quinta-feira, 10 de setembro de 2015
Brasil rebaixado: com perda de grau de investimento, dólar e juros podem ficar mais caros
Em meio à crise política e
econômica, o Brasil teve sua nota de crédito rebaixada nesta quarta-feira pela
agência Standard & Poor's (S&P). Com isso, o país perde seu grau de
investimento pela agência, ou seja, status de bom pagador, e entra no grau
especulativo – a nota caiu de BBB- para BB+.
A
agência ainda sinalizou uma tendência negativa, ou seja, risco de o país ter a
nota rebaixada novamente – o que os economistas já alertam que deve ocorrer.
Em
seu comunicado, a S&P diz que “os desafios políticos que o Brasil enfrenta
continuaram a aumentar”, tendo reflexos sobre “a capacidade e a vontade do
governo” em submeter um Orçamento para 2016 “coerente com a significativa
sinalização de correção” da política econômica no segundo governo Dilma
Rousseff.
O
país ainda tem grau de investimento nas outras duas principais agências de
classificação de risco – Moody’s e Fitch. Segundo André Perfeito,
economista-chefe da consultoria Gradual Investimentos, a tendência é que elas
sigam, porém, o rebaixamento feito pela S&P, e que, mesmo antes disso, o
país já seja afetado.
“Vamos
supor que eu seja um fundo de pensão que, para investir em um país, precisa ter
ao menos duas agências dizendo que ele país é OK. Se de repente há três, mas o
país perde uma, eu posso já decidir sair de forma antecipada”, afirmou ele, ao
lembrar que esse rebaixamento já era esperado.
Metas - Em seu comunicado, a S&P diz acreditar
que o perfil de crédito do Brasil ficou ainda mais fraco desde o fim de julho,
quando a agência revisou a tendência do país para negativa. “Naquele momento,
sinalizamos o avanço dos riscos à execução das políticas de correção então em
curso decorrente da dinâmica no Congresso Nacional”.
Para
Perfeito, a tendência é que, uma vez que o grau de investimento já tenha sido
perdido, governo “relaxe” no cumprimento das metas fiscais. Embora o comunicado
da Standard & Poor's cite a apresentação do projeto de Orçamento para 2016
do governo com uma previsão de deficit, o especialista vê em outro aspecto um
peso maior para a decisão da agência de rebaixar a nota brasileira.
“A
questão não era nem tanto mais o superavit primário ou não, na minha opinião. E
sim que os juros nominais (encargos sobre a dívida) explodiram em 2015 no
Brasil”, afirmou. Segundo o economista, até julho o pagamento desses juros
chegou a R$ 278 bilhões, 95% a mais que no mesmo período do ano passado –
ampliando a dívida pública bruta.
Efeitos - De acordo com Perfeito, o principal
problema no país não foi o aumento das despesas, mas “uma queda brutal das
receitas”. Para ele, o dólar pode avançar ainda mais e chegar aos R$ 4. “Vai
ter uma elevação, talvez, dos juros mais longos. O crédito pode ficar um pouco
mais caro”, disse sobre os efeitos do rebaixamento no cotidiano dos brasileiros.
“A perda do grau de investimento afeta a economia como um todo”, explicou
Alessandra Ribeiro, economista da consultoria Tendências.
Segundo
ela, o rebaixamento provoca uma queda nos investimentos, fazendo com que as
empresas enfrentem mais dificuldades para se financiar – o que acaba afetando,
como consequência, emprego e renda.
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