terça-feira, 12 de dezembro de 2017

POUCAS E BOAS - artemisiodacosta@hotmail.com - SOBRAL-CE - QUARTA-FEIRA - 13.12.17

13 de dezembro: Dia Nacional do Forró
(Dia de Luiz Gonzaga)
Já famoso, certa vez este homem se condoeu com a precária situação de um dono de circo e garantiu: “Irei me apresentar hoje aqui”. Quase não acreditando, o pobre empresário espalhou a notícia e não deu outra: casa cheia e a maior bilheteria que já viu. Ao tentar repartir o apurado, ouviu do artista: ‘Aproveite bem e compre uma empanada hoje mesmo’.

Assim era Luiz Gonzaga do Nascimento, que nasceu em Exu (PE), em 13 de dezembro de 1912, e morreu no Recife (PE), em 02 de agosto de 1989. Gonzagão esteve várias vezes fazendo show em Sobral, sendo a última no extinto Clube dos Empregados da Coelce (Cofeco), em 28 de novembro de 1987.

Por sugestão do Projeto de Lei nº 4265/2001, de autoria da deputada federal Luíza Erundina, a data do nascimento (13 de dezembro) de Luiz Gonzaga passou a ser o Dia Nacional do Forró. A Lei nº 11.176, de 06.09.2005, foi sancionada pelo então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.

Homem simples, caridoso, que adorava estar junto do povo, que priorizava e incentivava os bons costumes (respeito e obediência aos pais e mais velhos, por exemplo) e a busca da sobrevivência digna através do trabalho honesto e sob os ditames do Bem. Cantor, compositor, instrumentista, defensor do sertanejo e da música nordestina, colaborador de colegas e de iniciantes na música, alavancador do progresso de algumas cidades brasileiras e também disseminador da paz. Eis um pequeno perfil de Gonzagão, numa rápida e incompleta avaliação.

Em se tratando das suas inúmeras ações ouvem-se muitas histórias de ações de bondade por ele praticadas. Muitas denotam generosidade, humildade e também sua aspereza ou sinceridade pra dizer o que pensava. Noutras, ele deixava extravasar também seu lado brincalhão. Conheça apenas alguns desses gestos do Rei do Baião:
- Numa de suas excursões pelo Brasil, enquanto consertavam seu carro foi tomar café numa tendinha de beira de estrada. A cazefeira o reconheceu, perguntou se podia lhe dar um abraço e disse:”Agora posso morrer satisfeita, pois vi Luiz Gonzaga de pertinho”. Quando o sanfoneiro perguntou quanto pagaria pelo café a mulher respondeu que o pagamento era tê-lo conhecido. Do seu jeitão, Gonzaga arrastou um bolo de dinheiro e deu àquela cafezeira. Essa quantia foi suficiente deu para comprar várias sacas do produto e para ela ganhar um bom de dinheiro.

- Noutra ocasião, ele ouviu de um pedinte: ‘Dê-me uma ajudinha pelo amor de Deus. É melhor eu pedir que roubar, não é?’. Sem titubear, deu a esmola, mas, de sobra, também a lição de moral: ‘Oxente, cabra! Tu só sabe fazer essas duas coisas mesmo?

- Numa época em que o forró estava meio 'em baixa', Gonzagão se apresentava num show na Paraíba. Pouca gente, o povo não se empolgava, ele tocou, cantou, cantou e o público começou a gritar, pedindo que ele parasse: “Tá bom, seu Luiz! Chame o Pinto, Chame o Pinto (sanfoneiro Pinto do Acordeom)!”. Gonzagão falou para o grupo: “Para, para, para... Oi, moçada, um galo véi como eu não tá dando conta do recado, carcule um pinto!”.

- Vendo Gonzagão com os calçados sujos, o cantor Alcymar Monteiro convidou seu genial colega para engraxar os sapatos numa praça. O mestre sentou-se na cadeira do engraxate, que, cabisbaixo, fazia seu serviço sem notar o artista. Quando levantou a cabeça, olhou meio desconfiado e disse: “Muito parecido com Luiz Gonzaga”. E, com seu vozeirão, Gonzagão retrucou: “Tá bom... Antigamente, quando eu era mais novo, eu era Luiz Gonzaga. Agora, eu sou só parecido com ele”.

- Certo dia, ao chegar de madrugada em sua casa cansado, depois de um dos muitos shows, Gonzagão arriou no sofá, colocou a sanfona de lado e chamou a esposa. Ô, Helena! Traga aí minha chinela antes que comece. Minutos depois falou: Ô, Helena! Traga aí uma cervejinha gelada antes que comece. Passado pouco tempo, pediu: Ô, Helena! Faça aí um tira-gostozinho antes que comece. Já irritada, dona Helena disparou: Ô, Gonzaga! Tu chega numa hora dessas em casa e em tudo que só fala dizendo “antes que comece, antes que comece, antes que comece...”. Me diz logo, homem: Antes que comece o quê? E ele respondeu: Pronto, começou! (Gonzagão se referia à zanga da mulher)

- Numa de suas vindas a Sobral, ao passar de carro pela ponte Oto de Alencar em companhia de José Maria Soares, Ribamar Coelho e outras pessoas, teve pena das lavadeiras que trabalhavam nas areias quentes do rio Acaraú. Um dos colegas de viagem tentou amenizar: ‘Seu Luiz, daqui a pouco elas irão comer do bom e do melhor na casa do patrão’. Ele bradou: ‘Qual nada! Lá elas só entram pela porta dos fundos e saem ligeirinho, ligeirinho’.

- Também em Sobral, na hora do almoço Luiz Gonzaga foi tomar um aperitivo numa bodega que ficava próximo de onde estava hospedado na Rua Oriano Mendes e ouviu de uma das  muitas pessoas que estavam no recinto: “Ô, veio macho!" Depois do gole, o velho sanfoneiro respondeu: “Sou velho, sim, mas educado”.
Gonzagão e Gonzaguinha
E como essas existem outras centenas de histórias pitorescas que gerariam até livros sobre esse homem que fez fama no Brasil e até no exterior e ser arrdar pé de sua originalidade, de sua nordestinidade. Em todas essas ações Gonzagão ensinava, do seu modo, a se viver melhor. Era sua receita: ser sempre humilde, fiel a seus pais e às suas raízes e agir em todas as ocasiões com simplicidade e autenticidade.

Esse homem do povo, que venceu através do talento e da obstinação, viveu seus 76 anos cantando alegrias e tristezas, ajudando a amenizar o sofrimento dos menos favorecidos, lutando pela paz entre os irmãos e sempre consciente do seu dever de cidadão e de ser humano privilegiado. Dessa forma, transformou-se num belíssimo exemplo  de vida.

Obrigatoriamente o transcurso das datas do seu nascmento e da sua morte tornam-se ocasião especiais. Transformam-se em momentos para louvar a existência profícua de quem fez muito o bem e deixou o caminho traçado para quem deseja fazer o mesmo.

E hoje, mesmo passados 105 anos do seu nascimento e 28 da sua morte, milhões de brasileiros, especialmente nordestinos, e até estrangeiros, continuam relembrando Gonzagão. Mas que essa relembrança e essa reverência continuem sendo feitas da forma como o próprio Luiz Gonzaga pediu. Disse ele:

Gostaria que lembrassem que sou filho de Januário e Dona Santana. Gostaria que lembrassem muito de mim; que esse sanfoneiro amou muito seu povo, o sertão. Que decantou as aves, os animais, os padres, os cangaceiros, os retirantes. Decantou os valentes, os covardes e também o amor”. 

Obrigado, Gonzagão!

E viva o rei!

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