Segundo
o levantamento de dados referentes a 2018 e 2022, no geral, a cada aumento de
1% dos votos municipais em Bolsonaro, houve alta de 0,48% a 0,64% no excesso de
mortalidade na cidade durante os picos da pandemia. O estudo pontua que
essa correlação pode estar ligada à influência que o ex-presidente, agora
inelegível, exercia sobre seu eleitorado.
"A
descrença sobre os efeitos prejudiciais da pandemia, a não aceitação do
uso de máscaras faciais, a resistência inicial à compra de vacinas e a lenta
implementação de uma campanha de imunização podem ser algumas das razões para
essa associação entre os votos de Bolsonaro e a mortalidade excessiva."
Os resultados indicam que nem mesmo o alto número de mortes observado ao longo da pandemia pareceu surtir efeito no eleitorado bolsonarista de uma eleição para a outra. Já os municípios que mais votaram na candidatura petista de Luiz Inácio Lula da Silva não apresentaram associação com o aumento da mortalidade pela covid-19.
Ainda
de acordo com o estudo, o fenômeno também pode estar relacionado aos conceitos
de política tribal e polarização afetiva. O primeiro termo se refere ao
"ambiente político dominado por eleitores cuja preocupação predominante é
'aqueles conosco e aqueles contra nós' e que apoiam candidatos que representam
suas crenças étnicas, religiosas ou de grupo, independentemente da política que
promovem."
Já
a polarização afetiva ocorre quando há um amplo sentimento de rejeição a
determinados grupos políticos. No Brasil ela é muito representada
pelo antipetismo.
"Em termos concretos, partidários com alta hostilidade para com o outro partido estão mais motivados a se distinguir de seus oponentes políticos. Eles tendem a adotar posições sobre novas questões que diferem do partido (não gostado) e combinam com aquelas do seu partido preferido."
Para
chegar ao resultado a pesquisa utilizou dados do Sistema de Informação sobre
Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, da Justiça Eleitoral e do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Para
chegar aos índices sobre excesso casos fatais foi realizada uma comparação
entre o total de óbitos dos picos pandêmicos e a média mensal de mortes nos
cinco anos anteriores à emergência sanitária. A análise considerou os votos nos
primeiros turnos de cada pleito.
A
análise foi feita em colaboração com a Fiocruz Bahia e Universidade Federal da
Bahia (UFBA) e publicada na revista científica "Cadernos de Saúde
Pública".
(Brasil de Fat - Ed.: Thalita Pires)
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