sábado, 7 de março de 2015

DE OLHO NA LÍNGUA - Prof. Antônio da Costa (Do Jornal Correio da Semana - 07.03.15)

VENDEM-SE CASAS OU VENDE-SE CASAS; FRITAM-SE OVOS OU FRITA-SE OVOS?
“Se”- Pronome indeterminador do sujeito de qualquer verbo. O pronome “se” indetermina o sujeito dos verbos intransitivos, pode, por extensão, indeterminar o sujeito de qualquer verbo, transitivo, intransitivo ou atributivo (isto é, de ligação). Ex.: Está-se bem aqui; Quando se é bom; Vende-se casas; Frita-se ovos; A Bernardes admira e ama-se.

OBSERVAÇÃO: “Vende- casas” e “Frita-se ovos” são frases de emprego ainda antiliterário, apesar da já multiplicidade de exemplos. A genuína linguagem literária requer vendem-se, fritam-se. Mas ambas as sintaxes são corretas, e a primeira não é absolutamente como fica demonstrado modificação da segunda. São apenas dois estádios (é estádios mesmo) diferentes de evolução.

Fica também provado o falso testemunho que levantaram à sintaxe francesa, que em verdade nenhuma influência neste particular exerceu em nós. (Evanildo Bechara - Moderna Gramática Portuguesa - Cursos 1º e 2º Graus - Companhia Editora Nacional - 23ª Edição - pág. 256 - ano 1978).

ALCOÓLATRA E ALCOÓLICO (CONVERSA DE BOTEQUIM)
Tenho ouvido dizer “alcoólico” em lugar de “alcoólatra". Soa estranho para mim. Alcoólico não é adjetivo? Por exemplo, bebidas alcoólicas; teor alcoólico. Mas se alcoólico é adjetivo, que dizer da combinação Alcoólicos Anônimos?
Alcoólico nasceu adjetivo, como outras formações com o sufixo “-ico” átono: bíblico, fotográfico, oceânico, orgânico, público, único e tantos outros.

Muitos desses nomes, porém, se usam ambivalentemente, como adjetivos ou substantivos. Exs.: Homens ricos e homens pobres/os ricos e os pobres; algo material/o material; povos civilizados e povos bárbaros/os civilizados e os bárbaros; uma carta circular/uma circular; um trem expresso/um expresso; um filme de longa ou curta metragem/um longa, um curta; os (dentes) caninos e molares. E assim - o amigo bem conhece - os combustíveis, os conversíveis, os móveis e imóveis, os longos, o certo e o errado, o impossível e o absurdo, o finito e o infinito...

E já mais perto, no próprio domínio do “-ico” átono: matemático, físico, químico, músico, político, prático, tóxico, etc., etc. Tudo usável como adjetivo ou substantivo. Mais próximo ainda, rimando: Os homens (dogmas, templos...) católicos, e os católicos. Mesmo assim, no caso de alcoólico a situação parece diferente. Por que fazer desse adjetivo um substantivo, se esta classe já está representada pelo termo alcoólatra? Fuga a uma palavra deteriorada na sua semântica. Substitui-la por alcoólico é como exorcizar conotações, tabus... É o que se chama eufemismo e faz substituir morrer por expirar, falecer por descansar... um chocante palavrão por galinha, piranha.


(*) Graduado em Letras Plenas, com Especialização em Língua Portuguesa e Literatura, na Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). É, também, funcionário do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Sobral (CE). Contatos: (088) 3611-4695 // (088) 9655-1801.





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