São fatos que podemos chamar de contextos críticos e de emergência, e que ocorrem em um mundo cada vez mais afetado por crises interconectadas que envolvem crises ambientais (que podem provocar migrações forçadas), insegurança alimentar e pandemias com novas doenças.
Embora muitos Estados da região tenham feito esforços para mitigar os efeitos
das crises, esses esforços muitas vezes se mostraram fragmentários e
insuficientes. Da mesma forma, as coordenações regionais para gerenciar as
ameaças e responder aos contextos críticos e de emergência, incluindo a
pandemia de covid-19 e seus impactos posteriores, tiveram algumas
limitações.
Nesse cenário, o papel da sociedade civil, redes, movimentos e organizações
sociais que atuam em conjunto com a comunidade tem sido fundamental para
enfrentar os desafios impostos por esses novos cenários em toda a região. Além
disso, a necessidade de proteção, assistência humanitária e afirmação dos
direitos humanos se tornou um tema cada vez mais relevante.
É essencial integrar a perspectiva de direitos humanos no discurso e nas políticas públicas para criar soluções justas e equitativas frente às consequências das mudanças climáticas. A América Latina tem um papel estratégico em relação aos contextos críticos e de emergência. Não é apenas uma região de refúgio diante das guerras, mas também pode oferecer soluções para problemas globais em energia, segurança alimentar, biodiversidade, conhecimento e na construção de políticas públicas com enfoque em direitos humanos.
A incorporação da perspectiva de direitos humanos como uma ferramenta indispensável que fornece orientações claras sobre como pensar as políticas públicas, as respostas às crises e os cenários de recuperação pode colaborar em como enfrentamos esses cenários de crise e emergência.
Valorizar o papel e protagonismo dos diversos movimentos, redes e organizações
sociais que estão nos territórios e trabalham articulados com as comunidades
afetadas é imprescindível para alcançar uma gestão e planejamento eficazes das
políticas públicas. Gerar espaços de participação, diálogo e intercâmbio com a
sociedade civil continua sendo um mecanismo fundamental para enfrentar esses
novos riscos e desafios.
Em nossa região, as comunidades desenvolveram valiosas respostas frente à
pandemia de covid-19 e a outros cenários críticos e de emergência, que vão
desde fluxos migratórios massivos (alguns motivados por deslocamentos forçados)
até diferentes tipos de epidemias graves e pandemias, além de inundações, secas
e outros desastres causados pelas mudanças climáticas.
Com essa visão, o Instituto de Políticas Públicas em Direitos Humanos do Mercosul (IPPDH) está convocando, no ano em que
completamos 15 anos, uma nova realização de uma Consulta Pública, um espaço de
diálogo extremamente necessário para trocar saberes e práticas comunitárias, a
partir das lições aprendidas. São os referentes territoriais, os lideranças
comunitárias de diferentes organizações que sustentam diariamente o papel de
defender os direitos humanos das populações afetadas nos territórios. E o fazem
em uma região especialmente hostil e violenta para os líderes e defensores ambientais.
Nos próximos dias 21 e 22 de outubro, teremos a oportunidade de congregar as
vozes e perspectivas de diferentes organizações, redes e movimentos sociais da
região na XIII Consulta Pública do Fórum de Participação Social do IPPDH sobre
Contextos Críticos e de Emergência, que ocorrerá na sede do nosso instituto, na
Cidade Autónoma de Buenos Aires, com participação presencial e remota.
Participarão diferentes representantes de organizações, líderes de comunidades
indígenas e afro, assim como de organizações defensoras dos direitos de pessoas
migrantes, afrodescendentes, mulheres, dissidências, pessoas LGBTIQ+, idosos,
crianças e adolescentes, pessoas em situação de rua, entre outros. Mais de 200
pessoas de 11 países da região se inscreveram para fazer parte desse diálogo,
que contará também com participação virtual na discussão e intercâmbio em
Grupos de Trabalho sobre seis grandes eixos: renda, trabalho e meios de vida;
segurança alimentar, moradia, hábitat e meio ambiente; educação e acesso à
informação e cuidados.
Esse debate convida a refletir e ter uma visão mais realista sobre a atuação da
gestão pública. Há um uso de estratégias que muitas vezes chega tarde. A ação
jurídica, em geral, ocorre a posteriori, após as violações ou danos ambientais.
Temos observado que há uma fragilidade quando as organizações atuam com uma
visão predominantemente jurídica ou legalista e, por outro lado, uma enorme
força quando os organismos de direitos humanos trabalham de maneira integral,
considerando diferentes estratégias.
É muito enriquecedora e interessante a proximidade e articulação que pode ser
gerada entre organizações que atuam com os direitos humanos e organizações
territoriais, ambientais, que trabalham com ajuda humanitária e com a temática
na gestão integral, pois possuem uma perspectiva preventiva em relação aos
riscos e danos.
*Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.
** Andressa Caldas é Diretora Executiva do IPPDH - Mercosul.
(Fonte: Brasil de Fato)
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