
A ciência, agora, foca em pesquisas para tentar
entender e retardar a puberdade precoce, que faz com que meninas com 6, 7 anos
comecem a desenvolver características de mulher, como pêlos e mamas. Adultos de
25, 27 e até 30 anos seguem na casa dos pais, conservam comportamentos de risco
e permanecem inseguros para a assumir a condição de adultos. Nessa métrica cada
vez mais extensa, aqueles que, de fato, têm a idade que permite serem
adolescentes estão correndo maior perigo.
Estudo conduzido por médicos da Universidade
de Melbourne, apresentado no primeiro semestre desse ano, mostrou que,
independentemente dos avanços médicos e da melhoria na situação financeira das
famílias, os jovens são submetidos a riscos antes notados apenas na idade
adulta. Um dos principais motivos, de acordo com os pesquisadores, são os
programas cada vez mais elaborados de cuidados para a mãe e o bebê, que
simplesmente acabam com a infância. Ao chegar à puberdade, essas ex-crianças
deixam de receber atenção. Assim, o cigarro, o álcool, o sexo sem segurança,
que pode causar não só DSTs, como a gravidez indesejada, se tornaram itens
comuns.
Apesar de tudo isso, o adolescente nunca foi tão
celebrado. Há muitos deles se esforçando para fugir dos estereótipos e entrar
de cabeça, e sem medo, na fase seguinte. Buscam o emprego estável, a boa
condição financeira e uma família equilibrada. O modo que escolheram para
alcançar essa tríade é o que os diferencia em tribos e grupos. Em meio às
gírias, à desajeitada timidez de encarar uma conversa séria e ao furacão de
expectativas que os pais criam do que será feito do futuro deles, alguns já
mostram ter consciência de que podem fazer da fase adulta algo bem mais
interessante do que a maioria imagina.
A porta de entrada - A forma mais simplória de delimitar a adolescência passa pela idade. A faixa etária, espremida entre os 10 e os 19 anos, na definição da Organização Mundial de Saúde (OMS), e entre 12 anos e 18 anos, pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, é conhecida pelas espinhas, pelos dramas emocionais relacionados à descoberta do sexo, pelas dificuldades de relacionamento com os pais e pela inefável pergunta: o que vou ser quando crescer? É tanta complexidade, que não se pode fazer uma leitura da adolescência apenas pela idade. Até porque a adolescência cresceu — e para os dois lados.
“O vestibular sempre traz uma carga grande de
responsabilidade. Criamos uma expectativa de passarmos já de cara, porque
estudamos a vida toda focados nisso e com a ideia de que esse momento vai ser
decisivo para nos trazer tudo que queremos”, acredita João Boavista, 17 anos.
Ele, que sempre estudou em escolas particulares, cobra muito si mesmo. Para o
jovem, que tentará o curso de arquitetura, ter tido uma educação de qualidade o
deixa, de certa forma, em débito com a família. “Nossos pais gastaram com
educação pensando na forma como vamos usá-la para construir algo de bom para as
próximas gerações”, explica.
Sem dúvida, a missão de moldar o amanhã é
despropositada para alguém tão jovem. “Toda a formação deles vem sendo
trabalhada para o momento de escolha da profissão correta. Isso faz com que
eles se cobrem muito”, confirma Marli Pinheiro, diretora pedagógica do colégio
Sigma. “A parte mais difícil da nossa idade é justamente isso. Há muita carga:
você tem que fazer, você tem que ser, você é o futuro, mas a gente nem sabe se
o futuro existe. Nós somos o presente. E estamos fazendo o possível para que
ele seja o melhor”, acredita Amanda Oliveira, 18 anos, que quer cursar ciência
política. Para ela, o peso hercúleo também tem um gosto de dívida. “A gente
precisa conseguir se tornar o que queríamos tanto. É a hora de realmente
focarmos no que a gente quer para não decepcionarmos o eu de quando éramos
crianças”, filosofa.
Mariana Quaresma, 17 anos, prefere definir esse
momento de escolha como “inspirador”. “Vivemos uma fase nova. Meu pai diz que,
na minha idade, ele já tinha traçado todo seu caminho. Agora, ele mesmo fala
que preciso experimentar de tudo antes de decidir, tanto que fiz todos os
cursos que tive vontade. O discurso do meu avô era bem diferente.” Para a
estudante, o adulto não consegue se enxergar no adolescente porque se sente
frustado — uma vez que a sua geração não foi capaz de “salvar o mundo”. Assim,
a responsabilidade de tomar decisões que, teoricamente, farão do futuro um
lugar melhor — tarefa das mais onerosas, diga-se — é repassada às novas
gerações por esses adultos cobrados em excesso quando adolescentes.
“Acho bem errado esses estereótipos da nossa
idade. Todo mundo passa o problema para a geração seguinte. Eles se sentiram
pressionados porque eram considerados o futuro e, agora, dizem isso de nós”,
reclama. No fundo, os jovens sabem que suas expectativas e a de seus pais nem
são tão diferentes. “Quero ter família, mulher e filhos, vivenciar essa
relação. Mas não tenho nenhum plano. O que espero é me formar, conseguir
estabilidade e, aí, pensar em montar esse quadro”, garante João.
(Correioweb)
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