“Decidimos, há mais de dois anos, quando tivemos
notícias de que a COP30 aconteceria aqui no nosso país, que, ante os desafios
que estavam postos pela COP, nós deveríamos construir um dos maiores levantes
da classe trabalhadora”.
A proposta teve êxito. Já no primeiro dia do
encontro popular, circulavam pelo gramado da Universidade Federal do Pará
(UFPA), à margem do rio Guamá, pessoas de diversos lugares, trazendo para o
encontro suas histórias e denúncias. São indígenas, ribeirinhos, quilombolas,
jovens, estudantes, mães e pais com crianças no colo, segurando bandeira e
vestindo camisas com mensagens contra a exploração predatória dos recursos
naturais. Gente que veio de avião, de carro, de barco, enfrentando, às vezes,
quase um dia de viagem.
“Este é um espaço construído pelo e para o povo,
que não tem dinheiro sujo de mineradora, que não tem dinheiro sujo de
multinacional, que não tem dinheiro sujo daqueles que se pintam de verde. Esse
espaço é nosso”, celebra a comunicadora popular Julia Martins, representante do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM).
Na área oficial da COP30,
composta pela Zona Azul e Zona Verde, grandes corporações, muitas delas
vinculadas a crimes ambientais, patrocinam os espaços. É o caso da
mineradora Vale, um dos principais financiadores do evento e também a
empresa relacionada a duas grandes tragédias ambientais no Brasil: os
rompimentos das barragens em Mariana, em 2015; e em Brumadinho, em 2018, em
Minas Gerais.
Diante do que classificam como contradição – ou
hipocrisia – os movimentos populares organizaram um espaço de debates,
manifestações, feira e apresentações culturais, com programação que vai até o
dia 16. De acordo com a representante do MST, trata-se de um espaço para
enfrentar e, “em alguns momentos, constranger a COP30”.
“Aqui a gente está construindo um processo de uma
grande aliança global a partir dos territórios indígenas, camponeses, urbanos,
quilombolas, com a aliança com os movimentos populares, movimento de mulheres,
movimento negro, as juventudes para construir, de fato, justiça climática para
o mundo”, afirma Rud Rafael, do Movimento de Trabalhadores e
Trabalhadoras Sem-Teto (MTST).
Presente no palco da abertura da Cúpula dos Povos,
o Secretaria Geral da Presidência, Guilherme Boulos,
ressaltou a relevância dos movimentos populares.
“Tem gente que acha que a participação popular é
perfumaria, que lá na Blue Zone acontecem os debates, como se os movimentos
sociais aqui tivessem apenas fazendo uma brincadeira cadeirinha, uma encenação.
O que essa gente não considera é que a COP acaba daqui a alguns dias. Os
movimentos e a mobilização popular são o que fica”.
As atividades do encontro começaram pela manhã
desta quarta, com uma barqueata pelo rio Guamá, com a
participação de 5 mil pessoas. No sábado, dia 15, representantes da Cúpula irão
apresentar para ao presidente da COP30, André Corrêa do Lago, as propostas do
encontro. “Qual é o acúmulo político que esse espaço apresenta para a COP30 e
por que nos diferenciamos desse espaço”, explica Martins, sobre o documento que
será levado à presidência do evento oficial.
Para encerrar o encontro, haverá um banquetaço a
ser servido à população em situação de vulnerabilidade das áreas urbanas de
Belém, reforçando que a solução vem dos próprios povos.
“Nós temos consciência, companheiros e
companheiras, do nosso papel na história. Nós sabemos que nós temos uma
obrigação histórica de dizer que não não é a realidade hoje que os povos estão
sofrendo. Não é assunto secundário”, finaliza Ferreira.
(Brasil de Fato)


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