Na alegre Rua Santo
Antônio, em Sobral, nos anos 50, moravam pessoas boas, cujas vidas geraram
histórias interessantes. Uma delas ocorreu com um senhor que tinha nome de
batismo Vicente e nome completo Vicente Gomes Parente. Natural da Serra do
Rosário, era descendente de Inácio Gomes Parente, patriarca de uma rica e das
mais tradicionais famílias sobralenses.
Câmara Municipal de Sobral
(Foto antiga do Blog Catafau - de Sarto Rios)
Morava numa bela
casa amarela nas proximidades e do mesmo lado da igrejinha, entre as casas da
Dona Delfa e a do seu Barroso, fiscal fazendário, pai do Delano Barroso, meu
amigo de priscas eras e menino dos mais inteligentes. Situava-se em frente ao
Club Artístico Sobralense, presidido por José da Mata e Silva, um puxador de
quadrilhas de São João, udenista inquebrantável e responsável vereador.
Em Sobral era
querido por todos e conhecido como Pipiu. Tinha cabelos brancos e era um homem
decente, com rosto de bom avô, com todos as condições para ser meu quarto avô
da Rua Santo Antônio, que com ele seriam: Artur Anastácio, Ubaldo Solon, Oton
Vasconcelos e seu Pipiu, lista de notáveis senhores, que não era justo a
ninguém desmerecer.
Se não tive essa
subida honra e felicidade, foi por culpa de um dos seus filhos, chamado Lister
Ibiapina Parente, agrônomo sisudo, na época solteirão, que não era simpático,
não só comigo, mas com toda a meninada de nossa rua, indisposição essa advinda
de sua personalidade e de ocorrências havidas com seu famoso Jeep.
Já seu Pipiu era
alegre e sensível. Adorava ir à Praça São João conversar com seus amigos,
dentre os quais, seu primo e meu tio, Raymundo Gomes, e meu pai Otávio Belchior,
que ele recebia em sua própria residência. Quando eu o conheci já era casado em
segunda núpcias com uma distinta senhora de nome Déborah Ibiapina e formavam um
casal feliz.
Pipiu contava a
seus amigos que, certa vez, induzido por políticos da cidade, aceitou
candidatar-se a uma Cadeira da Câmara Municipal de Sobral, cargo a que jamais
aspirou. Mas, por insistirem, dizendo que seria facilmente eleito, que teria
eleição garantida sem precisar gastar um só tostão com campanha política,
aquiesceu.
No tempo dessa
eleição em Sobral só se ouvia dizer: “O Pipiu está eleito; ele não precisa mais
de votos”. “Eu não irei votar no Pipíu, apesar de ser meu amigo, simplesmente,
por ele já ter votos demais”.
Pipiu não se
mobilizou para o pleito, não fez campanha eleitoral e jamais pediu votos a
alguém.
Realizada a eleição
e terminadas as apurações, quando já ciente do resultado Pipiu foi para casa e
assim falou com dona Débora:
- Débora, você não
votou em mim?
- Para que Pipiu? Você já estava eleito, já tinha votos mais do que
suficientes. Eu votei no nosso amigo que precisava de votos.
- Qual deles?
- O Gerardo!
- Débora, saiba de uma coisa: pensando que eu já estivesse eleito, e para
ajudar o Gerardo, eu votei nele também. Você imagina quantos votos eu tive?
- Não, Pipiu. Quantos? Fostes o "Cabeça da Chapa", liderastes a
votação?
- Que nada, Débora! Eu não tive um voto sequer.
- Meu Deus! Disse, atônita, Dona Débora.
(*) Wilson Belchior é engenheiro civil, articulista, poeta e memorialista.
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