“Eu espero que essa contradição em algum momento toque na própria percepção da população”, afirmou Belchior em entrevista ao Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato. “Vivemos historicamente pouca sensibilidade para diversas formas de violência no nosso país, o que é histórico, é resultado da nossa própria cultura de muita violência: um país formado a partir de 400 anos de escravidão, em que a violência contra determinadas populações foi naturalizada”, explicou.
Segundo o educador, essa naturalização explica por que as chacinas e ações violentas do Estado costumam passar despercebidas no cotidiano. “Temos 10, 15 mortos pela polícia em cada estado praticamente todas as semanas, centenas por ano, e isso não causa comoção, nem vira um tema nacional. Só se transforma num tema a ser debatido quando acontece fora do padrão”, avaliou.
Belchior observou que a operação policial no Rio, considerada a mais letal da história do país, provocou reações inéditas inclusive em setores evangélicos. “Existe uma maioria negra entre os evangélicos. Naturalmente, essa violência que atinge o povo negro atinge também o povo evangélico. Essa chacina acabou atingindo em cheio esse setor e os faz refletir. A realidade se impõe também sobre esse setor”, disse.
Ele ressalta também que “não é verdade que existe um pensamento único sobre segurança pública.” “Parte importante da sociedade brasileira repudia a chacina, o racismo e o genocídio”, indicou.
Na sexta-feira (31), manifestações em diversas cidades reuniram movimentos negros, sociais e populares em repúdio à operação e ao governo de Cláudio Castro (PL). “Foram mais de 15 capitais e outras dezenas de cidades se manifestando contra a chacina, denunciando o governador, exigindo políticas de acolhimento para as famílias e proteção aos defensores de direitos humanos, que estão sendo ameaçados de morte pela polícia”, relatou.
O fundador da Uneafro destacou ainda a importância da federalização do caso e da investigação independente da Polícia Militar fluminense. “A polícia não tem legitimidade para se auto-investigar”, apontou.
Para ouvir e assistir
O jornal Conexão BdF vai ao ar em duas edições, de segunda
a sexta-feira: a primeira às 9h e a segunda às 17h, na Rádio Brasil de
Fato, 98.9 FM na Grande São Paulo, com transmissão
simultânea também pelo YouTube
do Brasil de Fato.
(Brasil de Fato)

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