicos têm ocupado espaço central na vida de
crianças e adolescentes.
Também por esse motivo, conforme avalia
Heleno Araújo, na CNTE, é fundamental fortalecer a participação social, a
gestão democrática, a participação de pais, mães, responsáveis, e grupos
organizados da comunidade onde a escola está inserida. “Todos devem estar
envolvidos no processo de discussão, no Conselho Escolar, de um projeto
político-pedagógico para escola. A participação social e o envolvimento com as
políticas da escola, o sentimento de pertencimento, tudo é importante”.
Orientações
A especialista entende que é vital que
professores e outros funcionários do ambiente escolar possam receber
orientações em caso de violência. “Que eles aprendam a saber o que fazer do
mesmo jeito que muitas escolas têm treinamento para incêndio, evacuação, por
exemplo”. Mas um treinamento com característica pedagógica sem criar medo,
pânico ou alarde nas crianças.
“Mais do que isso, os profissionais precisam
estar treinados em como identificar situações de conflito, mudanças de
comportamento que possam estar demonstrando um sofrimento dessa criança”. A
resposta, segundo ela, deve ser da escola como um todo e não só de professores.
“É importantíssimo que todos os profissionais da escola estejam treinados para
fazer a proteção infantil e identificar essas situações”.
Na mesma linha, o presidente da CNTE defende
que todos os profissionais da educação têm que ser profissionalizados e receber
cursos para as suas atividades. “Porteiro tem que ter curso de infraestrutura e
meio ambiente. Temos que ter uma formação inicial voltada para as concepções de
educação”.
Isso inclui saber olhar para algum sinal de
que há algo de errado. “Os profissionais devem ter sim formação em atendimento
e primeiros socorros, atenção, perceber o olhar dos alunos”. Araújo lamenta que
nem todas as escolas, por exemplo, dispõem de equipes de psicólogos e de outros
profissionais de apoio. Ele acredita que a segurança começa com a possibilidade
de que os profissionais estejam conectados à complexidade dos seres humanos. (JB/Ag.
Brasil)
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