“Os
professores percebem que existem sim situações de racismo entre os estudantes.
Mas essa percepção muda entre professores brancos e negros. Entre os
professores negros, corresponde a 56%, enquanto entre os brancos é de 48%.
Essa percepção muda também entre os estudantes. Nesse caso, perguntamos se eles
se sentem respeitados pelos seus cabelos crespos, penteados ou cor de pele. E a
gente viu que 13% dos estudantes negros discordam mas, entre os brancos, o
índice é de 8%”, disse Esmeralda Macana, coordenadora do Observatório
Fundação Itaú.
A
pesquisa foi feita sob dois recortes. Um deles analisou o clima escolar e foi
realizado em 144 escolas, ouvindo 2.706 alunos, 384 docentes e 235
gestores entre março e abril deste ano. A outra parte do estudo analisou o
enfrentamento ao racismo, com dados colhidos entre abril e maio de 2024
em 160 escolas, 2.889 alunos, 373 docentes e 222 gestores. “Buscamos
entender como os estudantes se sentem no cotidiano escolar e como isso se
caracteriza na percepção deles próprios, dos professores e dos gestores escolares”,
explicou Esmeralda.
Clima
escolar
No
levantamento sobre clima escolar, o estudo mostrou que a sensação de
acolhimento dos alunos nas escolas vai diminuindo conforme avançam as etapas de
ensino. Nos anos iniciais do ensino fundamental (entre o 1º e o
5º anos), por exemplo, o índice de acolhimento chega a 86%. Nas etapas
finais do ensino fundamental (entre o 6º e o 9º ano) essa sensação
cai para 77%. Quando se analisam os estudantes do ensino médio, o
percentual passa a ser de 72%.
“A
sensação de acolhimento dos estudantes vai diminuindo conforme as etapas de
ensino. Por exemplo, no caso dos anos iniciais, essa percepção é de 86%”, disse
Esmeralda, em entrevista à Agência Brasil.
“Isso
tem a ver com várias questões e desafios da própria educação em uma etapa de
transição. São crianças que vão passar pela etapa da adolescência, em que
pode haver mudança de escola e também mudança de como se dá o
processo de aprendizagem, com a passagem para múltiplos professores. Então, os
estudantes acabam enfrentando mais desafios nessa parte de acolhimento porque
são estudantes que poderão estar em novas escolas, com professores
especialistas, com distintas disciplinas e mudanças de colegas, além de
alterações no seu próprio desenvolvimento físico e que são naturais da
adolescência”, completou.
A
pesquisa revelou ainda que essa sensação de acolhimento é maior entre os
brancos. Cerca de 84% dos alunos brancos dizem se sentir acolhidos, enquanto
esse índice cai para 78% entre os negros.
Há
também uma diferença de percepção sobre o acolhimento entre alunos, professores
e gestores. Entre os professores, 92% disseram que os alunos se sentem
acolhidos na escola, uma diferença de 11 pontos em relação à mesma pergunta
feita para os alunos (81%). Entre os gestores, o percentual sobe para 93%.
Enfrentamento
ao racismo
O
segundo recorte, sobre o enfrentamento ao racismo, indicou que sete em cada dez
estudantes (70%) concordam que os alunos negros são respeitados nas escolas em
relação ao seu fenótipo. Essa percepção, porém, é diferente entre alunos
brancos e negros: entre os primeiros, 8% discordam do anunciado, enquanto para
os negros, o percentual é de 13%.
Outro
dado apresentado pelo estudo mostra que 21% dos professores brancos disseram
não saber o que fazer para lidar com o racismo dentro da escola. Entre os
docentes negros, o índice cai para 9%.
Na
média geral, 75% dos professores disseram que na sua escola há procedimentos
para lidar com casos de racismo. “É preciso que exista a formação
dos professores para identificar essas situações [de racismo]”, disse a
coordenadora.
No
entanto, destacou Esmeralda, o enfrentamento ao racismo não é tarefa
apenas dos professores. Para ela, somente ações estruturais e que envolvam toda
a rede de ensino, juntando comunidade, funcionários e familiares dos alunos,
podem superar o problema. “Quando as crianças se sentem mais valorizadas
por sua identidade, seu território e sua cultura, elas vão se sentir mais
acolhidas, defendeu.
“As
escolas precisam promover um clima escolar positivo. E isso se dá de várias
formas, inclusive a arte e a cultura podem ajudar nessa promoção. Também é
preciso um currículo escolar mais enriquecido com arte e cultura para o
enfrentamento do racismo. Há a lei 10.639, que existe há 20 anos, e que traz a
obrigação do ensino das relações étnico-raciais e do ensino da história
afro-brasileira, que precisa ser implementada. Isso implica ter materiais
pedagógicos adequados e que tragam referências de representações negras”,
completou.
Segundo
ela, todas essas ações são importantes não só para o enfrentamento do racismo,
mas também a promoção de um clima positivo, prevenindo violências e bullyings.
(Ag.
Brasil)
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