Foi o título que usei num
dos tópicos da minha Coluna Poucas & Boas, do Correio da Semana, para
chamar a atenção e até dar um puxão na orelha de algumas pessoas. Eis, a
seguir, o que escrevi há algum tempo.
Uma dona de casa
sobralense justificava a drástica redução na lista de compras, principalmente o
corte de produtos alimentícios daquele mês: “Preciso economizar, pois a minha
agenda está lotada: Neste mês tenho de ir a dois chás-de-panela, dois casamentos,
uma formatura, três aniversários, uma festa de 15 anos, um chá-de-baby e a um batizado.
E preciso de tudo novo para me apresentar bem chic”.
Triste com a decisão da madame, o comerciante me
confidenciou que por aqui continuava atualíssima a sentença “Viva o luxo!
Morra o bucho!”. Concordo plenamente e até acrescento o que Denis Diderot,
filósofo e escritor francês, já dizia no século XVIII: “O luxo arruína os
ricos e aumenta a miséria dos pobres”. E esse tipo de má dama rica pobre, bem
como cavalheiros na mesma situação, existem aos montões ao nosso redor. "Ó, coitados!", como diria a humorista mineira Gorete Milagres.
E, por coincidência,
encontrei algo que acrescenta muito ao que penso a respeito de quem prefere o
luxo ao bucho. Acabo de ler na coluna Radar Econômico (Sílvio Guedes Crespo), do jornal O Estado de São Paulo, de 17.01.11, interessante artigo intitulado: "Rico ou pobre, brasileiro prefere gastar com supérfluo a poupar". Leia-o, também, e na íntegra.
“Mais de três décadas depois de Joãosinho Trinta dizer que “pobre
gosta é de luxo”, o banco Credit Suisse vem com uma pesquisa (leia íntegra) mostrando que os consumidores
brasileiros, mesmo aqueles com renda de média para baixo, são os mais propensos
a gastar dinheiro com itens de grife, em comparação com outros seis países
emergentes analisados (Rússia, China, Índia, Indonésia, Egito e Arábia
Saudita).
Do total de entrevistados no Brasil com renda inferior a US$ 1
mil, 62% disseram-se dispostos a comprar roupas ou tênis de marca nos próximos
12 meses, percentual maior do que o verificado nos demais países
analisados. Já entre os que ganham mais de US$ 2 mil, 64% afirmaram que
comprarão esse tipo de produto, proporção também superior à verificada nas
demais nações emergentes.
A informação
faz parte de uma pesquisa que mostra que a população brasileira é muito mais
propensa a gastar do que a poupar. Em um tópico chamado “Brasil, apetite para a
vida”, o estudo do banco suíço afirma: “O quadro pintado para os consumidores
brasileiros na nossa pesquisa coloca-os em posição diferente de muitos dos seus
colegas de outros países. Gastos supérfluos estão muito mais presentes [no
Brasil do que em outros emergentes] e espelham uma taxa de poupança
relativamente baixa”.
O estudo
constatou que os brasileiros poupam cerca de 10% do que ganha. Já os chineses
guardam 31% da renda. Entre as nações analisadas, apenas o Egito tem uma
poupança menor que o Brasil, de 7%.
O consumidor
brasileiro se destaca também no mercado de automóveis: 68% dos entrevistados
disseram ter planos de financiar um veículo nos próximos 12 meses, percentual
maior do que nos demais países estudados. Em segundo lugar vem a Índia, onde
60% dos consumidores planejam comprar um carro a prazo.
O Credit
Suisse notou que o consumidor brasileiro atualmente é o mais otimista entre os
países pesquisados. Aqui, 63% das pessoas acreditam que sua situação financeira
pessoal vai melhorar nos próximos 12 meses; 33% acham que ela tende a continuar
como está e apenas 4% dizem que vai piorar.
Poupar ou gastar?
Para a
economia de um país, tanto o consumo como a poupança são essenciais. Quando um
trabalhador guarda seu dinheiro e o aplica no banco, este empresta para
diversos tipos de clientes, entre eles empreendedores que investem, por
exemplo, em inovação, em infraestrutura ou em outros segmentos que beneficiam o
desenvolvimento do País. (É verdade, no entanto, que boa parte dos recursos que
chegam aos bancos acaba sendo usada para comprar títulos públicos, ou seja,
para financiar o governo e ajudá-lo a rolar a dívida, beneficiando,
principalmente, investidores do setor financeiro.)
Mas só poupar
não adianta. A China, por exemplo, tem uma taxa de poupança alta, como mostrou
o Credit Suisse, o que lhe permite investir, por exemplo, em grandes obras de
infraestrutura. Por outro lado, como a população gasta pouco, a indústria local
precisa vender para o exterior se quiser se expandir, o que deixa a economia
mais vulnerável a crises externas.”
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