“Os
bebês negros ficam muito abandonados, recebem menos afeto, menos colo”, afirma.
Segundo ela, esse abandono impacta diretamente o desenvolvimento das crianças.
Algumas demoram mais para andar por falta de estímulo. Outras, diante da
ausência de afeto, se desenvolvem rapidamente por necessidade. “William só tem
oito meses e já começou a andar. Só que o William chorava alto e ninguém pegava
ele no colo. Então, ele se virou”, exemplifica.
As
marcas do racismo na primeira infância também aparecem na maneira como outras
crianças reproduzem a exclusão. “O menino negro vai ser o último escolhido a
brincar, o último para dançar na festa junina. Se os adultos fazem isso, a
criança branca aprende que também pode fazer”, diz a autora.
Santos
chama atenção ainda para a forma como o corpo das crianças negras é tratado com
desconfiança ou incômodo. “O suor do menino negro incomoda. As professoras
comentam. Mas quem, brincando no sol, não transpira? Nas trocas de fralda, o
cocô da criança negra é sempre comentado, tachado, exposto. É muito cruel. Uma
situação que é comum a todas as pessoas, grandes, pequenas, como se fosse um
absurdo”, cita.
Marcas silenciosas que perduram
A
autora aponta que muitas dessas atitudes são reproduzidas de forma inconsciente
por educadoras, mas não por isso são menos danosas. “Fomos construídas a partir
de uma sociedade em que o racismo é estrutural. As reiteradas não escolhas aos
bebês negros tantas vezes sequer são percebidas por quem educa”, observa.
Para
Santos, essas experiências não desaparecem com o tempo, mesmo que as crianças
não tenham recordações conscientes. “O racismo pode não ser lembrado, porque
são crianças muito pequenas, mas deixa marcas”, destaca.
Com
base em relatos e observações de duas décadas na educação infantil, Democratização do colo é,
segundo a autora, um chamado para que bebês e crianças negras tenham mais do
que cuidados básicos: recebam afeto, reconhecimento e presença. “É uma
convocação para que os bebês e as crianças negras tenham colo”, indica.
Para ouvir e assistir
O BdF Entrevista vai
ao ar de segunda a sexta-feira, sempre às 21h, na Rádio Brasil de Fato, 98.9 FM na
Grande São Paulo. No YouTube
do Brasil de Fato o
programa é veiculado às 19h.
(Brasil de Fato)
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