“Muitos projetos partem de uma lógica de mudança externa, ignorando o que já
existe e é construído localmente. O Acácias faz o movimento inverso: busca
formar jovens lideranças negras evangélicas que já atuam em contextos
vulneráveis e que já promovem algum tipo de mobilização em suas comunidades de
fé”, explica José Victor, do Movimento Negro Evangélico.
O projeto já formou 15 jovens e elaborou dois documentos sobre questões
climáticas. Victor apontou, no debate, que o foco é preparar lideranças
comunitárias para emplacar resoluções concretas sobre o tema.
“Queremos transformar essa influência em articulação para políticas de
adaptação climática. É um diálogo que parte da compreensão de que não podemos
apenas “enxugar gelo”: acolher é um chamado espiritual, mas também temos um
chamado profético para denunciar injustiças e dialogar com as instituições
responsáveis por formular e implementar políticas públicas.”
A pesquisa Cristianismo e Narrativas Climáticas, do Instituto de
Estudos da Religião (ISER), aponta que a maioria dos evangélicos atribui à ação
humana os problemas ambientais e se preocupa com o tema. No entanto, o grupo vê
pouco engajamento nas igrejas,
Para Meryne Warah, do Green Faith e uma das debatedores, é preciso se contrapor
às narrativas falsas promovidas pelas principais indústrias poluidoras. No caso
do país dela, o Quênia, o problema está na atuação das petroleiras.
“Um dos principais desafios é a quantidade de desinformação espalhada pela
indústria fóssil — como a ideia de que os impactos da mudança climática são
‘atos de Deus’. Por isso, é nosso dever dizer às pessoas a verdade: o dinheiro
é ganancioso, e a fé traz uma voz moral que protege as comunidades, a
sacralidade da terra e a dignidade das pessoas que vivem nela”, disse.
Wara citou que, em diversos lugares, essa indústria poluidora atua de forma
agressiva contra poderes executivos, legislativos, e que acababam por assegurar
licenças para explorar econômicamente territórios.
“Quando isso acontece e nós não dizemos nada, somos responsáveis pela poluição
e pela água contaminada que bebemos.”, disse, reconhecendo que é importante
mobilizar as comunidades por meio da fé.
“Temos muitos líderes religiosos comprometidos nos lugares onde atuamos. O
desafio está em mobilizar todos. Outro desafio é que, quando deixamos lacunas —
quando falamos hoje, mas nos calamos amanhã — essas lacunas são preenchidas por
corporações de petróleo.”
Warah também defendeu a unidade entre os diferentes tipos de igreja e afirmou
que esta união fortalece a resistência contra grandes empresas, a desinformação
climática e às mudanças do clima.
“Nunca encontrei uma tradição religiosa que seja a favor de destruir o planeta,
expulsar pessoas ou desumanizar quem defende suas terras. Todas as religiões
ensinam a proteger a Terra. Todas ensinam a falar por quem não tem voz — e não
falo de alguém que nasceu mudo, mas de pessoas sem plataforma, sem espaço para
denunciar impactos, marginalização e opressão”, concluiu.
(Brasil de Fato)

Nenhum comentário:
Postar um comentário