Segundo
Tedros, a decisão de convocar o comitê de emergência levou em conta o registro
de casos fora da República Democrática do Congo, onde as infecções estão em
ascensão há mais de dois anos. O cenário se agravou ao longo dos últimos meses
em razão do uma mutação que levou à transmissão do vírus de pessoa para pessoa.
Ontem
(13), o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC África) declarou o
cenário de mpox na região como emergência em saúde pública de segurança
continental. O anúncio foi feito pelo diretor-geral da entidade, Jean Kaseya,
ao citar a rápida transmissão da doença na África.
“Esse
não é apenas mais um desafio. O cenário exige ação coletiva", disse.
"Nosso continente já presenciou diversas lutas. Já enfrentamos pandemias,
surtos, desastres naturais e conflitos. Ainda assim, para cada adversidade,
agimos. Não como nações fragmentadas, mas como uma única África. Resilientes,
de forma engenhosa e resoluta."
Números
De
janeiro de 2022 a junho de 2024, a OMS registrou 99.176 casos confirmados de
mpox em 116 países. No período, foram contabilizadas ainda 208 mortes
provocadas pela doença.
Dados
do relatório de situação divulgado segunda-feira (12) pela entidade
mostram que, apenas em junho, 934 casos foram confirmados laboratorialmente e
quatro mortes foram notificadas em 26 países, “sinalizando transmissão
contínua da mpox em todo o mundo”.
As
regiões mais afetadas em junho, de acordo com o número de casos confirmados,
são África (567 casos), América (175 casos), Europa (100 casos), Pacífico
Ocidental (81 casos) e Sudeste Asiático (11 casos). O Mediterrâneo Oriental não
notificou casos nesse período.
No
continente africano, a República Democrática do Congo responde por 96% dos
casos confirmados em junho. A OMS alerta, entretanto, que o país tem acesso
limitado a testes em zonas rurais e que apenas 24% dos casos clinicamente
compatíveis e notificados como suspeitos no país foram testados em 2024.
Pelo
menos quatro novos países na África Oriental, incluindo Burundi, Quênia, Ruanda
e Uganda, reportaram seus primeiros casos de mpox – todos ligados ao surto em
expansão na região. Já a Costa do Marfim registra um surto da doença, mas de
outra variante, enquanto a África do Sul confirmou mais dois casos.
Maior
letalidade
No
fim de junho, a OMS chegou a alertar para uma variante mais perigosa da mpox. A
taxa de letalidade pela nova variante 1b na África Central chega a ser de mais
de 10% entre crianças pequenas, enquanto a variante 2b, que causou a epidemia
global de mpox em 2022, registrou taxa de letalidade de menos de 1%.
Vacina
Esta
semana, a OMS publicou documento oficial solicitando a fabricantes de vacinas
contra a mpox que submetam pedidos de análise para o uso emergencial das doses.
O processo foi desenvolvido especificamente para agilizar a disponibilidade de
insumos não licenciados, mas necessários em situações de emergência em saúde
pública.
“Essa
é uma recomendação com validade limitada, baseada em abordagem de
risco-benefício”, destacou a entidade. No documento, a OMS solicita que os
fabricantes de vacinas contra a doença apresentem dados que possam atestar que
as doses são seguras, eficazes, de qualidade garantida e adequadas para as
populações-alvo.
A
concessão de autorização para uso emergencial, segundo a organização, deve
acelerar o acesso às vacinas, sobretudo para países de baixa renda e que ainda
não emitiram sua própria aprovação regulamentar. O processo também permite que
parceiros como a Aliança para Vacinas (Gavi, na sigla em inglês) e o Fundo das
Nações Unidas para a Infância (Unicef) adquiram doses para distribuição.
A
doença
A
mpox é uma doença zoonótica viral. A transmissão para humanos pode ocorrer por
meio do contato com animais silvestres infectados, pessoas infectadas pelo
vírus e materiais contaminados. Os sintomas, em geral, incluem erupções
cutâneas ou lesões de pele, linfonodos inchados (ínguas), febre, dores no
corpo, dor de cabeça, calafrio e fraqueza.
As
lesões podem ser planas ou levemente elevadas, preenchidas com líquido claro ou
amarelado, podendo formar crostas que secam e caem. O número de lesões pode
variar de algumas a milhares. As erupções tendem a se concentrar no rosto, na
palma das mãos e na planta dos pés, mas podem ocorrer em qualquer parte do
corpo, inclusive na boca, nos olhos, nos órgãos genitais e no ânus.
Primeira
emergência
Em
maio de 2023, quase uma semana após alterar o status da covid-19, a OMS
declarou que a mpox também não configurava mais emergência em saúde pública de
importância internacional. Em julho de 2022, a entidade havia decretado status
de emergência em razão do surto da doença em diversos países.
“Assim
como com a covid-19, o fim da emergência não significa que o trabalho acabou. A
mpox continua a apresentar desafios de saúde pública significantes que precisam
de resposta robusta, proativa e sustentável”, declarou, à época, o
diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom.
“Casos
relacionados a viagens, registrados em todas as regiões, demonstram a ameaça
contínua. Existe risco, em particular, para pessoas que vivem com infecção por
HIV não tratada. Continua sendo importante que os países mantenham sua
capacidade de teste e seus esforços, avaliem os riscos, quantifiquem as
necessidades de resposta e ajam prontamente quando necessário”, alertou Tedros
em 2023.
(Ag.
Brasil)
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