13
de dezembro: Dia Nacional do Forró
(Dia de Luiz Gonzaga)
Já famoso, certa vez este homem se
condoeu com a precária situação de um dono de circo e garantiu: “Irei me
apresentar hoje aqui”. Quase não acreditando, o pobre empresário espalhou a
notícia e não deu outra: casa cheia e a maior bilheteria que já viu. Ao tentar
repartir o apurado, ouviu do artista: ‘Aproveite bem e compre uma empanada hoje
mesmo’.
Assim era Luiz Gonzaga do Nascimento,
que nasceu em Exu (PE), em 13 de dezembro de 1912, e morreu no Recife (PE), em
02 de agosto de 1989. Gonzagão esteve várias vezes
fazendo show em Sobral, sendo a última no extinto Clube dos Empregados da
Coelce (Cofeco), em 28 de novembro de 1987.
Por sugestão do Projeto de Lei nº 4265/2001, de autoria da deputada federal Luíza Erundina, a data do nascimento (13 de dezembro) de Luiz Gonzaga passou a ser o Dia Nacional do Forró. A Lei nº 11.176, de 06.09.2005, foi sancionada pelo então presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva.
Homem simples, caridoso, que adorava
estar junto do povo, que priorizava e incentivava os bons costumes (respeito e
obediência aos pais e mais velhos, por exemplo) e a busca da sobrevivência
digna através do trabalho honesto e sob os ditames do Bem. Cantor, compositor,
instrumentista, defensor do sertanejo e da música nordestina, colaborador de
colegas e de iniciantes na música, alavancador do progresso de algumas cidades
brasileiras e também disseminador da paz. Eis um pequeno perfil de Gonzagão,
numa rápida e incompleta avaliação.
Em se tratando das suas inúmeras ações
ouvem-se muitas histórias de ações de bondade por ele praticadas. Muitas
denotam generosidade, humildade e também sua aspereza ou sinceridade pra dizer
o que pensava. Noutras, ele deixava extravasar também seu lado brincalhão.
Conheça apenas alguns desses gestos do Rei do Baião:
- Numa de suas
excursões pelo Brasil, enquanto consertavam seu carro foi tomar café numa tendinha
de beira de estrada. A cazefeira o reconheceu, perguntou se podia lhe dar um
abraço e disse:”Agora posso morrer satisfeita, pois vi Luiz Gonzaga de
pertinho”. Quando o sanfoneiro perguntou quanto pagaria pelo café a mulher
respondeu que o pagamento era tê-lo conhecido. Do seu jeitão, Gonzaga arrastou
um bolo de dinheiro e deu àquela cafezeira. Essa quantia foi suficiente deu
para comprar várias sacas do produto e para ela ganhar um bom de dinheiro.
- Noutra ocasião,
ele ouviu de um pedinte: ‘Dê-me uma ajudinha pelo amor de Deus. É melhor eu
pedir que roubar, não é?’. Sem titubear, deu a esmola, mas, de sobra, também a
lição de moral: ‘Oxente, cabra! Tu só sabe fazer essas duas coisas mesmo?
- Numa época em que o forró estava meio
'em baixa', Gonzagão se apresentava num show na Paraíba. Pouca gente, o povo
não se empolgava, ele tocou, cantou, cantou e o público começou a gritar,
pedindo que ele parasse: “Tá bom, seu Luiz! Chame o Pinto, Chame o Pinto
(sanfoneiro Pinto do Acordeom)!”. Gonzagão falou para o grupo: “Para, para,
para... Oi, moçada, um galo véi como eu não tá dando conta do recado, carcule
um pinto!”.
- Vendo Gonzagão com os calçados sujos,
o cantor Alcymar Monteiro convidou seu genial colega para engraxar os sapatos
numa praça. O mestre sentou-se na cadeira do engraxate, que, cabisbaixo, fazia
seu serviço sem notar o artista. Quando levantou a cabeça, olhou meio
desconfiado e disse: “Muito parecido com Luiz Gonzaga”. E, com seu vozeirão,
Gonzagão retrucou: “Tá bom... Antigamente, quando eu era mais novo, eu era Luiz
Gonzaga. Agora, eu sou só parecido com ele”.
- Certo dia, ao chegar de madrugada em
sua casa cansado, depois de um dos muitos shows, Gonzagão arriou no sofá,
colocou a sanfona de lado e chamou a esposa. Ô, Helena! Traga aí minha chinela
antes que comece. Minutos depois falou: Ô, Helena! Traga aí uma cervejinha
gelada antes que comece. Passado pouco tempo, pediu: Ô, Helena! Faça aí um
tira-gostozinho antes que comece. Já irritada, dona Helena disparou: Ô,
Gonzaga! Tu chega numa hora dessas em casa e em tudo que só fala dizendo “antes
que comece, antes que comece, antes que comece...”. Me diz logo, homem: Antes
que comece o quê? E ele respondeu: Pronto, começou! (Gonzagão se referia à
zanga da mulher)
- Numa de suas
vindas a Sobral, ao passar de carro pela ponte Oto de Alencar em companhia de
José Maria Soares, Ribamar Coelho e outras pessoas, teve pena das lavadeiras
que trabalhavam nas areias quentes do rio Acaraú. Um dos colegas de viagem
tentou amenizar: ‘Seu Luiz, daqui a pouco elas irão comer do bom e do melhor na
casa do patrão’. Ele bradou: ‘Qual nada! Lá elas só entram pela porta dos
fundos e saem ligeirinho, ligeirinho’.
- Também em
Sobral, na hora do almoço Luiz Gonzaga foi tomar um aperitivo numa bodega que
ficava próximo de onde estava hospedado na Rua Oriano Mendes e ouviu de uma
das muitas pessoas que estavam no recinto: “Ô, veio macho!" Depois
do gole, o velho sanfoneiro respondeu: “Sou velho, sim, mas educado”.
E como essas
existem outras centenas de histórias pitorescas que gerariam até livros sobre
esse homem que fez fama no Brasil e até no exterior e ser arrdar pé de sua
originalidade, de sua nordestinidade. Em todas essas ações Gonzagão ensinava,
do seu modo, a se viver melhor. Era sua receita: ser sempre humilde, fiel a
seus pais e às suas raízes e agir em todas as ocasiões com simplicidade e
autenticidade.
Esse homem do
povo, que venceu através do talento e da obstinação, viveu seus 76 anos
cantando alegrias e tristezas, ajudando a amenizar o sofrimento dos menos
favorecidos, lutando pela paz entre os irmãos e sempre consciente do seu dever
de cidadão e de ser humano privilegiado. Dessa forma, transformou-se num
belíssimo exemplo de vida.
Obrigatoriamente o
transcurso das datas do seu nascmento e da sua morte tornam-se ocasião
especiais. Transformam-se em momentos para louvar a existência profícua de quem
fez muito o bem e deixou o caminho traçado para quem deseja fazer o mesmo.
E hoje, mesmo
passados 105 anos do seu nascimento e 28 da sua morte, milhões de brasileiros,
especialmente nordestinos, e até estrangeiros, continuam relembrando Gonzagão.
Mas que essa relembrança e essa reverência continuem sendo feitas da forma como
o próprio Luiz Gonzaga pediu. Disse ele:
“Gostaria que lembrassem
que sou filho de Januário e
Dona Santana. Gostaria que lembrassem muito de mim;
que esse sanfoneiro amou muito seu povo, o sertão. Que decantou as aves, os
animais, os padres, os cangaceiros, os retirantes. Decantou os valentes, os covardes
e também o amor”.
Obrigado,
Gonzagão!
E viva o rei!
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