sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

DE OLHO NA LÍNGUA - Prof. Antônio da Costa (Do Jornal Correio da Semana - Sobral-CE - 17.11.16)


“LEIA ESSE LIVRO” OU “LEIA ESTE LIVRO”
Na linguagem oral, os pronomes ‘este’ e ‘esse’ foram praticamente igualados na escrita, no entanto, há algumas diferenças entre eles. Uma delas diz respeito à posição do objeto de que se fala. Se esse objeto está com quem fala (ou perto dele), o pronome demonstrativo adequado é este (a): Leia este livro.

A frase em questão pode indicar, por exemplo, que o livro está nas mãos de quem fala, o emissor: Leia este livro. Se o livro está com o interlocutor (ou perto dele) o demonstrativo adequado é “esse (a)”: Leia esse livro.

MÁ-FORMAÇÃO OU MALFORMAÇÃO?
As palavras existem, mas se deve dar preferência à primeira (de plural más-formações), que é forma vernácula; a segunda é cópia do inglês “malformation”. O adjetivo é apenas malformado.

“COMO PLANEJADO” OU “COMO PLANEJADAS”?
Veja estas duas frases: “As colheitas serão feitas como planejado; “As colheitas serão feitas como planejadas”. Qual delas é a correta? 

É possível analisar a questão de duas maneiras: “As colheitas serão feitas como (foi) planejado (fazê-las)” e “As colheitas serão feitas como (elas) foram planejadas”. Deduz, pois, que as duas construções são possíveis.

OS DOIS MILHÕES DE MULHERES
Dizemos: Duas dúzias de ovos? Certamente não. O numeral “duas” concorda com dúzias, palavra feminina, e não com “ovos”, masculino. Por isso dizemos: Duas dúzias de ovos. Aplica-se exatamente o mesmo processo no que diz respeito a “milhão”, palavra masculina: Um milhão de pessoas; Dois milhões de pessoas. Note que ninguém diria que o governo inglês gastou ‘duas’ milhões de libras. A concordância do numeral seria feita com ‘milhões’ (O governo Inglês gastou dois milhões de libras).

Moral da história: Dois milhões de pessoas participaram do ato; O governo ainda não recebeu os dois milhões de doses da vacina; O Ministério da Saúde pretende tratar dos dois milhões de mulheres que apresentam o sintoma.

FORNICAR (ETIMOLOGIA)
Fornicar provém do Latim “fornicare”, fazer construções em forma de fórmica, do Latim “fornix”, abóbada. Os fornos da Antiga Roma tinham a cobertura abobadada e, quando abandonados, era ali que as prostitutas recebiam os clientes. Também os locais de encontros amorosos ilícitos tinham o teto em forma de abóbada. Esses dois indicadores fizeram fornicar mudar de significado, passando a designar relações sexuais ilícitas.

ATRIBULAR (ETIMOLOGIA)
Atribular provém do Latim “tribulare”, bater com “tribulus” mangual para debulhar o cereal, composto de pedaços de madeira ou de couro atados à ponta de um pau maior. 

Por comparação, passou a designar o sofrimento, em especial, apertos e cólicas, em que a dor faz o papel de mangual (instrumento utilizado na debulhação de grãos, construído por um cabo e um batedor de madeira unidos por coreias, açoite, relho) pressionando o organismo. Depois disso, a metáfora ampliou-se para sofrimentos morais, contratempos, dificuldades.

 
(*) Professor Antônio da Costa é graduado em Letras Plenas, com Especialização em Língua Portuguesa e Literatura, na Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA). É, também, servidor do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) de Sobral. Contatos: (088) 9409-9922 e (088) 9762-2542.


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