Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) confirmaram o que os contribuintes já sabem há um bom tempo: garantia de
bom atendimento médico no país é só para quem pagar do próprio bolso. A
pesquisa Conta-Satélite de Saúde (CSS) concluiu que, em 2009, os brasileiros
gastaram R$ 157,1 bilhões com tratamentos, 27% a mais do que o montante
aplicado pela administração pública em igual período. Ao todo, o setor
movimentou R$ 283,6 bilhões no ano, o que representou 8,8% do Produto Interno
Bruno (PIB, soma das riquezas produzidas em um ano). Em 2008, essa participação
havia sido de 8,3%.
Os brasileiros gastaram R$ 56 bilhões apenas com
medicamentos, bem mais do que os R$ 6,3 bilhões investidos pelo governo em
remédios distribuídos pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Na comparação per capita, os gastos públicos ficaram em R$ 645,27, contra R$ 835,65 das famílias. O resultado é que a população tem que fazer malabarismo para conseguir que as despesas caibam no orçamento. Cansado da precariedade dos hospitais públicos, o aposentado Avando Alves dos Santos, 69 anos, resolveu contratar um plano privado para si e a esposa, Cleusa de Castro Alves, 60 anos, há pouco mais de um ano. Ele desembolsa R$ 1,4 mil por mês só com as mensalidades. “Para piorar, nem assim o atendimento é bom”, desabafou Santos.
Na comparação per capita, os gastos públicos ficaram em R$ 645,27, contra R$ 835,65 das famílias. O resultado é que a população tem que fazer malabarismo para conseguir que as despesas caibam no orçamento. Cansado da precariedade dos hospitais públicos, o aposentado Avando Alves dos Santos, 69 anos, resolveu contratar um plano privado para si e a esposa, Cleusa de Castro Alves, 60 anos, há pouco mais de um ano. Ele desembolsa R$ 1,4 mil por mês só com as mensalidades. “Para piorar, nem assim o atendimento é bom”, desabafou Santos.
A situação de Rubens de Sá, 74 anos, também é desesperadora.
Apesar de gastar R$ 1,2 mil por mês com o convênio, ele teve de esperar mais de
um mês para conseguir uma simples consulta com um oftalmologista. “A saúde no
Brasil está péssima. O governo não investe e a população fica subordinada às
operadoras de saúde”, lamentou. Na avaliação de Álvaro Martim Guedes, professor
da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Araraquara
(SP), os números do IBGE demonstraram que o país pouco avançou nas políticas de
saúde. “O fato de o ônus dos tratamentos pender mais para o lado das famílias
do que para o do governo indica que o setor está na contramão da proposta do
SUS. Ainda estamos muito longe de democratizar o serviço”, concluiu.
José Ricardo da Costa, professor de economia do Ibmec,
ressaltou que, entre todos os países membros da Organização para a Cooperação e
o Desenvolvimento Econômico (OCDE) — considerado o grupo de nações
desenvolvidas —, apenas nos Estados Unidos o gasto das famílias com saúde é
maior do que o da administração pública. “Além disso, no Brasil, com uma
despesa equivalente à dos cidadãos dos países desenvolvidos, o serviço que se
obtém é de qualidade bem inferior. Não basta inverter a balança, é preciso
melhorar a eficiência do gasto”, ponderou.
Crescimento - Para fazer o cálculo do CSS, o IBGE leva em conta tudo o que
as famílias gastam, desde um simples frasco de vitamina C ou talco antisséptico
até exames e cirurgias de alta complexidade. No caso das despesas da
administração pública, são levadas em conta campanhas de atenção à saúde e
vacinação, vigilância sanitária, postos de saúde, hospitais e pagamentos do SUS
a hospitais e serviços sociais privados. À medida que os países enriquecem, a
tendência é de aumento da participação da saúde no PIB, devido a fatores como o
envelhecimento da população, a sofisticação dos tratamentos e o desenvolvimento
de novas tecnologias. Um exemplo emblemático é o uso de aparelho dentário, hoje
amplamente disseminado no país, mas inacessível para boa parte das pessoas
até alguns anos atrás.
Em 2009, apesar de todos os demais setores da economia terem
estagnado por conta da crise econômica mundial, o setor de saúde cresceu 2,7%.
“A saúde não oscila tanto quanto outras atividades em períodos de crise, porque
é um gasto prioritário. As pessoas podem cancelar uma viagem ou a compra de um
carro, mas precisam continuar a comer e a ir ao médico independentemente do que
aconteça nos mercados”, explicou Ricardo Moraes, gerente da Coordenação de
Contas Nacionais do IBGE.
Lídia Abdalla, superintendente técnica da rede de
laboratórios Sabin, calcula que a procura por exames cresceu a uma média de 30%
nos últimos anos. “O leque de exames oferecidos cresce a todo momento e as
pessoas estão cada vez mais dispostas a fazerem procedimentos preventivos, não
só quando estão doentes, como no passado”, revelou Lídia. (Do Correio
Braziliense)
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