James McMillan e Lisa McCuish cresceram juntos em uma rua sem saída no alto de uma colina, com vista para a Baía de Oban. Agora eles jazem lado a lado no Cemitério Pennyfuir.
As lápides recentes do cemitério contam uma história alarmante sobre uma geração perdida nesta bela cidade turística na costa oeste da Escócia.
Oban tem apenas 8 mil habitantes, e pelo
menos oito vítimas, confirmadas ou suspeitas, de uso abusivo de drogas,
foram enterradas aqui recentemente. A mais jovem tinha 26 anos, e a mais velha,
48 anos.
A população da cidade é quase a mesma do
número total de mortes por overdose registradas na Escócia nos últimos sete
anos — de longe, a pior taxa da Europa.
As mortes levaram a apelos por medidas
urgentes para combater a dependência na zona rural da Escócia, com familiares
citando problemas de acesso a serviços vitais.
O secretário de Saúde da Escócia, Neil
Gray, disse à BBC News que reconhece que é preciso fazer mais para combater o
uso indevido de drogas nas áreas rurais.
Para a mãe de James, Jayne Donn, o
pesadelo começou antes do amanhecer em uma noite gelada de dezembro de 2022,
quando ela foi acordada pela campainha da porta.
"Às 4h50 da manhã, quando estava
nevando, e minha árvore de Natal estava montada, a polícia veio até minha
porta", diz ela.
Os policiais foram até lá, como Jayne
temia há muito tempo, para comunicar a ela que seu filho de 29 anos havia
morrido de overdose.
James foi mais uma vítima de uma crise que
assola a Escócia há quase uma década — e que, em 2023, causou 1.172 mortes.
"Quando era pequeno, ele era loiro,
de olhos azuis e muito travesso", conta Jayne na sala de estar da casa da
família.
O James adolescente adorava "pescar,
música e seu skate."
"Como homem, não há muitas lembranças
boas", diz Jayne.
"Ele estava muito confuso. Muito
irritado. Estava muito perdido."
O
pai de James deixou a casa da família quando ele tinha sete anos.
Ele
teve dificuldades na escola com dislexia e
problemas de saúde mental e, mais
tarde, começou a se envolver com maconha.
Ele
começou a ter problemas, primeiro com os professores, depois com a polícia.
À
medida que se tornava adulto, James se afastou de Oban e da família, perdendo
um emprego como aprendiz de pedreiro devido à baixa assiduidade e concentração,
e acabou desaparecendo na Inglaterra.
Jayne
diz que sabia pouco sobre o que estava acontecendo lá. Na verdade, a vida do
filho estava se desfazendo.
Ele
havia sido diagnosticado com transtorno de
déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), transtorno bipolar e psicose induzida por
drogas.
Ele
estava lutando com tendências suicidas,
consumindo drogas cada vez mais pesadas e recorrendo cada vez mais ao crime.
Como
resultado, ele foi detido várias vezes por acusações relacionadas a drogas,
perturbação da ordem pública, arrombamentos e roubos, chegando a cumprir uma
pena de dois anos de prisão.
James
morreu em Glasgow, na Escócia, em 16 de dezembro de 2022, menos de dois dias
depois de ser liberado da prisão, após cumprir oito meses de prisão preventiva
no presídio de Barlinnie.
A
mãe de James diz que não sabe os detalhes das últimas acusações que ele
enfrentou, nem por que ele foi libertado, mas acredita que poderia ter sido
feito mais para apoiar seu filho, pois ele havia tido uma overdose ao sair da
prisão em três ocasiões anteriores.
Uma
fonte do Serviço Penitenciário Escocês destacou que as decisões tomadas ao
final de um período de prisão preventiva são de competência dos tribunais, não
da prisão.
Jayne
lista uma rede de organizações que atenderam seu filho: instituições de
caridade, autoridades locais, o NHS, sistema público de saúde britânico,
serviços de tratamento de dependência, provedores de moradia, entre outros.
Mas
ela ressalta: "Ele foi solto em uma cidade que não conhecia, sem casaco,
sem dinheiro e sem ninguém ciente".
"Ele
durou menos de 36 horas."
Lisa
McCuish cresceu ao lado de James em uma rua com vista para a Baía de Oban, onde
as balsas da Caledonian MacBrayne fazem o trajeto de ida e volta para as ilhas
Hébridas.
Recentemente,
Oban foi nomeada cidade do ano da Escócia por uma organização que promove
comunidades menores.
Hoje,
a irmã de Lisa, Tanya, está sentada na sala de estar de Jayne, com lágrimas nos
olhos, se lembrando da irmã como "uma pessoa radiante" com "um
coração de ouro".
"Lisa
nunca se envolveu com drogas, sabia? Ela não era assim", diz Tanya.
As
coisas começaram a desandar depois que Lisa recebeu uma prescrição de Diazepam,
remédio que normalmente é usado para tratar ansiedade,
convulsões ou espasmos musculares.
"Ela
acabou comprando o medicamento nas ruas porque achava que precisava de
mais", lembra Tanya.
"Ela
continuava dizendo que precisava de mais ajuda, mais apoio."
Foi
então que, segundo ela, sua irmã começou a usar heroína.
Lisa
teve uma parada cardíaca em 13 de setembro de 2022, e morreu quatro dias depois
no hospital em Paisley. Ela tinha 42 anos.
Ela
tinha medicamentos prescritos no organismo, e também Etizolam, substância
análoga à benzodiazepina, comumente conhecida como Valium de rua, pois é
frequentemente vendida ilicitamente.
Tanya
e Jayne nos levam ao local em que ambos seus entes queridos estão sepultados,
apontando para outros túmulos próximos onde estão enterradas vítimas recentes
do uso de drogas.
Entre
elas, está o melhor amigo de James, que jaz ao lado dele e de Lisa. Ele tinha
30 anos quando morreu de overdose.
"É
horrível pensar que há pelo menos 10 por aqui que conseguimos lembrar",
diz Jayne.
Não
há um registro oficial de quantas vidas foram ceifadas pelas drogas em pequenas
comunidades como Oban.
Conseguimos confirmar que pelo menos oito das mortes ocorreram em apenas um ano e meio, e estavam relacionadas a drogas, ou ainda estão sendo investigadas.
"Pessoalmente,
acredito que grande parte da dependência tem a ver, antes de tudo, com a saúde
mental", afirma Tanya.
"Não
há continuidade no apoio dos serviços de tratamento de dependência ou dos
serviços de saúde mental. Não há nenhuma ligação."
Jayne,
que também trabalha na assistência a dependentes de drogas, diz que passou anos
tentando trazer James para Oban, onde ela achava que ele teria mais chances de
recuperação e sobrevivência.
Um
desafio em particular, segundo ela, foi o fato de o Conselho local de Argyll e
Bute ter oferecido a James moradias em Dunoon e Helensburgh — ambas as cidades
ficam a cerca de duas horas de distância —, tornando muito difícil para sua
família apoiá-lo.
A
autoridade local afirmou que havia oferecido serviços "apropriados
Para
Justina Murray, CEO da organização beneficente Scottish Families Affected by
Alcohol and Drugs, os problemas não estão na estratégia ou no financiamento,
mas na cultura e na prestação de serviços, especialmente nos serviços para
tratar a dependência do NHS.
"As
pessoas querem serviços que estejam em sua própria comunidade, que possam
acessar quando precisarem, que sejam recebidas na porta por um rosto
amigável", diz ela.
"Que
sejam tratadas com dignidade e respeito."
"Essa
não é necessariamente a experiência que você vai ter ao se envolver com o NHS
ou com um serviço de tratamento obrigatório."
De
acordo com os dados mais recentes disponíveis, divulgados em setembro de 2024,
há capacidade para 513 leitos de reabilitação residencial na Escócia, em 25
unidades.
Apenas
11 destes leitos estão disponíveis em áreas rurais consideradas muito remotas
pelo governo escocês, embora a maioria das unidades aceite encaminhamentos de
qualquer parte da Escócia.
Pergunto
a Jayne e Tanya sobre o argumento de que os indivíduos e suas famílias, e não o
Estado, deveriam assumir mais responsabilidade por suas próprias escolhas.
"Ninguém
se propõe a ser um viciado em drogas", responde Jayne.
"Ninguém
escolhe isso. O problema de saúde mental foi o que levou James a tentar fugir
da realidade."
"Ele
então não tinha mais capacidade de fazer suas escolhas. Ele não era mais
James."
"Estes
são adultos vulneráveis que não conseguem se proteger de perigos ou
danos", acrescenta Tanya.
"Por
que não se está fazendo mais?"
"Alguma
coisa precisa mudar", concorda Jayne.
"Estamos
perdendo muitos jovens."
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