sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Cantinho da Saudade - Por Thiago Alves - thiagoalvesobral@hotmail.com (Do Jornal Correio da Semana - 02.11.13)


SALUSTIANO FERREIRA DE MOURA

Mesmo já falecido há 34 anos, neste sábado (2) seus familiares e amigos lembrarão não somente os 117 anos do seu nascimento, mas principalmente as grandes lições de vida por ele deixadas. E quem viveu em Sobral nos anos de 1940 a 1970 certamente se lembra da figura deste bravo serrano, que ficou mais conhecido simplesmente por Salu Moura. Esse, sim, é daquela estirpe de homens que merecem com muita justiça o Título de Cidadão Sobralense. Infelizmente, na atualidade tal honraria tem sido outorgada pela Câmara Municipal a certas personalidades que nem de longe lhe fazem jus.

Salustiano Moura era merecedor do Título não só pela bagagem acumulada na sua intensa história de vida escrita em outras localidades, mas especialmente por sua atuação nesta cidade, que escolheu para criar e educar seus filhos, bem como para contribuir com sua força de trabalho no desenvolvimento do que considerava seu segundo torrão natal. Que esta síntese biográfica sirva de parâmetro para os vereadores quando da análise das futuras concessões dessa distinção!

Nascido no sítio Taboca de Baixo, na época pertencente ao município de Tianguá (CE), hoje a Ubajara (CE), no dia 02 de novembro de 1886, Salustiano Ferreira de Moura teve como pais Antônio Pereira de Moura e Olímpia Francisca da Glória, e como irmãos Sisnando, Luíza, Zeferina, Napoleão, José, Raimundo e Abraão (todos falecidos). Era neto de Vicente de Moura Brasil, Capitão de Cavalaria da Guarda Nacional em Pernambuco. Ficou conhecido na região por “Vicente Patrona” pelo costume de usar uma bolsa a tiracolo e, do outro lado, a antiga espada usada nos tempos de militar.

Sobre a origem da sua família Salu Moura contava que seu avô Vicente, saindo de uma batalha, em viagem a cavalo pelo Nordeste passou pela localidade onde atualmente existe a cidade de Icó (CE). Nela conheceu uma moça muito bonita, tendo ocorrido imediatamente uma paixão mútua. Os dois seguirem viagem até Tianguá (CE), onde se casaram no religioso e se instalaram no povoado de Taboca de Baixo. Ali, segundo Salu, surgiu a família Moura da Serra Grande, que se espalhou pela região norte do Ceará.

Apesar de ter estudado apenas o equivalente ao extinto Curso Primário completo, a curiosidade e o desejo de aprender mais fez com que Salu Moura cultivasse o hábito da leitura. Por conta própria, buscou nos livros o conhecimento das leis vigentes no País na sua época, além de interessar-se muito pelo que dizia respeito a direitos humanos.

Salu Moura atuou em diversas áreas, iniciando pela agricultura e pecuária quando ainda solteiro e na casa dos pais. Em 22 de setembro de 1906 casou-se em Tianguá (CE) com Antônia Pereira de Moura, nascida em 15.11.1888, sendo filha de João Luiz Pereira e Maria Romana Pereira. Do casal nasceram 11 filhos, dentre os quais oito já faleceram (Maria, Mário, Abigail, Amélia, Antônio, Francisco, Francisca e Albetiza) e três ainda estão vivos (Jandira, Albanita e Edvar).

Ainda na Serra Grande, na década de 1930 Salu Moura experimentou o comércio nas cidades de São Benedito, Viçosa do Ceará e Tianguá. Depois de alguns anos retornou a Ubajara, onde montou uma pensão que foi muito freqüentada por viajantes que passavam com destino ao Piauí e Maranhão. Nas horas de folga usava seus conhecimentos de leis para orientar pessoas envolvidas em questões de terra. Por essa época travou amizade com o então Juiz Municipal Dr. Moacir Gomes Sobreira, de quem se tornou compadre, tendo recebido como afilhado Francisco Xavier de Lima Sobreira (Dr. Xavier), afamado ginecologista na cidade de Sobral. O advogado e seu amigo rábula passaram a trabalhar juntos na área advocatícia durante muito tempo. No início dos anos de 1940 ambos se transferiram para Camocim (CE) e depois (1946) para Sobral (CE), onde também fizeram muito sucesso.

Em Sobral, Salustiano Moura destacou-se em duas atividades bem distintas: no ramo de distribuição de água e no de padaria. No primeiro, chegou a dispor de uma frota de 10 carroças puxadas a burros, com pipas de 500 litros. Distribuía água nas residências antes da fundação do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE).

A outra atividade em que certamente Salu Moura mais se notabilizou foi a de dono de padaria. Instalou sua empresa no centro da cidade, em prédio na esquina da Rua Floriano Peixoto com Praça Mons. Linhares, nos fundos da Igreja do Rosário. Lá, tempos depois, seu genro, Raimundo de Sousa Sales (Dico), fundou sua famosa Mercearia. Depois do Dico, ocuparam o local o Mercadinho São José (João Tarcísio Aguiar) e, atualmente, o Foccus Studio. Além de outros deliciosos produtos alimentícios servidos na Padaria do Salu, ficaram famosas duas merendas feitas por sua esposa, dona Antônio: o “pão carioca com doce de leite, servido com manteiga” e a “paçoca (carne do sol pisada no pilão, feita com banha de porco, cebola e farinha seca), servida no prato com banana casca verde. Segundo fregueses da época, fazia fila de profissionais liberais, bancários, comerciários, estudantes e pessoas que estavam visitando ou de passagem por Sobral para saborear aquelas saborosas guloseimas.

Salu Moura foi exemplar e admirado como filho, irmão, esposo, pai, sogro, patrão e amigo. Tanto por sua honestidade, sua paixão pelo trabalho honesto, seu empreendedorismo como pelo elevado espírito cristão. Soube, como poucos, repassar tais virtudes a seus descendentes e àqueles que com ele conviveram. Também se destacava pelo respeito e zelo que tinha pela instituição família. Prova disso foram os 72 anos de convivência e união com a esposa Antônia, muitos deles vividos no casarão (hoje extinto) da esquina das Ruas Floriano Peixoto com Lúcia Sabóia.

Salustiano Ferreira de Moura faleceu aos 92 anos em Sobral, no dia 20 de fevereiro de 1979, tendo sido sepultado no cemitério São José desta cidade. Já a eterna companheira, dona Antônia, faleceu dois anos depois, também aos 92 anos, no dia 26 de fevereiro de 1981, em Fortaleza, onde se acha sepultada. Tempos depois a família fez a exumação e trasladou os restos mortais de Salustiano Ferreira de Moura para a capital cearense, onde já estavam sepultados os da esposa Antônia Pereira de Moura.






2 comentários:

  1. Parabens pela pesquisa, meu bisavô será lembrado com muito carinho para sempre pela sua matéria.

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  2. Linda homenagem. Meu nome e Joana Darc de Moura Cavalcanti, gostaria de saber se ele é meu biso. Mu vô se chama Francisco Moura Vieira. Alguém pode confirmar pra mim?

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