O Ministério Público Federal em Brasília
(MPF-DF) informou nesta sexta-feira (9) que denunciou à Justiça o ex-presidente
da República Luiz Inácio Lula da Silva e o filho dele Luiz Cláudio Lula da
Silva pelos crimes de tráfico de influência, lavagem de dinheiro e organização
criminosa. A denúncia foi apresentada no âmbito da Operação Zelotes.
De acordo com o MPF, a denúncia foi feita após as investigações
apontarem indícios de envolvimento do petista e de seu filho, além de Mauro
Marcondes e Cristina Mautoni – que também foram denunciados – em negociações
apontadas pelos investigadores como irregulares e que levaram à compra de 36
caças do modelo Gripen pelo governo brasileiro.
Também há, segundo o MPF, indícios de irregularidades na prorrogação de
incentivos fiscais destinados a montadoras de veículos por meio de uma medida
provisória (veja detalhes da denúncia mais
abaixo).
É a quarta denúncia apresentada contra Lula, a primeira no âmbito da
Operação Zelotes. Caso a denúncia contra Lula seja aceita, será a quarta ação
penal em que o ex-presidente figurará como réu. Veja abaixo as outras três
denúncias apresentadas contra o ex-presidente:
- O ex-presidente já foi denunciado, e virou réu, em ação
penal sobre tráfico de influência no BNDES para beneficiar a Odebrecht;
- Ele também é réu em ação penal na Justiça do DF por tentativa de atrapalhar a delação de Nestor Cerveró;
- Ele também é réu em ação penal na Justiça do DF por tentativa de atrapalhar a delação de Nestor Cerveró;
- Lula é réu em ação penal na Justiça do
Paraná, aberta pelo juiz Sérgio Moro, por conta do apartamento triplex no
Guarujá (SP) e de armazenamento de parte do acervo pessoal. Suspeita é de
recebimento de vantagem indevida da OAS.
Ele também é investigado por obstrução à Justiça junto com a
ex-presidente Dilma Rousseff, por suspeita de que sua nomeação para a Casa
Civil foi uma tentativa de garantir a ele foro privilegiado e tirar do juiz
Sérgio Moro apurações da Lava Jato contra ele. Na Justiça do Paraná, Lula é alvo de inquérito que apura se ele é dono
de sitio em Atibaia reformado por empreiteiras e se dinheiro recebido de
palestras era propina disfarçada.
Versão dos denunciados - O Instituto Lula informou por telefone que não tem
conhecimento da denúncia e que os advogados do ex-presidente responderão assim
que souberem do teor da acusação.
Contatado pelo G1, o advogado de Mauro Marcondes e Cristina
Mautoni, Roberto Podval, afirmou que a denúncia tem motivação política, visando
atingir o ex-presidente Lula.
“Não vi absolutamente nada que levasse a qualquer irregularidade na
compra dos caças. [...] Isso é factoide, criado por quem tem interesse em
processar o ex-presidente Lula. Para chegar nele, tem que passar pelos
Marcondes. Lamento que as acusações, denúncias, feita sem seriedade. Qualquer
um chega à conclusão que não há elemento”, disse.
O advogado confirma que a companhia sueca Saab, que vendeu os caças ao
governo brasileiro, contratou o escritório do casal, mas somente para
representa-la no Brasil, sem qualquer crime.
O G1 buscava
contato com a defesa do filho de Lula até a última atualização desta reportagem.
Denúncia - Segundo o MPF, os supostos crimes foram praticados entre
2013 e 2015, quando Lula já era ex-presidente. O Ministério Público afirma que ele integrou um esquema que visava
beneficiar empresas automotivas, clientes da Marcondes e Mautoni
Empreendimentos e Diplomacia LTDA (M&M). De acordo com as investigações, o
ex-presidente prometia interferir junto ao governo federal para beneficiar as
empresas.
Em troca, o casal Mauro Marcondes e Cristina Mautoni, donos da M&M,
teriam repassado ao filho de Lula pouco mais de R$ 2,5 milhões, sem que a
empresa dele tivesse prestado qualquer tipo de serviço à companhia do casal.
Veja abaixo por quais crimes cada um dos quatro envolvidos foram
denunciados:
Luiz Inácio Lula da Silva – tráfico de influência (três vezes), lavagem de dinheiro
(nove vezes), organização criminosa;
Luis Cláudio Lula da Silva – lavagem de dinheiro (nove vezes) e organização
criminosa;
Mauro Marcondes – tráfico de influência (três vezes), lavagem de dinheiro
(nove vezes), organização criminosa e evasão de divisas (uma vez);
Cristina Mautoni – tráfico de influência ( três vezes), lavagem de dinheiro
( nove vezes), organização criminosa e evasão de divisas (três vezes).
O MPF diz na denúncia ter encontrado indícios da
existência de “uma relação triangular” entre os investigados formada por
clientes da M&M (que aceitaram pagar cifras milionárias por acreditar na
promessa de que poderiam obter vantagens do governo federal"; pelos
intermediários (Mauro Marcondes, Cristina Mautoni e Lula); e pelo agente
público que poderia tomar as decisões que beneficiariam os primeiros (a então
presidente da República Dilma Roussef).
Durante as investigações, porém, não foram encontrados indícios de que
Dilma tivesse conhecimento do esquema criminoso. Para os procuradores que assinam a ação, "não há dúvidas" de
que, pelo menos a partir de setembro de 2012, Lula tinha conhecimento da
estratégia utilizada por Mauro Marcondes (de
vender a ideia de ele mantinha relação de proximidade com o ex-presidente às
empresas) e que viu nesse fato a oportunidade de garantir o
enriquecimento do filho.
Compra de caças - Em
2014, o governo brasileiro comprou 36 caças da empresa sueca Saab destinados
à Força Aérea Brasileira (FAB) por US$ 5,4 bilhões, após mais de uma década de
negociações entre o governo e outras duas concorrentes: a americana Boeing, que
segundo o MPF era a empresa preferida da então presidente Dilma Rousseff para
firmar o negócio, e a francesa Dassault, que chegou a ser anunciada por Lula
como a vencedora da licitação em 2009.
De acordo
com o MPF, durante as investigações, documentos e depoimentos colhidos apontam
que o processo de compra dos aviões tornou-se mais político do que técnico e
contou com a interferência de Lula em favor da empresa sueca.
A denúncia
afirma ainda que a empresa sueca, que fechou o contrato de venda dos caças,
tinha um contrato indireto com a M&M e que, em agosto de 2012, passou a
trabalhar diretamente com os brasileiros.
As
investigações realizadas por integrantes da força tarefa da Operação Zelotes
revelaram que, ao todo, a M&M recebeu da SAAB € 1,84 milhão, sendo € 744
mil apenas entre 2011 e 2015, para viabilizar o negócio.
De acordo
com o MPF, o reforço nos pagamentos está, segundo os investigadores, no fato de
os lobistas Mauro Marcondes e Cristina Mautoni terem convencido os suecos que
possuíam proximidade com Lula e que a empresa sueca poderia contar com a
influência do ex-presidente junto ao governo para assegurar uma vitória na
disputa.
“Assim,
argumentos técnicos e indicadores de eficiência tornaram-se meros detalhes
diante das jactadas proximidade e amizade a agentes públicos federais”, afirma
a denúncia.
O MPF diz
ter enviado à Justiça documentos que "não deixam dúvida" quanto à
estratégia adotada pela M&M para convencer os parceiros da SAAB que poderia
contar com o prestígio do ex-presidente para interferir na decisão
governamental.
O MPF
afirma ainda que, em dezembro de 2013, houve uma reunião de Lula e da
ex-presidente Dilma Rousseff com o líder do Partido Sindical Democrata e futuro
primeiro-ministro da Suécia, Stefan Lofven. A reunião foi intermediada, segundo
o MPF, pela M&M junto ao Instituto Lula.
Lofven,
segundo a denúncia, defendia a escolha do modelo fabricado pela SAAB. Nove dias
após a reunião, o governo brasileiro anunciou a decisão de comprar de 36 caças
do modelo Grippen.
Medida
provisória - A
denúncia também aponta que a M&M atuou de forma irregular para aprovar a
medida provisória 627, entre o final de 2013 e o início de 2014. A estratégia
adotada pela empresa, segundo o MPF, foi a mesma utilizada na negociação dos
caças suecos: a promessa de influência de Lula sobre o governo federal.
Dessa
forma, de acordo com a denúncia, a empresa de Marcondes e Mautoni firmou
contratos milionários com as empresas MMC e Caoa, que foram beneficiadas com a
aprovação da medida provisória. O texto garantiu a prorrogação de incentivos
fiscais às montadoras MMC e Caoa até 2020, contrariando a posição técnica do
Ministério da Fazenda.
A MMC e a
Caoa teriam pagado R$ 8,4 milhões, cada uma, para a M&M, em troca da
atuação da empresa para a aprovação dos incentivos fiscais. O MPF
afirma que há "comprovação documental" de que, no período de
discussão da medida provisória, Marcondes manteve uma "intensa
negociação" com as montadoras sobre o teor da medida.
Paralelamente
a esses contatos, segundo a denúncia, o lobista encontrava-se pessoalmente com
Lula para, segundo os investigadores, acertar os pagamentos ao filho do
ex-presidente pelo tráfico de influência. Um dos repasses, afirma o MPF, foi
feito poucos dias antes da inclusão do artigo que beneficiou as empresas
automotivas.
O MPF
afirma ainda que o filho de Lula deveria receber R$ 4,3 milhões do esquema,
sendo R$4 milhões da M&M e o restante da montadora Caoa. Entre os
meses de junho de 2014 e março de 2015, os investigadores identificaram que a
M&M fez nove pagamentos à LFT (empresa do filho do ex-presidente) que,
somados, chegaram a pouco mais de R$ 2,55 milhões.
O restante
não foi pago, segundo a denúncia, devido à deflagração da Zelotes. Desde o
início da apuração, a Caoa nega ter contratado a empresa ou ter pago qualquer
quantia para se beneficiar da aprovação da medida provisória. A MMC afirma que
tem colaborado com as investigações e que tem todo o interesse em esclarecer os
fatos. (G1)
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