Ao longo de 30 anos, a renda
domiciliar per capita cresceu cerca de 70%, o coeficiente de Gini (índice que
mede concentração de renda) caiu quase 18% e a taxa de extrema pobreza recuou
de 25% para menos de 5%.
O progresso foi irregular,
concentrado entre 2003 e 2014, e retomado com força entre 2021 e 2024. Após um
ciclo prolongado de crises entre 2014 e 2021 — marcado por recessão, lenta
recuperação e forte impacto da pandemia — a renda per capita atingiu seu menor
patamar em uma década. A trajetória mudou a partir de 2021: em três anos
seguidos, a renda média cresceu mais de 25% em termos reais, maior avanço desde
o Plano Real, acompanhado de queda expressiva na desigualdade.
“Os resultados mostram que é
possível reduzir
intensamente a pobreza e a desigualdade, mas que esses movimentos
também podem ser interrompidos ou mesmo revertidos por vários fatores. E que é
importante combinar diferentes meios para alcançar esses objetivos fundamentais
do país”, destacou Marcos Dantas Hecksher, autor do estudo ao lado de Pedro
Herculano Souza.
Os pesquisadores atribuem a melhora
recente ao aquecimento do mercado de trabalho e à expansão das transferências
de renda, ambos responsáveis por quase metade da redução da desigualdade e da
queda da extrema pobreza entre 2021 e 2024. Programas como Bolsa Família,
Benefício de Prestação Continuada, Auxílio Brasil e Auxílio Emergencial se
mostraram mais efetivos após 2020.
No entanto, o efeito das
transferências perdeu força em 2023 e 2024 com o fim do ciclo de expansão,
enquanto o mercado de trabalho manteve forte influência sobre os indicadores
sociais.
“As desigualdades precisam ser
combatidas por meio de todas as políticas públicas. Não apenas por melhor
direcionamento de gastos sociais aos mais pobres, mas também por uma
distribuição mais justa dos impostos. É importante promover a produtividade do
trabalho dos mais pobres e, ao mesmo tempo, reduzir a fatia dos recursos
públicos que precisa ser destinada ao pagamento de juros da dívida pública aos
mais ricos”, diz Hecksher.
Em 2024, o país registrou os menores
níveis de pobreza da série. Ainda assim, 4,8% da população vivia abaixo da
linha de extrema pobreza (US$ 3 por dia) e 26,8% abaixo da linha de pobreza
(US$ 8,30 por dia). Mais de 60% da redução da extrema pobreza entre 2021 e 2024
decorreu da melhora distributiva, segundo a decomposição apresentada pelo
estudo.
A nota técnica aponta que o avanço
observado no pós-pandemia tende a perder ritmo com o encerramento da expansão
das políticas assistenciais, tornando o mercado de trabalho ainda mais
determinante nos próximos anos. Os autores alertam que pesquisas domiciliares
tendem a subestimar rendimentos muito altos e parte das transferências sociais,
o que exige cautela na leitura dos resultados.
O documento conclui que o período
recente marca uma mudança estrutural importante: depois de anos de estagnação
ou retrocesso, os indicadores de renda, desigualdade e pobreza voltaram a
melhorar ao mesmo tempo e de forma acelerada.
(Brasil
de Fato)

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