quinta-feira, 3 de julho de 2025

Campanha do PT por taxação dos mais ricos mira Congresso, que ‘fala em corte, mas aumenta seus gastos’, diz cientista político

O reagrupamento familiar não é a única política de imigração que o governo pretende modificar. A lei que será apresentada no Parlamento pretende restringir também o visto para procura de trabalho, limitando seu acesso a "candidatos com elevadas qualificações".

Na prática, essa medida pode reduzir o número de pedidos de visto para Portugal, uma vez que o visto para trabalho é o mais procurado nos consulados com mais demanda, como é o caso do Brasil.

Segundo o Ministério dos Negócios Estrangeiros, em 2024 foram concedidos 32.000 vistos de trabalho pela rede consular portuguesa — 40% deles, cerca de 13.000, a cidadãos brasileiros.

A lei de estrangeiros em vigor define como "atividade altamente qualificada aquela cujo exercício requer competências técnicas especializadas ou de carácter excepcional e, consequentemente, uma qualificação adequada para o respectivo exercício, designadamente de ensino superior".

A nova proposta do governo não diz o que entende por "altas qualificações", definição que será especificada mais à frente pelos responsáveis da área de educação, trabalho e migrações.

Segundo dados de junho de 2024 do Banco de Portugal, os brasileiros lideravam entre os trabalhadores estrangeiros de todos os setores, menos agricultura e pesca, onde predominam indianos, nepaleses e bengalis.

Há mais de 200 mil trabalhadores brasileiros inscritos na Segurança Social — ou seja, são pessoas que têm trabalhos formais.

"É contraditório Portugal restringir esse tipo de visto quando continua a ter falta de mão de obra em todos os setores. Além disso, o visto de procura de trabalho tem uma regra clara: as pessoas podem ficar aqui meio ano com esse visto e, se encontrarem trabalho, podem permanecer e pedir o título de residência", ressalta Ana Paula Costa.

Freitas acredita que "Portugal não vai perder competitividade para atrair trabalhadores menos qualificados" e defende que até agora "o país tinha criado expectativas para essas pessoas que depois não era capaz de cumprir", demorando os processos por falta de planejamento.

"Agora vamos ter um Estado funcionando, dando respostas adequadas e integrando as pessoas com dignidade", insiste.

Outra das mudanças é a "revisão da lei da nacionalidade, alargando o tempo mínimo de residência e presença efetiva em território nacional, eliminando a possibilidade de a permanência ilegal ser considerada para efeitos de contagem desse tempo, e assegurando que quem adquire a nacionalidade portuguesa tenha uma relação efetiva e uma integração de sucesso no país".

Até agora, era preciso permanecer no país pelo menos cinco anos para poder pedir a nacionalidade. Na nova lei, esse tempo vai ser de sete anos para os imigrantes de países de língua portuguesa e de dez anos para aqueles dos demais.

Nesse caso, os brasileiros também estariam entre os grupos mais afetados. Segundo dados do Ministério da Justiça, entre 2010 e 2023, mais de 400 mil brasileiros obtiveram a nacionalidade portuguesa.

Caroline cumpriu os cinco anos de residência em Portugal em fevereiro. "Como já se falava da possibilidade de mudança, eu aproveitei que fui ao Brasil buscar a minha mãe, pedi todos os documentos e dei entrada no processo de pedir a nacionalidade no final de março. Foi sorte", conta.

A engenheira considera que essas mudanças na lei podem trazer consequências negativas para o país.

"Eu entendo que Portugal quer ter mais controle no perfil das pessoas que entram no país. Mas o profissional que quer vir fazer sua vida aqui, se integrar na comunidade, contribuir para a sociedade, precisa de previsibilidade. E agora a ideia que passa é que nesse país, as regras estão mudando a toda a hora e isso deixa as pessoas com o pé atrás", explica.

Além disso, o governo quer mudar a lei também para a atribuição de nacionalidade às crianças nascidas em Portugal. Elas tinham direito à nacionalidade se um dos pais residisse no país há um ano, mas agora o prazo será de três anos.

A proposta inclui ainda a possibilidade de retirar a nacionalidade de imigrantes com dupla nacionalidade que, num prazo de dez anos depois da naturalização, sejam "condenados por crimes de elevada gravidade" a penas de prisão efetiva de cinco anos ou mais.

Alguns analistas põem em dúvida a constitucionalidade dessa norma, mas Freitas afirma que ela está "garantida" segundo suas avaliações e que essa decisão "nunca será administrativa, mas sempre aplicada por um juiz".

(Brasil de Fato)

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