O primeiro
transplante de cabeça da história poderia ocorrer em dois anos, segundo uma
reportagem publicada nesta semana pela revista New Scientist. É a possibilidade que estuda
uma equipe liderada pelo cirurgião italiano Sergio Canavero, do Grupo de Neuromodulação
Avançada de Turim.
O grupo deve apresentar a proposta durante uma conferência
médica nos Estados Unidos neste ano. A técnica consistiria em
implantar a cabeça de um paciente de doença grave no corpo de um doador que
tenha tido morte cerebral.
Em entrevista à New Scientist, Canavero disse que a cirurgia poderia prolongar a
vida de pessoas que sofrem de degeneração dos músculos e nervos ou que tenham
câncer. Ele disse, porém, estar ciente
de que a proposta gera muita polêmica e que entraves éticos podem ser uma
grande barreira. Canavero prevê ainda que sua equipe enfrenta dificuldades para
conseguir autorização para desenvolver a técnica nos Estados Unidos.
"Se a sociedade não
quiser isso, eu não vou fazer. Mas se as pessoas não quiserem nos Estados
Unidos ou na Europa, não significa que não será feito em outro lugar. Estou
tentando fazer da forma correta. Antes de você ir à lua, tem que ter certeza
que as pessoas o seguirão", disse Canavero à New Science.
Técnica - O cirurgião italiano publicou
neste mês uma lista de técnicas que tornariam o transplante possível. Elas incluem procedimentos
como resfriar a cabeça do receptor e o corpo do doador para evitar que as
células morram sem oxigênio, cortar os tecidos do pescoço e conectar as veias e
artérias maiores a tubos finos e seccionar os nervos da espinha.
Uma das partes mais
complicadas da eventual cirurgia seria conectar os nervos da espinha do corpo
aos nervos da cabeça. O cirurgião usaria uma substância química com polietileno
para fazer as conexões e eletrodos para estimular as novas conexões nervosas.
Canavero disse também à New Science que logo após a cirurgia o paciente passaria semanas
em coma e inicialmente seria capaz de mover os músculos do rosto e falar com a
mesma voz que tinha antes. Porém, seria necessário pelo menos um ano de
fisioterapia para que pudesse andar.
Segundo ele, diversas pessoas
já teriam se candidatado ao procedimento. Segundo a New Science, um procedimento similar foi testado em um macaco nos
anos 1970 por outra equipe. O animal conseguia respirar com ajuda de aparelhos
mas não podia se mover, pois sua cabeça não havia sido conectada aos nervos da
espinha. O animal morreu dias depois
devido à rejeição de tecidos.
Chances - A revista ouviu diversos
especialistas na área que se disseram céticos em relação à viabilidade da
técnica. Alguns ressaltaram pontos técnicos difíceis de resolver, tais como a
dificuldade de fazer o paciente passar pelo coma de forma saudável.
Outros levantaram dilemas
éticos, como a possibilidade de que, se der certo, a cirurgia seja usada para
fins cosméticos. Ou disseram que o procedimento pode até se tornar realidade,
mas não em um prazo tão curto. (BBC)
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