"Realmente eu não esperava", disse o economista francês à BBC News Mundo — serviço em espanhol da BBC.
Aghion é pesquisador do Collège de France e do INSEAD, na França, e da London School of Economics and Political Sciense, do Reino Unido, e dividiu o prêmio com Peter Howitt e Joel Mokyr.
A Academia Real das Ciências da Suécia disse que o
prêmio concedido à dupla Aghion-Howitt, é um reconhecimento da "teoria do crescimento sustentado por meio da
destruição criativa".
Nem todo mundo está familiarizado com esse conceito
cunhado pelo economista Joseph Schumpeter em
1942.
Em poucas palavras, a destruição criativa é um
processo em que a inovação desmonta estruturas econômicas
tradicionais, abrindo espaço para novas.
A Academia explica isso, em seu texto sobre o
prêmio deste ano, sob a ótica de que o mundo tem experimentado um crescimento
econômico sem precedentes nos últimos 200 anos. A base desse crescimento tem
sido o fluxo constante de inovação tecnológica, observa.
"O crescimento econômico sustentado ocorre
quando as novas tecnologias substituem as antigas, como parte do processo
conhecido como destruição criativa", diz a Academia.
Destruir para criar
Durante a maior parte da história da humanidade, o
nível econômico das pessoas não mudou consideravelmente de uma geração para
outra, apesar de importantes descobertas ocasionais. O crescimento sempre
acabava estagnado com o passar do tempo.
Mas isso mudou fundamentalmente com a Revolução
Industrial, há pouco mais de dois séculos.
A partir desse momento, a inovação tecnológica e
científica deu lugar a um ciclo interminável de progresso, em vez de eventos
isolados.
Isso, explicam os responsáveis pela entrega do
prêmio, levou a um crescimento sustentado e notavelmente estável.
As pesquisas de Aghion e Howitt, afirma a Academia,
geraram um modelo matemático que explica como algumas empresas investem em
melhores processos de produção e novos produtos de melhor qualidade, enquanto
outras são superadas pela concorrência.
"O crescimento surge da destruição criativa.
Esse processo é criativo porque se baseia na inovação, mas também é destrutivo
porque os produtos antigos se tornam obsoletos e perdem seu valor
comercial", explicam os membros do comitê responsável pela premiação.
Em apenas dois séculos, a destruição criativa
transformou fundamentalmente a sociedade.
Os economistas premiados este ano conseguiram
explicar por que esse desenvolvimento foi possível e o que é preciso para um
crescimento sustentado.
A inovação, em qualquer de suas formas, fomenta a
concorrência e incentiva a criação de tecnologias disruptivas, algo em que
Aghion tem trabalhado intensamente.
"A entrada de novos talentos é crucial para o
crescimento", explicou Aghion à BBC Mundo.
"É claro que os novos talentos são um
desafio", porque são concorrentes, rivais diante dos outros atores e
empresas já existentes.
"Se tiverem sucesso, podem substituir os
demais", comenta Aghion.
E esse constante desafio é um motor de crescimento.
"Por isso a destruição criativa é
essencial", disse o economista francês de 69 anos. "Precisamos mais
disso."
É claro que nesse processo há ganhadores e
perdedores, afinal de contas, os inovadores fazem com que outras formas de
produção se tornem obsoletas.
Na prática, quando esses novos talentos avançam,
pode haver perdas temporárias de empregos, embora também surjam novas
oportunidades e trabalhos em indústrias emergentes.
Por exemplo, a criação e expansão da internet deu lugar a indústrias
completamente novas, como o comércio eletrônico.
Agora, a inteligência artificial está em um
processo de desenvolvimento acelerado que criará novas indústrias e empregos
que nunca existiram.
Colapso financeiro?
A expansão da inteligência artificial e de toda a
infraestrutura que ela demanda para seu desenvolvimento são parte de uma nova
onda de inovação — parte desse processo de destruição criativa.
Apesar das perspectivas de crescimento econômico
que ela traz, também tem se espalhado, nos últimos anos, o medo de que todo
investimento voltado para essas novas tecnologias esteja criando uma bolha tecnológica que pode estourar a
qualquer momento, arrastando para baixo as bolsas de valores e
provocando uma grande crise global.
Diante da ideia de uma profunda mudança tecnológica
perigosa, que poderia arrastar os mercados para um "crash" como o de
1929 ou a "Grande Crise", de 2008, Aghion pensa de forma diferente.
Ele lembra que a bolha tecnológica de 25 anos
atrás, também conhecida como a crise ponto com — um período de rápido
crescimento e posterior colapso do mercado de ações que afetou principalmente
as empresas baseadas na internet —, acabou se tornando um período de inovação.
"A bolha tecnológica foi uma revolução
importante", afirma.
Pode haver bolhas hoje em dia, mas "acredito
que as bolhas não são um grande problema se não estiverem baseadas em um
excesso de endividamento", como aconteceu no passado.
Fala-se em uma bolha no mercado de ações, o que não
é bom, explica, "mas as bolhas não são o fim do mundo", desde que não
haja um nível de endividamento excessivo.
De qualquer forma, "sempre há um risco com as
bolhas e não quero dizer que esse risco não existe, mas não vejo o risco de um
grande colapso financeiro", observa.
"Tenho mais medo da estagnação econômica do
que de um grande desastre financeiro", argumenta Aghion.
'É preciso aprender a jogar de maneira inteligente'
Olhando para o presente, uma das maiores ameaças ao
crescimento econômico baseado na inovação é o protecionismo, diz o economista,
porque ele não estimula a concorrência e nem a incorporação de novos talentos.
Políticas protecionistas, como as que o governo
americano impôs por meio de suas tarifas, são um alerta para a Europa.
"Temos que ser mais inovadores do que fomos em
décadas passadas, porque estamos competindo com a China e os EUA."
"É preciso aprender a jogar de maneira
inteligente", adverte, porque o mundo mudou muito e "a ameaça do
protecionismo deve ser um estímulo para nos unirmos e sermos muito mais
inovadores".
Sob essa perspectiva, Aghion disse à BBC Mundo que
vê o futuro com entusiasmo.
"Sou otimista porque cada vez mais países estão
entendendo a importância do crescimento baseado na inovação."
E, para que esse crescimento seja sustentável ao
longo do tempo, o economista argumenta que ele deve se concentrar em inovações
ambientais, algo essencial neste momento.
(Fonte:
BBC)
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