No
cenário internacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) anunciou
nesta semana, em discurso na Assembleia Geral da ONU, um aporte brasileiro de
US$ 1 bilhão a um novo fundo global para florestas tropicais. O
gesto sinaliza o papel que o Brasil pretende apresentar ao sediar a COP30,
em novembro, em Belém (PA).
Em
casa, os primeiros resultados começam
a aparecer. Dados do sistema Prodes, do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam queda de 30,6% no desmatamento da Amazônia
em 2024, com 6.288 km² desmatados, contra 9.064 km² em 2023. Trata-se da menor
taxa desde 2018 e de um indício de retomada da política de comando e controle.
No entanto, os incêndios permanecem como desafio. O Inpe registrou números elevados em 2024, influenciados pela seca severa e pelos efeitos do El Niño. Especialistas destacam que a pressão do fogo responde não apenas à fiscalização, mas também a variáveis climáticas e sazonais.
O que é
“Gestão Ambiental”
A função
Gestão Ambiental, identificada pelo código 18 no Orçamento Federal,
agrega todas as ações finalísticas e de apoio relativas a meio ambiente e clima
em diferentes ministérios e autarquias. O escopo vai do licenciamento e
fiscalização até obras de infraestrutura ambiental, passando por pesquisa e
biodiversidade, segurança hídrica, gestão de florestas e ações socioambientais
em territórios indígenas e quilombolas.
Segundo
Adriana Pinheiro, assessora de incidência política do Observatório do Clima,
esse recorte é estratégico. “Quando a gente pega esse extrato, ele é muito
legal para ver de forma mais ampla a área ambiental. Ele pega meio ambiente e
clima, mas também saneamento e recursos hídricos. Então é excelente para
enxergar a política ambiental como um todo.”
Esse
recorte permite observar a política ambiental em sentido amplo. A média de R$ 9,9
bilhões nos anos de 2023 e 2024, sob Lula, contrasta com os R$ 4,3 bilhões do
governo Bolsonaro e os R$ 5,2 bilhões registrados no período Temer.
Fiscalização
e combate a incêndios
Dentro da
função 18, algumas rubricas concentram o núcleo do comando e controle
ambiental. São ações ligadas ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e ao Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade (ICMBio).
No Ibama,
os orçamentos destinados à fiscalização e à prevenção e combate a incêndios
foram reforçados. Em 2024, juntas, alcançaram R$ 322 milhões, alta de 165%. Com
relação às rubricas ligadas ao ICMBio, a fiscalização foi reforçada, mas o
combate a incêndios decaiu no período mais recente
Segundo Adriana Pinheiro, há um reforço financeiro perceptível destinado ao meio ambiente. “Existe uma correlação entre o aumento orçamentário e a melhora dos indicadores. Quando há investimento, a política tende a se tornar mais efetiva. Mas não é associação direta, o resultado depende de capacidade institucional e coordenação federativa”, explica.
Falta
“engenharia institucional”
Mesmo com
o reforço orçamentário, a presença do Estado em campo continua limitada pelo déficit de pessoal.
O Ibama contava com cerca de 1.800 agentes fiscais em 2009. Em 2021, esse
número caiu para 630 e, em junho de 2025, estava em 771.
A queda
na força de trabalho impactou o número de autos de infração: foram 19,6 mil em
2010 contra 8,4 mil em 2021, uma redução de 55%. Segundo a Associação Nacional
dos Servidores da Carreira de Especialista em Meio Ambiente (Ascema), o déficit
chega a 50,9% entre analistas ambientais e 82,6% entre analistas
administrativos. No ICMBio, apenas 55% do quadro previsto está ocupado, e mais
da metade já reúne condições para aposentadoria.
“Não é só
dinheiro”, reforça Adriana Pinheiro. “Falta pessoal, capacidade técnica e
coordenação entre União, estados e municípios. Cada bioma demanda um desenho
específico. A Amazônia concentra o desmatamento ilegal; o Cerrado exige outra abordagem para
o fogo e a sazonalidade. Sem essa engenharia institucional, o ganho não se
sustenta.”
Para o Observatório do Clima, a experiência reforça a necessidade de blindar as políticas ambientais contra flutuações políticas. “Meio ambiente e clima precisam ser tratados como política de Estado. Desmontar é rápido; reconstruir é lento”, resume Pinheiro.
Economia
da floresta em pé
Entre as
propostas defendidas pelo Observatório do Clima estão a criação de marcadores
orçamentários ambientais, que conectem planos a linhas de gasto, e a blindagem
contra contingenciamentos. A entidade também propõe discutir um percentual
mínimo para emendas parlamentares voltadas ao clima e à adaptação, referência
que poderia variar entre 5% e 10%.
Outra
prioridade é a recomposição de quadros por meio de concursos regulares,
capacitação técnica e fortalecimento do poder de polícia, garantindo aplicação
de multas e embargos. Também ganha relevância o estímulo a uma “nova economia
da floresta em pé”, baseada em bioeconomia, valorização de serviços
ecossistêmicos, intensificação sustentável em áreas já abertas e fortalecimento
comunitário.
Para a
assessora de incidência política Adriana Pinheiro, o debate sobre
sustentabilidade passa pela revisão do modelo econômico: “A expansão
desordenada sobre vegetação nativa é incompatível com o futuro. A alternativa
combina floresta em pé, bioeconomia e renda de baixo impacto. E isso exige
tanto recursos estáveis quanto instituições fortalecidas.”
(Brasil de Fato)




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