
No para-choque traseiro, numa placa a ele pendurada, estava escrito:
Meu nome é João,
Sou do Maranhão,
E se quiser viajar na boleia
Vindo do Maria Eva,
É de graça,
Mas não tem perdão.
- Com a frase João queria afirmar que os assentos na boleia eram reservados a passageiras especiais.
Aproximava-se a Quaresma, era uma terça-feira de carnaval e João lamentava-se dos poucos ganhos e afirmava estar há muito tempo de jejum. Mas eis que, de repente, descendo a ladeira, numa das curvas da estrada um freguês levantou a mão. Era uma freira de hábito branco, um grande chapéu encobrindo seu rosto, deixando ver a boca com um leve sorriso e os olhos com um olhar brejeiro. João exulta: Como Deus é bom, essa freirinha caiu do céu.Parou o caminhão e abrindo a porta ouviu da freira:
- Bom dia! Poderia o senhor me levar?
- Sim! Suba na carroceria.
- Mas eu só viajo na boleia.
- Bom dia, dona freira! Eu vinha rezando para encontrar algum freguês e, como a senhora é a primeira, quebrarei a regra e atenderei o seu pedido. Mas saiba:
Meu nome é João,
Sou do Maranhão,
Se quiser viajar na boleia,
Vindo do Maria Eva,
É de graça,
Mas não tem perdão.
A freira, sem nada entender, entrou no caminhão e sentou-se de costas para o motorista, com a cabeça parcialmente fora da janela. Postou-se como alguém que desejasse admirar a bela paisagem do pé da serra...
Momentos depois, dirigindo devagar, pensativo, envolto na fumaça do cigarro que fumava, João pensava no que fizera, quando a freira falou:
- Meu senhor, pare que ficarei aqui no Aprazível.
João parou o caminhão e disse: Dona freira, não lhe cobrarei a passagem. Desculpe-me o que fiz com a senhora. Reze para Deus me perdoar, pois Ele sabe muito bem do que um homem é capaz depois de quarenta dias de jejum.
A freira, tranqüila, respondeu: Imagina! Não há do que se desculpar. Sou eu quem terá de a Deus agradecer por ter encontrado nessa estrada um homem de jejum. Mas saiba que:
Meu nome é Juvenal,
Sou de Sobral
E esse traje de freira
É minha fantasia de carnaval.
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