sexta-feira, 5 de julho de 2024

De Olho na Língua (06.07.24) Prof. Antônio da Costa

Eu disse “de que” este jogo seria difícil!?


Não. Nada disso. Difícil, e muito, é de ouvi asneiras desse jaez. E quem gosta de esportes está fadado, inevitavelmente, a ouvir muito esse tipo de absurdo. Alguns radialistas esportivos costumam usar “de que” com qualquer verbo: transitivo direto, transitivo indireto, intransitivo, de ligação, todos. Trata-se de um uso ímpar em toda a história da Língua, fenômeno jamais dantes acontecido. Até este instante, a Língua mostrou a visível tendência de eliminar o “de”, mesmo com verbos que o exijam.

Veja se o caso de “gostar”, que é transitivo indireto (quem gosta, gosta de). Exs.: Gosto que você me visite frequentemente; A música que mais gosto; O cantor que mais gosto.

O verbo dizer, na frase em epígrafe, é transitivo direto (quem diz, diz alguma coisa). Não tem nenhuma cabida a preposição “de”, porque ninguém (a não ser esses mesmos radialistas esportivos) diz “de alguma coisa”, mas sempre se diz “alguma coisa”. Notamos, contudo, que tal incorreção geralmente ocorre quando o verbo está distante do comprimento. Mas já ouvimos “sumidades” que preferiram coisa assim: “Já comentei aqui de que esse jogador não serve ao Palmeiras”; “Eu sempre disse de que as coisas poderão piorar para o Flamengo”: “O telespectador já notou de que Vasco se acomodou em campo”: O jogador declarou de que estava havendo boicote na Seleção”.

Em suma, o que a Escola ensina, o rádio apaga (ou inventa). Nesse jogo, quem sai perdendo sempre é a Escola.

EM TEMPO: O “DIQUEÍSMO”, nome técnico desse emprego errôneo, já contaminou quais todos os comunicadores da imprensa falada, escrita e televisionada (ou televisada). 

“Este é um problema difícil de resolver” ou “Este é um problema difícil de se resolver?

A primeira. Quando numa frase qualquer aparece: difícil de; fácil de; duro de; bom de; ruim de; agradável de; etc. com a preposição “de” e verbo no infinitivo, não se usa o pronome “se”. Portanto, diga/escreva: Comprei um xarope ruim de tomar; Este é um trabalho agradável de fazer; era osso duro de roer; Não existem problemas fáceis de contornar nesta empresa; Comprei dois automóveis muito gostosos de dirigir. Lembre-se da expressão “osso duro de roer” (= osso duro de ser roído). 

A presidente ou a presidenta?

Ambas corretas. São quatro os nomes terminados em “e” que trocam essa vogal final por “a” no feminino. Porém, não obrigatoriamente: presidente, governante, hóspede, e parente. 

Remédio = Medicamento?

Não. Remédio é tudo aquilo que contribui para curar as enfermidades, para conservar a saúde. Trata-se de termo mais exclusivo (amplo) que medicamento. Esse significa uma preparação farmacêutica, isto é, remédio preparado em farmácia ou laboratório. Assim é que há remédio caseiro (chá). Os medicamentos provêm todos da farmácia para o domicílio de todos nós. 

“A economia brasileira vai de vento em popa” ou “A economia brasileira vai vento em popa”?

Ambas corretas. Existem as duas expressões de nossa Língua; “Ir de vento em popa” ou “ir vento em popa”, contanto que se vá; pode ir de qualquer jeito. A questão é que, em termos de economia brasileira, nunca se vai... ou se vai, mas nunca de vento, e muito menos em popa. 

Horas extra ou horas extra?

A primeira. Apesar de “extra” ser prefixo, seu uso como adjetivo, em lugar de extraordinário, já está consagrado. E, sendo assim, sua flexão é obrigatória. A propósito, convém lembrar: a correta pronúncia de tal adjetivo é “êxtra (s)” e não “´éxtra (s)”. Observe-se que o timbre da vogal “e” em extraordinário é fechado. Veja o caso de “fêcha” e “fécha”. 

(*) Professor Antônio da Costa é graduado em Letras Plenas, com Especialização em Língua Portuguesa e Literatura, na Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). Contatos: (088) 99373-7724

 

 


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