Praticamente desde que iniciou a sua carreira artística,
o humorista Chico Anísio inspirou-se na Escola para fazer o Brasil rir. Mesmo
depois de sua morte, a “Escolinha do
Professor Raimundo” faz sucesso. Outros nomes famosos do humorismo nacional
também já buscaram na sala de aula motivos para seus espetáculos que,
geralmente, agradam porque se identificam com a realidade. Quem se identifica,
comunica.
Outros costumes já foram criticados pelos humoristas
brasileiros, mas, mudados os costumes, cessavam as causas do humor. Houve um
tempo em que um dos personagens de Chico Anísio era um “subversivo” que mudava
o conteúdo de sua pregação ao perceber a aproximação de um policial. Jô Soares
já mostrou a situação insegura de um exilado no aeroporto, ao tempo da
ditadura. Conquistada a democracia, aqueles dois tipos já não tinham mais sentido
e, se hoje fossem repetidos, nada
comunicariam a um grande número de jovens. Os humoristas criticariam o uso de
óculos escuros de um Presidente. Os óculos foram substituídos. Verifica-se a
atualidade da antiga expressão: “rindo,
castigam-se os costumes”
Mas a Escola continua sendo fonte de inspiração. Na
“escolinha” são mostrados todos os hábitos da escola. O Professor autoritário
que decide e manda. O aluno tímido e acovardado que só se expressa quando o
professor autoriza. Há o protecionismo para os preferidos, mais “sabidos” e
para os bajuladores. Na “escolinha”, como na sala de aula, a “nota” é a grande
arma do professor. É o instrumento de ameaça e da proteção. Do suborno. E todos
nós assistimos “escolinha” rindo e gostando porque nos identificamos com as
situações.
É a realidade que persiste, lamentavelmente. Outros
costumes, ao longo do tempo, foram castigados pelo humor e mudaram. A escola,
não. Todas as formas de comunicação procuraram adaptar-se aos novos tempos. Os
programas de TV, rádios, jornais, revistas de 5 anos atrás são bem diferentes
de hoje. Basta revê-los. Até a Igreja, tão ciosa de seus princípios e tão
importante quanto a escola, mudou a sua forma de comunicar-se com os que lhe
são fiéis.
A escola persiste repetindo métodos de outros tempos.
Platão, Sócrates e Aristóteles se comunicariam, de forma diferente, nos dias de
hoje. O Apóstolo Paulo certamente seria um pregador atualizado. Poucos de nós
encontramos diferenças entre as escolas de hoje e aquelas onde estudamos há 20,
30 ou 40 anos.
Teoricamente,
muito já foi dito e escrito sobre metodologia do ensino. Na prática é “faça o que eu digo e não faça o que eu
faço”. Tem sido muito mais cômodo manter o velho do que experimentar o
novo. Diz-se: “O aluno é o agente principal da aprendizagem”, mas na realidade
o aluno não tem passado de um paciente das impaciências de professores. Há, sem
dúvida, alguns que exercitam formas diferentes de comunicação na sala de aula,
mas nem sempre contam com apoio. Outros há que consideram grande avanço usar TV
e até computador na sala de aula. São avanços, sim. E a participação do aluno?
A escola continua premiando o aluno que cala e não o que fala. Calado é
sinônimo de “bem comportado”.
A escola não tem sido o lugar para o aluno expressar-se.
Ele não tem oportunidade de contribuir com conhecimentos que adquire em outros
meios. Às vezes o aluno é marginalizado dentro da própria sala de aula. A aula
não tem sido um lugar para onde se vá com prazer. Ali tem sido apenas um
número. “Cadê o 27 não veio hoje?”
Os encontros de educação ficam, quase sempre, na
discussão de assuntos periféricos. Dificilmente se discute a função verdadeira
da escola. Quase não se fala na valorização do professor, sem cuja participação
é impossível qualquer mudança.
É importante saber que vale a pena mudar e que é possível
mudar quando há decisão. É preciso exercitar a criatividade para implantar uma
escola onde o aluno aprenda a pensar, criar, participar, desenvolver o senso
crítico, exercitar a cidadania a cada momento. Enquanto isso não acontecer, a
escola continuará sendo fonte de inspiração para os humoristas. Eles estão
dando sua contribuição para melhoria da escola como já o fizeram para que
acontecesse a democracia no País. Basta que saibamos captar a mensagem que
transmitem. Os humoristas ficariam felizes em perder uma rica fonte de
inspiração, e o povo sairia ganhando.
(*) Leunam Gomes,
autor do livro PROFESSOR COM PRAZER, onde este artigo, publicado no jornal O
POVO, de Fortaleza, CE, também está inserido.
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